A cidade do Rio Janeiro passou por significativas mudanças nas duas últimas décadas, sobretudo no que se refere aos dispositivos que regulam os modos de vida de populações moradoras de favelas, os quais explicitam que o conflito na relação morro e asfalto tem sido cada vez mais entendido sob o signo da violência. Vale destacar que essas mudanças têm sido acentuadas com a preparação da cidade para os mega-eventos Copa do Mundo de Futebol e Jogos Olímpicos. Tendo em vista este cenário, o objetivo deste trabalho foi refletir, a partir de uma pesquisa etnográfica realizada na Cidade de Deus – Rio de Janeiro (uma das primeiras favelas a receber o projeto Unidade de Polícia Pacificadora – UPP), como conflitos sociais e políticos são vivenciados no cotidiano de moradores de uma favela em contexto de pacificação. Argumenta-se que, se no âmbito da produção dos discursos, as esferas da política, religião, Estado e crime podem ser antagônicos e estar em conflito, no nível das relações sociais mais capilares as fronteiras entre estas esferas são borradas. Tensionam-se, mas não são excludentes entre si, coexistindo nos cenários pesquisados.