“Um time sem brasileiro não é um time. Mas um time com 3 ou 4 jogadores brasileiros, bem, depende do perfil, mas pode não ser um ótimo time”. O notório treinador José Mourinho sintetizou assim uma opinião expressa por muitas vozes ao longo da minha pesquisa: uma mistura de admiração pelo talento e de preocupação pela rebeldia. Este artigo explora a dupla imagem dos jogadores brasileiros, abordando como, em diferentes espaços históricos e por diferentes agentes, categorias raciais e étnicas de identidade nacional e regional foram negociadas no mundo do futebol. Ao fazê-lo, ele se concentra em algumas representações particulares da população de futebolistas sul-americanos que viajam ou viajaram pela Europa para trabalhar profissionalmente para clubes globais, com base em pesquisa etnográfica realizada com futebolistas brasileiros nos últimos 20 anos. Nossas descobertas indicam que os estereótipos étnicos e raciais persistem, têm consequências econômicas quando envolvem transações comerciais e, mais seriamente, perpetuam imagens racistas que evocam o tempo da escravidão.