Cidades, territórios e estádios de futebol

Este estudo tem como objetivo compreender os códigos, signos e significados atribuídos aos estádios do Mineirão e Independência, especificamente ao uso por torcedores do Clube Atlético Mineiro que frequentaram esses espaços entre 2012 e 2014. A pesquisa teve como base a tríade lefebvriana da produção do espaço (vivido, percebido e imaginado). Durante o desenvolvimento do estudo, o espaço físico (vivido) e as invenções imaginativas do espaço (imaginado) se tornaram importantes pontos de referência, uma vez que adotamos a perspectiva integradora de Rogerio Haesbaert (2020) para compreender as multiterritorialidades urbanas. Também foi realizada uma articulação com as discussões de hibridez cultural de Néstor Garcia Canclini para refletir sobre continuidades e descontinuidades na constituição das práticas espaciais dos torcedores atleticanos. Empiricamente, nosso interesse se concentra nas últimas reformas dos estádios de Belo Horizonte para a Copa do Mundo de 2014 e nos processos de des-re-territorialização que ocorreram a partir daí. Para isso, utilizamos o Wayback Machine (Internet Archive) para recuperar as interações entre torcedores do Clube Atlético Mineiro na rede social Orkut, com o objetivo de analisar suas relações com a periferia dos estádios. Dentro do recorte metodológico, foram coletados 503 tópicos do Orkut, sendo selecionados para análise um total de 10, que juntos reuniam 1031 comentários, publicados entre 29 de dezembro de 2011 e 1º de outubro de 2014. Ao examinar o fenômeno de re-territorialização dos torcedores foi observada uma tendência a ver o Estádio Independência com certa familiaridade e aconchego, o que pode ser explicado por seu ambiente externo representar maior proximidade com aquilo que se imagina para um estádio em Minas Gerais: espaço para socialização, manutenção das tradições culinárias e menor vigilância.

Palavras-chave: produção do espaço, territorialização, desterritorialização, hibridez cultural, estádios de futebol

This study aims to understand the codes, signs, and meanings attributed to the Mineirão and Independência stadiums, specifically in their use by Clube Atlético Mineiro fans who attended these spaces between 2012 and 2014. The research was based on the Lefebvrian triad of space production (lived, perceived, and imagined). Throughout the study, the physical space (lived) and the imaginative inventions of space (imagined) became important points of reference, as we adopted the integrated perspective of Rogerio Haesbaert (2020) to understand urban multi-territorialities. An articulation was also made with Néstor Garcia Canclini’s discussions on cultural hybridity to reflect on continuities and discontinuities in the constitution of the spatial practices of Atletico Mineiro fans. Empirically, our interest focuses on the recent renovations of the stadiums in Belo Horizonte for the 2014 World Cup and the processes of de-re-territorialization that occurred thereafter. To do so, we used the Wayback Machine (Internet Archive) to retrieve interactions among Clube Atlético Mineiro fans on the social network Orkut, with the aim of analyzing their relationships with the outskirts of the stadiums. Within the methodological framework, 503 topics from Orkut were collected, and a total of 10 were selected for analysis, which together gathered 1,031 comments published between December 29, 2011, and October 1, 2014. When examining the phenomenon of re-territorialization among the fans, a tendency was observed to view the Independência Stadium with a certain familiarity and coziness, which can be explained by its external environment representing a closer resemblance to what is imagined for a stadium in Minas Gerais: a space for socialization, preservation of culinary traditions, and less surveillance.

Keywords: space production, territorialization, deterritorialization, cultural hybridity, football stadiums

INTRODUÇÃO, 12

Capítulo 1 – Produção da cidade e dos esportes, 18
Revolução Industrial e as transformações urbanas, 20
Perspectivas da territorialidade, 25
Belo Horizonte: a capital inventada e o seu planejamento, 27
Esporte e urbanização: a evolução da produção do espaço, 37

Capítulo 2 – Os esportes e sua influência na cultura urbana, 51
O ciclismo em Belo Horizonte: história da modernização mineira, 52
O turfe belo-horizontino: a construção de uma modalidade esportiva para a capital, 54
Ascensão do futebol em Belo Horizonte, 56
O futebol em Belo Horizonte, 58
Representação, apropriação e uso dos espaços urbanos, 62
A modernização dos estádios brasileiros, 70

Capítulo 3 – Metodologia, 74
Objetos empíricos, 76
Coleta de dados, 79

Capítulo 4 – O entendimento atleticano sobre seu território, 84
Espaço seguro ou de vigilância?, 85
A tradição versus o moderno, 90
Meio de transporte e a cidade imaginada, 93
O espaço vivido, percebido e imaginado pelos torcedores atleticanos, 97
Desterritorialização e re-territorialização no espaço, 99
Uso do espaço privado e conflitos com o interesse público, 101
Re-territorialização alvinegra, 103
Familiaridade atleticana com o Estádio Independência, 105
Práticas culturais e conflitos sociais em Belo Horizonte, 107

Considerações Finais, 110
Referências, 114
Anexo 1, 121
Anexo 2, 124