Ao longo do tempo, o futebol passou por inúmeras mudanças, influenciadas por diversos eventos, que alteraram a forma como o futebol é administrado e também como é vivenciado. Consequentemente, as relações entre os envolvidos com o esporte também se modificaram. Entre essas mudanças está a relação entre os torcedores e o clube. Um dos fenômenos que vem modificando esta relação é a emergência dos programas de sócio torcedor. O objetivo do presente estudo foi analisar a relação que torcedores do Clube Atlético Mineiro estabelecem com o programa de sócio torcedor do clube. Especificamente buscou-se identificar o perfil socioeconômico dos frequentadores dos jogos, a opinião que esses têm sobre o programa de sócio torcedor, as relações que os torcedores estabelecem com o referido programa e como o clube compreende a relação com sua torcida, participante ou não do seu programa de sócios. Para tanto, foram realizados levantamento bibliográfico, documental e trabalho de campo. O levantamento bibliográfico consistiu na busca de trabalhos acadêmicos que abordaram o fenômeno do sócio torcedor. Do ponto de vista documental, analisou leis, borderôs e o website do programa. O trabalho de campo consistiu na análise dos dados de 435 questionários coletados em cinco partidas do Campeonato Brasileiro de 2015, sendo que deste total 286 são sócios torcedores e 149 não são sócios. Também foram realizadas entrevistas com torcedores sócios, não sócios e um gestor do programa Galo na Veia. Após a análise, os resultados mostraram que o perfil dos sócios é composto por homens, solteiros, jovens, com nível superior de escolaridade, profissionalmente alocados no setor privado, residentes em Belo Horizonte e que utilizam veículo próprio para ir ao estádio. Identificou-se que o programa tem, de forma geral, uma aceitação significativa por parte dos torcedores, embora os mesmos tenham pouco conhecimento sobre o programa, atendo-se principalmente à questão do acesso ao estádio. Os dados também mostraram que o programa de sócio torcedor modificou a relação entre torcida e clube e configura-se como um símbolo de distinção entre os torcedores. A compreensão da relação do clube com sua torcida está orientada sob uma lógica empresarial, cujo modelo de conexão com o torcedor teve como referência o processo de mercantilização do torcer, que se estabeleceu em outros países. O processo de mercantilização do torcer acaba por limitar essa experiência a um grupo restrito, retirando aqueles que não têm condições de arcar com os valores que essa lógica impõe. Essa pesquisa também pode promover a reflexão dos gestores dos programas de sócios, para que possam mediar os interesses econômicos do clube sem a exclusão sumária dos torcedores de baixa renda.
Palavras-chave: Futebol. Torcida. Programas de sócio torcedor. Mercantilização do torcer