Depois de 60 anos de samba, carnaval e torcida organizada, uma nova forma de torcer foi criada em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Com a entrada dos primeiros bumbos platillos, vindos de Buenos Aires, torcidas cantando em espanhol e bandeiras da Argentina e Uruguai nas arquibancadas, um novo movimento se consolidou nos estádios gaúchos. A partir das mudanças na estética da cultura material, de novos estilos musicais – como a cumbia villera – e novas formas de cantar, a presente investigação tem como finalidade compreender o processo de identificação com formas de torcer das chamadas barras (2001-2011), típicas da região rio platense, e da negação de formas tradicionais das torcidas brasileiras por parte de algumas torcidas no Rio Grande do Sul. Será historicizada a criação da Geral do Grêmio, pelo Grêmio Foot Ball Porto Alegrense e da Guarda Popular, pelo Sport Club Internacional. Nosso recorte temporal compreende a criação, consolidação e o surgimento das primeiras brigas internas, quando foram criados grupos dissidentes. Para tanto, foram utilizados diversos procedimentos metodológicos a partir da História do Tempo Presente, como levantamentos historiográficos, consulta em periódicos, análise de fotografias, utilização de podcasts sobre a cultura torcedora e análise de músicas das torcidas como fonte oral. Nesse sentido, investigamos canais de torcedores organizados e canais das próprias torcidas, cujo material está disponibilizado na plataforma do youtube. Dessa forma, foi possível perceber que a criação do estilo barra no RS está vinculado a diferentes fatores, que se relacionam no processo da temporalidade, tais como a criação e ampliação dos torneios organizados pela Conmebol, o aumento das transmissões televisivas e a equipe do Grêmio inserida em jogos de todos os torneios internacionais. Além disso, destaca-se a questão geográfica, que facilitou aos torcedores gremistas com a possibilidade de viajar para os países platinos, já que, com a aprovação do Mercosul, os moradores do Cone Sul não precisavam mais utilizar passaporte para transitar entre os países, facilitando as excursões de torcedores. Do mesmo modo, a violência na sociedade da década de 1990 se refletiu nas torcidas gaúchas, as quais foram banidas e/ou criminalizadas nos estádios, deixando um vácuo nas associações torcedoras. A partir disso, iniciou-se as barras com a Geral do Grêmio e depois com a Guarda Popular. Essas torcidas reforçam o sentimento de orgulho gaúcho, buscando um pertencimento a uma comunidade imaginada da região platina, procurando uma identidade comum com esses países para se legitimar como barras, alterando a dinâmica da forma de torcer das principais equipes do estado.
Palavras- chave: Torcida organizada. Barra Brava. Formas de torcer. Região Platina.