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João Paulo Medina (parte 4)

Equipe Ludopédio 23 de dezembro de 2016

João Paulo Medina é um multiprofissional. Mestre em Educação e doutorando em Educação Física (FEF/Unicamp), foi professor da Unicamp e PUC-Campinas. Foi preparador físico e participou ativamente da estruturação e organização dos departamentos de futebol de diversos clubes brasileiros. No início da década de 90, foi assistente técnico da Seleção Brasileira de futebol e responsável pela preparação física e coordenação de planejamento da seleção da Arábia Saudita. É o idealizador e criador da Universidade do Futebol, um dos principais sites brasileiros dedicados ao universo futebolístico.

Foto: Sérgio Giglio
João Paulo Medina. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Quarta parte

Que falhas você destacaria na nossa formação de jovens atletas?

Veja bem um detalhe: aqui a gente cobra títulos desde o “sub-fraldinha”, “dentinho de leite” ou sei lá mais o que. Jogou tem que ganhar e ganhar muitas vezes a qualquer custo. Não tenho nada contra ganhar. Acho que, se você quer ser um jogador de futebol, tem que aprender o caminho da vitória. Essa é a regra do jogo, e um princípio muito reverenciado desta sociedade capitalista que vivemos. Podemos questionar isso, tanto no plano filosófico ou mesmo ideológico. Mas tentando entender de forma minimamente saudável esta realidade, temos que considerar que, para se obter vitórias sustentáveis quando se pretende construir uma carreira esportiva, há que se cumprir etapas que deveriam ser melhor definidas e obedecidas. E tem etapas em que a vitória não é o mais importante. Muita gente boa, incluindo até profissionais do esporte, não compreende este detalhe. Isso não quer dizer que você vai desprezá-la sempre. É claro que você se sente feliz quando seu filho vence alguma coisa, supera algum obstáculo, se supera e se desenvolve. Ao aprender a andar, ele cai, levanta, cai, levanta. Quando ele dá quatro ou cinco passos, você considera aquilo como uma vitória. É a mesma coisa no esporte. Quando você vai vê-lo jogar qualquer modalidade, você quer que ele ganhe. Mas isso dentro de uma visão saudável, construtiva, ensinando-o a ganhar e a perder. Esta reflexão crítica é muitas vezes deixada de lado até pelos próprios pais de crianças e jovens. Eu sempre me lembro de uma historinha que gosto de repetir quando se fala muito em competição. Certa vez, eu estava em uma mesa com um sociólogo em um evento tradicional que ocorre em Poços de Caldas, o ENAF, e ele contou uma experiência de uns antropólogos que fizeram uma pesquisa em uma tribo no Mato Grosso que nunca tinha tido contato com a civilização. Em um determinado momento, eles, como parte do projeto de pesquisa, ensinaram algumas atividades características de nossa cultura e entre elas ensinaram os índios a jogarem futebol. Ensinaram as regras básicas: a formação dos dois times, um jogando contra o outra, explicando que o objetivo máximo do jogo era fazer gols; enfim ensinaram o bê-á-bá do bê-á-bá, já que os índios não tinham referência anterior nenhuma. Os índios gostaram do jogo e pareciam se divertir muito com o seu aspecto lúdico. Entretanto, antropólogos ficaram muito impressionados e surpresos com a reação que os índios tinham na hora do gol. Quando saía um gol, fosse de um time, fosse do outro, todos os jogadores dos dois times se abraçavam comemorando o gol. Ou seja, um reconhecimento de que quando qualquer time atingia a meta de fazer o gol deveria ser celebrado por todos. Veja que interessante. E no fim somos nós que chamamos os índios de selvagens e nos consideramos civilizados…. Verdadeira ou não, costumo contar esta história porque acredito que é uma lição pra gente entender a competição na sua essência, ou seja, algo desafiador, mas sobretudo lúdico, divertido e que nos faz crescer como seres humanos e solidários, mesmo em um ambiente de competitividade. A competição, ou melhor, a busca pela vitória deve ser vista dentro de certos limites e não alimentar em demasia ou exageradamente o individualismo, o egocentrismo, o tirar vantagem em tudo e ter que vencer sob quaisquer circunstâncias. Isto serve até para o alto rendimento. Portanto, qualquer projeto pedagógico sério no esporte ou no futebol deve considerar estas dimensões pedagógico-educacionais. Esta é a minha opinião sob a melhor forma de se formar atletas e ao mesmo tempo pessoas mais saudáveis em todos os sentidos.

Parece que o futebol brasileiro assume uma posição contraditória às vezes. Tem certo destaque na América Latina, mas temos de considerar o mercado europeu, conforme você disse. Porém, parece que há um novo centro futebolístico em franca expansão, que é o futebol chinês. Como você vê a formação desse mercado que até então ninguém pensava que seria um centro que levaria muitos jogadores brasileiros como tem ocorrido ultimamente? Como fica a análise sobre o jogador brasileiro, que já não está indo tanto para a Europa, embora seja um grande centro que ele frequente, talvez não nos grandes times, mas nos menores, e cujos teoricamente melhores que estavam no Brasil estão sendo levados pela China?

Não são só jogadores (ou treinadores) brasileiros que estão sendo contratados pelos chineses. Até a Universidade do Futebol foi procurada por eles. (risos). Há uma empresa que tem a incumbência de desenvolver o futebol no âmbito escolar na China que nos contatou. Existe uma lei recente que torna obrigatória a prática do futebol nas escolas chinesas uma vez por semana. Como é sabido, o capitalismo estatal chinês faz com que as coisas sejam implementadas com muito mais velocidade, mais agilidade. Não existem os entraves comuns dos países com regimes de capitalismo mais democrático. Portanto, quando o governo chinês decide por algum projeto, corre logo atrás de sua implementação. De fato, os chineses decidiram implementar o futebol no país e de forma ampla. O próprio presidente da China, Xi Jinping, é um admirador do futebol e isto tem causado um impulso incomum à esta modalidade esportiva neste país gigante em vários sentidos. Mas além disso o que percebemos é que os chineses também enxergam o futebol como um mercado global e querem estar inseridos nele. E para isso, como fazem em tantos outros setores de atividade comercial, não poupam esforços e investimentos neste mercado. Por estes fatores todos é que possuem uma vantagem estratégica para contratar jogadores de primeira linha do Brasil. Pagam valores altíssimos, fazem propostas muito difíceis de serem recusados por qualquer profissional do futebol. Se por um lado os chineses de forma geral ainda não são tão apaixonados pelo futebol, os estímulos provocados por políticas públicas vão fazer com que eles gostem cada vez mais desse esporte no médio e no longo prazo. Por isso que digo que se o Brasil não tomar cuidado e pensar estrategicamente corremos o risco de, daqui a dez ou quinze anos, estarmos em um nível abaixo do futebol chinês em vários aspectos. Ou você tem dúvida disso? Eles estão fazendo o dever de casa, estimulando a prática e investindo em jogadores, treinadores, clubes e instituições estrangeiras que possam produzir uma cadeia produtiva virtuosa neste setor estratégico, quer em termos de negócio, quer em termos de cultura esportiva. Neste aspecto mais cultural, educacional e formativo que os chineses procuraram a Universidade do Futebol.

 

E o projeto, como anda?

Querem que façamos um projeto de capacitação dos professores. Afinal, quem vai dar aula de futebol para milhões e milhões de crianças espalhadas pela China? Tem que ter uma metodologia. Eles querem um plano para capacitarem os formadores, os professores, os treinadores das crianças e jovens. Estamos conversando. Já temos uma viagem marcada para a China que deve ocorrer muito em breve. Queremos conhecer um pouco melhor a cultura esportiva chinesa e como poderemos implementar o futebol de forma segura e consistente. Para isso é importante partir daquilo que as crianças e adolescentes já fazem, como por exemplo, as suas brincadeiras, seus jogos infantis, enfim, suas atividades lúdicas. Não basta traduzir os nossos cursos para o mandarim. Os chineses estão interessados em aprender a “escola brasileira de futebol”. Veja ainda temos este conceito e prestígio, pelo menos com os chineses. Esta é uma grande riqueza cultural e esportiva que temos e estamos, aos poucos jogando fora. Os europeus, por exemplo, estão cada vez menos interessados na maneira brasileira de jogar futebol, pois eles em vários aspectos já jogam melhor do que a gente. Somos nós é que temos que ver como eles fazem…. É duro, é triste constatar isto, mas é real. Precisamos despertar e nos mobilizarmos para resgatar o jogo bonito (e eficaz) do brasileiro. Temos potencial e plenas condições para isso no longo prazo. Podemos ter um futebol muito melhor não só praticado em nosso país, como para exportá-lo de forma mais compatível com as novas demandas e exigências do mercado mundial.

Você já falou um pouco do movimento Bom Senso F.C. e que contou com uma participação da Universidade do Futebol, muito mais por uma questão ideológica. Mas você participou da criação do Bom Senso F.C.? Como foi esse processo? O que está por trás desse movimento?

Eu e o Eduardo Tega (sócio na Universidade do Futebol) tínhamos um contato próximo com o Paulo André Benini – um dos grandes líderes do Bom Senso F.C. – mesmo antes do movimento se iniciar. Ele é de Campinas e um jogador de futebol de uma formação intelectual e cultural diferenciada. O Paulo André jogou também na Europa, na França, e sempre foi muito ligado à cultura, à arte. A gente acabou se conhecendo e começamos a discutir um pouco sobre futebol, sobre o Brasil, os atletas, a alienação e desengajamento político deles. Tivemos um contato bastante informal durante algum tempo.

Na verdade, a origem do Bom Senso F.C. se deu a partir de um episódio ocorrido no final de um jogo entre Internacional e Coritiba no segundo semestre de 2013 pelo Campeonato Brasileiro. Os atletas Juan, D’Alessandro, ambos jogando no Inter, e o Alex, capitão do Coritiba, começaram a conversar depois daquele jogo sobre alguns problemas que os jogadores vinham enfrentando, principalmente os relacionados ao calendário do futebol brasileiro. Na sequência, eles conversaram com o Paulo André e tiveram a ideia de criar um movimento que chamaram de Bom Senso Futebol Clube. Lembro-me que na época cheguei a participar de uma enquete em um pequeno grupo para se escolher o nome do movimento. Em seguida fui convidado, juntamente com o Eduardo Tega, para uma primeira reunião em São Paulo, contando com a presença de uns 20 jogadores de diversos clubes da Série A. A reunião ocorreu na Agência do publicitário Washington Olivetto que cedeu uma sala para os atletas e algumas pessoas que deram apoio e suporte ao movimento.

Como disse a pouco, o motivo inicial que mais chamou a atenção do D’Alessandro, do Juan e do Alex foi o calendário desumano do futebol brasileiro, com suas incoerências e sem um mínimo de bom senso. Com a participação de Paulo André e outros jogadores, líderes em seus clubes, as conversas começaram a ter um caráter mais politizado, embora sem qualquer conotação ou vínculo partidários. Concluíram: já que os dirigentes não fazem nada mesmo, era preciso que os jogadores, os grandes atores e ao mesmo tempo vítimas destas incoerências assumissem a responsabilidade de tentar fazer algo para mudar esta realidade. Era preciso revelar e combater este lado perverso do futebol brasileiro protagonizado por um calendário irracional, altamente exigente e que nitidamente baixava a qualidade do espetáculo. Isto estava muito claro para todos os jogadores. Eles relatavam que não conseguiam dar conta da sequência de jogos, tendo que fazer viagens de 3, 4, 5 mil km e com dois jogos na semana. Praticamente, o jogador só viaja e joga, e o treinador não treina. Eu até brinco que o treinador de time grande no Brasil, com esse calendário, é mais palestrante do que treinador. Ele faz mais palestras – “Vamos lá, a gente tem que se superar” etc. – do que dá treino aos seus jogadores, já que eles passam mais tempo em aeroportos, aviões e salas de fisioterapia para se recuperarem do cansaço do que no campo de treinamento para se aperfeiçoarem.

Após as primeiras reuniões, o Bom Senso FC começou a se organizar e levantou duas bandeiras principais: uma ligada ao calendário, e outra ao fair-play financeiro que mais tarde redundou até em mudanças na legislação (Lei conhecida como ProFut), prevendo-se punição aos dirigentes que não cumprissem os compromissos financeiros assumidos com atletas e funcionários dos clubes.

Após alguns levantamentos e pesquisas coordenadas pela Universidade do Futebol, concluiu-se que os times grandes jogavam demais e os clubes pequenos, dentro de um universo de 600 a 700 clubes profissionais existentes no Brasil, jogavam apenas três ou quatro meses durante os campeonatos estaduais, no início do ano, seguido de um período longo de inatividade. Depois dos estaduais, muitos jogadores têm outra profissão imposta por essa realidade: viram pedreiros, mecânicos ou exercem outra atividade para poderem jogar mais três ou quatro meses no ano seguinte. Estas investigações, acrescidas de depoimentos de outros jogadores que atuam em clubes menos expressivos – os chamados “boias-frias” do futebol – fizeram com que os atletas de elite (líderes do movimento) acolhessem também as reivindicações destes atletas sem voz e sem representatividade. A partir daí o Bom Senso se fortaleceu como movimento político de reivindicação por melhorias no futebol brasileiro.

Quando o Bom Senso assumiu com mais força este papel político, de protestos e reivindicações, o embate com o setor mais tradicional e conversador do futebol e da própria sociedade de forma mais ampliada se tornou mais explícito. Até hoje ainda se enxerga o Bom Senso F.C. com muito preconceito. Que se trata de um grupo de elite, onde os seus jogadores ganham 300, 400 mil reais por mês e reclamam de jogar duas vezes por semana. Já ouvi frases como: “Por que estes jogadores chorões não vão trabalhar na lavoura e ver o que é trabalho de verdade”. Essas falas caem num campo de disputa ideológico, de interesses específicos dos diferentes grupos que atuam e se beneficiam do futebol que é pouco debatido e pouco compreendido. E podemos dizer que não é bem entendido até mesmo por muitos atletas. De qualquer modo, acredito que o Bom Senso FC representa o movimento mais expressivo feito por jogadores de toda a história do futebol brasileiro. O que tínhamos antes do Bom Senso eram dois episódios: um isolado, feito pelo jogador Afonsinho, que se rebelou contra o status quo do futebol brasileiro; e depois a experiência do movimento da chamada “Democracia Corintiana”, liderada pelo Sócrates e que teve desdobramentos no movimento de democratização do país. A “Democracia Corintiana” saiu para além dos muros do clube, mas em termos de uma mudança na estrutura do futebol em si ela foi muito menos impactante do que o Bom Senso F.C., que fez esse questionamento em relação ao papel do jogador de futebol. Por isso penso que este foi e é um movimento importante na história política do futebol brasileiro.

O Bom Senso F.C. sempre lutou e enfrentou muitas dificuldades. O movimento seria inviável se não houvesse o apoio de algumas instituições, alguns jornalistas mais abertos e críticos e pessoas que entendessem essa mensagem, pois o jogador ainda hoje não tem liberdade. Se de um lado ele se libertou a partir da Lei Pelé em relação ao passe e vínculo praticamente vitalício ao clube, do outro ele ainda não tem liberdade de falar o que pensa. Por fazer um gesto de protesto antes ou durante uma partida, os jogadores sofrem pressões enormes das instituições, da CBF, das federações, dos clubes. O movimento tem que atuar nesse meio bastante hostil, quase inviável, para poder buscar as conquistas que os atletas de futebol pleiteiam. É um movimento muito difícil de sobreviver. Eu diria até que só se tornou possível graças à tecnologia da informação. Foi por meio dos recursos das redes sociais que permitiram que os atletas pudessem conversar entre si. Fazer reunião presencial foi possível apenas esporadicamente. Em três anos eu diria que ocorreram umas sete ou oito reuniões presenciais. É inviável porque nenhum clube dispensa jogador para participar de uma reunião do Bom Senso F.C. Pelo contrário, ele é coibido, proibido, direta ou veladamente a fazer isso. Jogador que faz parte do movimento explicitamente é discriminado. O próprio Paulo André é um exemplo disso. Ele foi praticamente expulso do Corinthians, que é o berço da democracia no futebol brasileiro. É um paradoxo, mas foi mais ou menos o que aconteceu.

O papel da Universidade do Futebol nisso tudo foi o de dar respaldo, dar informações sobre o calendário na Europa e no Brasil, comparar e fazer com que os atletas refletissem sobre um tema que diz diretamente a eles e a qualidade do futebol brasileiro que se pratica hoje. Alertar sobre o que isso representa, o que pode causar lesões e/ou queda do rendimento esportivo, quer quando o atleta joga demais, quer quando o jogador joga de menos. São questões que dizem respeito ao rendimento esportivo, mas também à sua própria sobrevivência como profissional, de elite ou não. A gente sabe que, para uma pessoa se aperfeiçoar numa atividade qualquer tem que ter horas e horas de prática. Alguns falam até de um número mágico de 10 mil horas de prática para estar realmente apto para fazer em excelência um trabalho em qualquer área: literária, artística, da dança, do esporte…. Foram esses elementos que procuramos municiar os atletas para eles que pudessem ter mais argumentos na defesa daquilo por qual eles lutam.

 

A tecnologia, é claro, facilita a comunicação rápida entre qualquer pessoa. Um número pequeno de reuniões presenciais dificulta em alguma medida essa argumentação dos jogadores? Eu vou explicar a pergunta. Em 2013, teve uma fala do Bom Senso F.C. na Uninove. O Rogério Ceni foi um dos que falou que não fazia política. O Alex, se não me engano, chegou a dizer a mesma coisa. Em meu entendimento, penso: se o movimento não é político, ele é o quê, então? Quem assumiu certo protagonismo em algum momento talvez não tenha, por inúmeros motivos, tão claro o que é o próprio movimento. Eu fiquei um pouco com essa sensação. O que você tem a dizer sobre isso?

Não tenho qualquer dúvida de que se trata de um movimento político. No entanto, alguns líderes do Bom Senso F.C. negam isso na medida em que eles entendem que política é ter uma inserção partidária. Os atletas, realmente, têm essas contradições, esses paradoxos (aliás isto está inserido na sociedade, de forma geral e não cabe aqui discutir isso neste momento). O Bom Senso FC é movimento político, à medida que procurou representar o anseio não apenas de uma categoria profissional, pois isto é competência legal de um Sindicato. O BSFC nunca se colocou como um Sindicato, embora muitos tenham feito esta alusão. O movimento sempre procurou representar o desejo de toda uma coletividade que quer o melhor para o futebol brasileiro. Tanto que o seu lema é: “Bom Senso F.C., por um futebol melhor para quem joga, para quem torce para quem transmite, para quem patrocina, para quem apita.”

Mas os jogadores, líderes do movimento, têm mesmo diferentes vieses. Em determinados momentos, são perceptíveis essas contradições refletidas na fala dos próprios atletas. Isso, de forma alguma, invalida o movimento. Ele adquiriu tal visibilidade, encontrou tal eco na mídia que às vezes as pessoas têm uma impressão de que é um movimento super coeso, organicamente bem constituído, mas não é. Dentro das fragilidades todas, possui uma estrutura que consegue se manter, ter voz e ir administrando seus próprios conflitos internos. Penso que isso tem que ser visto com muita naturalidade. Se fosse diferente, a sociedade brasileira não estaria no estágio que está. Essa fragilidade expressa um pouco o caminho que percorremos ao longo dos últimos dos 500 anos de nossa história. Isso não tira a importância do movimento que considero o mais importante da história do futebol brasileiro em termos de um posicionamento político de um grupo heterogêneo, frágil, que dificilmente encontra espaços para se expressar livremente. Não é parte do discurso de um jogador de futebol assumir-se como alguém que tem uma posição política ou ideológica. O contrário é o mais comum. Muitos fazem questão de dizer que não gostam de política. É preciso compreender estes limites. Todos nós temos nossos pontos fortes e fracos. Nossos conhecimentos e nossos desconhecimentos. Nossas virtudes e defeitos. Todos nós temos uma consciência ou percepção ampliada sobre determinados assuntos ou aspectos da vida. O jogador de futebol tem as suas características, as suas limitações e também as suas sabedorias específicas. Nas Universidades, na academia, por exemplo, encontramos muita gente que tem títulos de mestre, doutor, pós-doutor e não sei mais o quê e que são conhecidos e reconhecidos pelo seu alto saber, mas que em alguns temas são quase analfabetos funcionais. Desculpe-me a franqueza, mas é o que constato no meu relacionamento com a academia. Então, precisamos rever a nossa percepção sobre o que é ser um jogador de futebol no Brasil.

 

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