Eusébio morreu! Nos dias que se seguiram à sua morte os comentários e reações sucederam-se a um ritmo tão contagiante como foi o seu futebol. A comunicação social quase que em exclusivo produziu conteúdos sobre o tema. Recuperaram- -se imagens do jogador, apresentaram-se testemunhos de diversas figuras públicas, na maioria ex-colegas, jogadores no ativo, políticos, artistas e muitas pessoas anónimas que expressavam a sua emoção. Considerando o excecional desempenho futebolístico pelo SL Benfica e pela Seleção Nacional, que o converteu num herói desportivo, não é surpresa a comoção que a sua morte suscitou. Contudo, este é um herói inusitado: africano negro, nascido numa sociedade colonial e discriminatória, chega a Lisboa e converte-se numa das mais populares figuras da sociedade portuguesa num período de guerra colonial. E esta condição de herói mantém uma perenidade que se estende até à hora da sua morte. As mensagens de condolências entretanto produzidas também fazem a exaltação do jogador, das suas qualidades humanas e desportivas, da sua importância social, da sua portugalidade e dimensão mundial. Este texto identifica, através dessas mensagens de condolências, pronunciadas quando da morte de Eusébio, as representações que sobre ele foram produzidas, tomando como hipótese que, no momento da sua morte, as mensagens de pesar reproduziram as narrativas que sobre o jogador foram produzidas ao longo dos anos, como se tivesse havido uma cristalização da sua representação simbólica desde os anos 60.
Palavras-chave: Eusébio, herói, narrativa, biografia, futebol.