15.5

Ronaldo Moraes

Equipe Ludopédio 19 de agosto de 2016

O lateral-direito Ronaldo Moraes foi revelado nas categorias de base do Corinthians, clube onde iniciou sua carreira profissional em 1982, sendo bicampeão paulista em 1982 e 1983. Em 1985, transferiu-se para o Grêmio e foi campeão gaúcho. Depois do Grêmio, Ronaldo Moraes jogou no futebol paranaense, defendeu equipes do Chile e retornou ao futebol paulista no final dos anos 80 para jogar no Santo André. Em 1990, atuou no Botafogo de Ribeirão Preto. Em 1984, disputou os Jogos Olímpicos de 1984, de Los Angeles, pela Seleção Brasileira, quando recebeu a medalha de prata. Após encerrar a carreira, atuou como treinador de categorias de base em clubes de São Paulo.

 

Ronaldo Moraes. Foto: Ludopédio.
Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.

 

Primeira parte

O que é ser um atleta olímpico?

Eu acho que acima de tudo o fato de você ter sido escolhido entre vários jogadores já é motivo de orgulho, ainda mais você estar defendendo o seu país em uma convocação vestindo a camisa amarela. Além disso, depois da experiência em que eu tive defendendo uma Olimpíada, o orgulho de você estar participando junto com a nata do atletismo mundial, e todos os atletas do mundo, os melhores estão ali e são escolhidos realmente com muita precisão. Mesmo sendo um esporte coletivo eu tive esse privilégio. Eu acho que a palavra maior seria uma honra, honra por ter participado de uma Olimpíada.

O que você se recorda dessa edição Olímpica que participou em 1984? O que foi aquele ano para você em particular?

Eu fiquei muito contente quando recebi a convocação. Na época eu estava no Corinthians, em uma fase de afirmação, eu acho que quando você é convocado para uma seleção a olímpica ou a principal já é uma segurança, uma garantia que te dá: “poxa eu estou fazendo um trabalho legal”, isso foi o principal. Durante a competição nós nos preocupávamos muito em treinar, fazer o melhor dentro do que o treinador queria e durante os jogos dobrar essa atenção para fazer o melhor individualmente porque assim o grupo iria crescer. Acho que foi isso que conseguimos, chegamos até a final com um grupo que era desacreditado, somando todos os detalhes, ganhamos uma medalha, acho que foi feito um trabalho de uma maneira muito positiva.

Naquele momento havia pré-olímpico, vocês chegaram a disputar algo, como foi o processo para chegar aos jogos olímpicos?

Teve um pré-olímpico sim, mas não me recordo o caminho todo até chegar na convocação. Pelo que me recordo, já que faz alguns anos, parece que a CBF estava fazendo algumas convocações do time olímpico, da seleção olímpica, e não estavam obtendo bons resultados, estavam perdendo alguns amistosos. A CBF resolveu levar a melhor equipe do Brasil, o Internacional de Porto Alegre, ela queria levar os melhores jogadores da melhor equipe do país, não havia como levar cem por cento, mas levou a base do time. A base dessa seleção foi o Internacional, apenas seis jogadores não faziam parte do Inter, eu e mais cinco. Nós já nos entrosamos rapidinho, nós jogadores de futebol temos uma facilidade para se integrar e, consequentemente, entramos na competição normal. Porém, não consigo me recordar a questão do pré-olímpico, acho que até teve, mas não me recordo.

Você não participou?

Não participei. Como eu disse, essa seleção foi convocada já na última hora e por decisão da CBF, por ser a melhor equipe do campeonato brasileiro. Não era uma equipe que tinha disputado o pré-olímpico, campeã do pré-olímpico, aquela que tinha se classificado, foi uma equipe convocada de última hora, por isso que foi uma seleção desacreditada. Mesmo assim conseguimos chegar na final.

Você se recorda quais jogadores convocados que jogavam fora do Internacional?

Sim, claro que me recordo. Eram só seis, fica fácil de recordar. Eu que estava no Corinthians; o Tonho do Grêmio de Porto Alegre, que até estava emprestado ao Aimoré do Rio Grande do Sul; o Luiz Henrique, que era o goleiro reserva que era da Ponte Preta; o Chicão também da Ponte, que era um centroavante; do Flamengo foi o Gilmar Popoca, que marcou o gol contra a Itália na semifinal e o Davi que era o zagueiro do Santos. Se a gente pensar tinha somente a Ponte que tinha dois jogadores, e depois quatro jogadores de times diferentes. Tinha uma base bem pequena, a base grande mesmo foi a do Internacional que tinha uns 20 jogadores convocados, ou algo assim, a base realmente é do Inter. Tanto é que, no time titular tínhamos somente eu na lateral direita, a linha de defesa era do Internacional, o goleiro era o Gilmar Rinaldi, também do Inter, o meio de campo era composto pelo Dunga e o Ademir, os dois do Inter, o meia esquerda era o Gilmar Popoca, o Tonho era o ponta direita, depois tinha o Chicão e o Kita que se revezavam, o Chicão da Ponte. Os titulares realmente absolutos que não jogavam no Internacional era eu e o Gilmar Popoca, tinham dois só, na equipe titular que não eram do Internacional. A base realmente era do Inter.

E o treinador quem foi?

O treinador era o Jair Picerni, que na época estava no Corinthians, e a comissão técnica era dele também, o preparador físico era o Pardal que trabalhava com ele no Corinthians. Para mim na época foi uma surpresa, o treinador só levou um jogador do Corinthians. Mas não é problema meu, eu fui convocado e fiquei muito feliz.

Mas isso gerou alguma coisa no Corinthians?

Não, não gerou. Até eu vi uma coisa interessante há algum tem atrás, tem uma história de atletas olímpicos e eu nem sabia disso. Acho que fui o único atleta do Corinthians na época, acho que depois vieram as outras Olimpíadas, mas na época eu era o único jogador que tinha ganho uma medalha na Olimpíada, um ex-jogador do Corinthians a ter ganho uma medalha. Depois teve o Zé Elias, depois teve as outras Olimpíadas, mas até lá eu era o único. Só complementando, acho que eu sou o único jogador do Corinthians que fez um gol nas Olimpíadas.

Ronaldo Moraes. Foto: Ludopédio.
Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.

Vocês ficaram na Vila Olímpica? Como foi essa chegada à Los Angeles? Como foi que aconteceu o treinamento antes de chagar na competição propriamente dita? Você se recorda dele?

Me recordo de algumas coisas. Antes fizemos uma preparação aqui no Brasil, lá no Rio de Janeiro, na Granja Comary, treinamos muito pouco, uns dois, três dias. Depois fomos para Vitória do Espírito Santo, onde ficamos pouco também, passamos por Porto Alegre, e também ficamos pouco. Fomos para Los Angeles e ficamos na faculdade, na UCL, foi até interessante, já que lá tinha os locais para o treinamento, mas para o futebol não tinha muito, não havia um campo, nós até saíamos da Vila Olímpica para treinar em alguns campos fora. O alojamento era constituído por predinhos, nosso prédio era baixinho, um ou dois andares, e era perto dos outros também. Estava perto do vôlei, tanto é que nós nos encontrávamos para bater papo, essa integração que a Vila e a Olimpíada oferece é essencial, isso não tem na Copa do Mundo, na Copa é um aqui, o outro lá, não há uma mistura. Na Olimpíada você ter essa experiência de poder tomar um café da manhã ou almoçar com outros atletas é impagável.

Acompanhando a cobertura da imprensa esportiva, discutindo o porquê de o futebol começar antes até mesmo da abertura, e uma fala do comentarista esportivo foi que o futebol é um esporte que está deslocado dessas práticas olímpicas, que ele nãos e integra, isso é uma leitura de 2016. Na Olimpíada em que você participou, teve integração entre os atletas do futebol com as demais modalidades? Ela realmente acontecia?

Sim, como eu disse nós ficamos na UCLA, e o nosso prédio estava aqui e o do vôlei que tínhamos mais contado, estava bem perto. Acho que naquele ano o vôlei ganhou medalha de prata, a primeira deles. Eu me lembro bem, tinha um rapaz jovem chamado Renan, jogava muito bem e era titular também, estávamos sempre juntos batendo um papo, conversando. De que maneira? Nós andávamos uns 50, 100 metros e já estávamos no prédio deles, além de sempre cruzar um com os outros nas refeições. Me parece que hoje já não existe mais isso, a seleção fica em um lugar, um hotel e outra seleção em outro lugar, não há mais essa proximidade com os atletas em si, não existe isso. Por exemplo, eu não fui na abertura que foi aconteceu no Memorial de Los Angeles, eu estava com o tornozelo machucado, então fiquei me recuperando para a estreia. Depois vi pela televisão todos os atletas juntos no estádio, juntos mesmo em um só lugar, isso foi maravilhoso, Eu acho que talvez o futebol, não sei se participa acho que sim da abertura, aí é o momento que eles vão estar juntos, depois não, pois cada um fica em um lugar e a essência acaba se perdendo. Eu lembro, acho que até contei no Museu do Futebol, eu estava almoçando um dia com o jogador de basquete da China, a cabeça dele era uma coisa absurda, ele era enorme, era o jogador mais alto das Olimpíadas. E ele estava do meu lado, ele abaixava e a tijelinha ficava pequena para aquela cabeça daquele tamanho. São coisas que acabam nos marcando, essas situações, essas experiências, acho que hoje em dia esses jogadores não irão ter, íamos na sala de jogos e os outros atletas lá jogando, podia até ter alguém muito famoso, mas como eu só estava ficado no futebol não conhecia ninguém. Imagine se eu tivesse um uma Olimpíada hoje em dia, vendo o Usain Bolt do meu lado dá até vontade de falar: “corre um pouco, só para vermos se é rápido mesmo”. Acho que essa oportunidade hoje eles não têm, quando isso acontece perde essa essência de Olimpíada, fica na minha opinião como uma Copa do Mundo, na Copa os jogadores ficam fechados, o Brasil aqui, a Alemanha do outro lado, a Holanda lá mais pra lá, só se vê dentro de campo mesmo, na hora de jogar, na hora de ganhar ou perder.

Em 1984 acontecia o que está acontecendo agora? O futebol com várias cidades como sedes, vai ter jogo em São Paulo, no Rio, em Manaus, em Salvador, em Brasília. Vocês ficavam concentrados em Los Angeles para todos os jogos ou também ocorreu de jogar em outras cidades as partidas?

Ocorreu sim, eu me lembro que saímos de Los Angeles para jogar em São Francisco, na segunda fase, em Pasadena também. Fomos em outras cidades jogar, e acho que jogamos a fase final lá em São Francisco, não me recordo, mas primeiro fomos para Los Angeles, São Francisco e Pasadena na final.

Conta para a gente como foi a estreia de uma equipe com a base de um clube do Brasil disputando uma competição internacional, que é diferente de disputar um Campeonato Brasileiro ou os campeonatos locais. Como foi a estreia contra a Arábia Saudita, o que você se recorda?

A principal coisa em que eu me recordo era o individualismo, eu estava sendo muito individual naquele momento, porque eu estava em fase de afirmação, era uma oportunidade que eu tinha para me tornar o titular dentro de um time formado e entrosado, dentro de uma linha de quatro e uma defesa, eu era o único que não era do Internacional. Eu pensava nisso também, eu tinha uma responsabilidade maior, tinha que ter um rendimento acima do esperado, afinal era o único que estava ali diferente, nessa defesa formada pelo Inter. Isso me dava um reforço para pensar bem, me focar, começar bem no jogo, eu sempre tive a preocupação de iniciar bem o jogo, pois você ganha confiança, e fica mais tranquilo durante a partida. Outra coisa era a responsabilidade de usar a camisa verde e amarela, representar o Brasil em uma competição era uma responsabilidade muito grande, eu estava muito focado na questão do meu rendimento, eu sabia que se eu treinasse bem, e jogasse bem, eu estaria ajudando todo mundo, além de estar me afirmando também. Isso foi o principal para mim, eu não percebia o que tinha em relação ao grupo todo, eu não sabia se tinha essa afirmação “nós somos o time do Internacional”, nós não comentávamos isso. O que lembro era que estávamos focados em começar bem, em ganhar e em passar por fases, foi o que nós conseguimos.

Para essa primeira partida, para a estreia vocês discutiam com o grupo, com o próprio Picerni, ele colocava isso para vocês: “vocês querem chegar onde?”. Nós sabemos que isso ocorre em várias equipes, “querem chegar nas semifinais, na final, voltar com uma medalha ou nós somos um franco atirador, o que conseguirmos tudo bem, se sairmos na primeira fase não tem problema”. Isso era dialogado com o grupo?

Nós comentávamos que já que estávamos ali desacreditados era um motivo de maior motivação para continuar até a final. Vocês não acreditam na gente, agora vão ver, criticaram que nós não vamos chegar, agora faríamos de tudo para chegar na final, e mostrar que temos condições de garantir uma medalha. Acho que isso era o principal, não me lembro do Jair Picerni dizer assim: “vamos jogo por jogo, fase por fase até chegar na final”. O que me lembro era que estávamos focados em chegar até a final. Nós tínhamos muita motivação para isso, era um grupo novo, a base do Internacional por mais que estivesse jogando o Campeonato Brasileiro, era uma base jovem em sua maioria, nós tínhamos alguns que tinham alguma idade, mas era uma minoria. Essa juventude do time era uma motivação para todos.

Passada a estreia com uma vitória 3 x 1 sobre a Arábia Saudita vocês encontram a Alemanha, provavelmente a partida mais difícil do grupo, e vocês ganham por 1 x 0. O que você se lembra dessa partida?

O grupo se eu não me engano tinha a Arábia, a Alemanha e o Marrocos, que era a seleção mais fraca. Eu não me lembro de detalhes, mas nós sabíamos que seria a seleção mais forte do grupo para se enfrentar, tanto é que foi um jogo muito difícil de se jogar. Mas não me lembro de outros detalhes, de haver uma preparação especial para essa partida. Faz muito tempo, nós vamos nos esquecendo dos detalhes, porém eu lembro que nós sabíamos que era um time mais forte, portanto, tínhamos que estar mais concentrados para conseguir um bom resultado e foi o que aconteceu.

E para a terceira partida contra o Marrocos, depois de duas vitórias, a equipe permanece a mesma, há alguma alteração, algum teste que o Jair Picerni irá fazer?

A equipe do início da competição até o final se manteve praticamente a mesma, com uma única mudança que foi entre o Chicão e o Kita. O Kita era o centroavante do Internacional e o Chicão da Ponte Preta, e os dois ficaram se revezando, somente nessa posição, não teve mais nenhuma alteração.

Ronaldo Moraes. Foto: Ludopédio.
Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.

Vocês avançam de fase, termina a primeira fase e naquela edição vocês iriam enfrentar o Canadá nas quartas de final. Uma partida mata a mata, perdeu está fora, e o Canadá não tem uma tradição futebolística, mas é uma partida que provavelmente tenha marcado pela dificuldade que foi o jogo, vocês vão para os pênaltis. Como que foi esse processo de estudar o adversário?

Eu não me recordo de ter tido algum relaxamento por acreditar que o Canadá seria mais fácil que a Alemanha, por exemplo. Eu me recordo de ter sido um jogo duro, muito difícil, porque na minha visão eles eram tecnicamente inferiores, e eram realmente. Sobressaiam na força, na vontade e na disposição, acho que foram nesses pontos que começou a complicar para a gente. Eles estavam marcando muito, de que maneira? Estavam muito compactados e correndo muito também, a técnica eles não tinham, a nossa era melhor, porém eles compensaram isso na força. Tanto que conseguiram alcançar o objetivo, que era chegar aos pênaltis.

Você chega a cobrar alguma penalidade?

Não, eu não bati. Eu não era daqueles que treinavam pênaltis para bater. Em alguns clubes eu cheguei a bater, mas na seleção não. Eu não lembro quem treinava para bater, tinha alguns, mas eu não estava entre eles. Às vezes eles colocavam todos para treinar as batidas, mas na hora nunca me escolhiam e eu não tinha problema nenhum com isso, se quisessem me colocar também podiam, eu não era daqueles que temiam bater um pênalti.

Aquela imprensa que você disse no começo que não acreditava no potencial de vocês, chegava alguma notícia do Brasil ou dessa imprensa que estava nos Estados Unidos falando a respeito disso? A imprensa muda o discurso em algum momento? 

Nós não percebemos nada, mesmo porque as coisas naquela época eram diferentes de hoje em dia, se fosse hoje com a internet seria fácil ler todas as matérias. Nós não tínhamos esse acesso, era muito limitado, não havia esse feedback.

E os jornalistas entravam em contado com vocês?

No jogo e na coletiva de imprensa. Os treinamentos eram bem fechados, tinha até mesmo a questão da segurança já que estava bem no meio da Guerra Fria.

Mas a imprensa estava presente?

Sim, estava presente. Principalmente no campo depois dos jogos, nas coletivas, nos treinamentos não, porque estávamos bem retirados.

Vocês perceberam diferenças nas abordagens da imprensa? Olha o grupo tal, do jornal tal, da revista x, eles têm leituras diferentes, eles comentam coisas diferentes, distintas sobre a seleção olímpica? Ou isso não era marcante?

Não tinha isso. O contato com a imprensa era muito pequeno e sempre era feito depois dos jogos na coletiva, eu até participei de uma no jogo contra a Itália, já que tinha feito o gol. Era muito fechado mesmo, acho que a imprensa não tinha muito acesso mesmo, acho também que na época não teve muita divulgação do evento. Primeiro porque os jogos passavam muito tarde aqui no Brasil, e segundo porque a imprensa não acompanhava muito.

Na semifinal, no jogo contra a Itália, a imprensa aqui no Brasil vai fazer esse diálogo de toda essa rivalidade, puxando a Copa do Mundo de 82, no sentido de será que vamos repetir o que aconteceu no Sarriá. E vem essa partida contra os italianos, será que isso aparece para vocês também? Essa rivalidade, a retomada da derrota do Sarriá, se ela vai ser vivenciada pelo grupo, se ela vai afetar de alguma maneira vocês?

Lembro que até chegamos a comentar, porque era uma coisa normal, estava muito recente essa derrota em 82, então, muito recente só dois anos. Com certeza para a maioria daqueles jogadores olímpicos a seleção de 82 enchia os olhos da gente, como até hoje para quem vê os jogos, e agora quem vai pegar a Itália somos nós. Normal nós sabíamos que era como uma revanche para muita gente, mas para nós só havia o foco de parar e pensar: “não, vamos fazer a nossa parte aqui e deixar o emocional sair do exagero senão vai complicar o nosso jogo”. Focamos realmente em jogar, em fazer o melhor sem desespero e saímos com a vitória.

Você faz o gol da vitória? Como que foi essa experiência?

Eu faço o segundo gol na prorrogação, no primeiro tempo da prorrogação. Acho que de todos os 10 gols na minha carreira esse foi o mais importante. É até interessante que os dois jogadores que não eram do Internacional, eu e o Gilmar Popoca, fizeram os gols daquela partida. O Popoca fez o primeiro, a Itália empatou. Já na prorrogação, uns sete ou oito minutos do primeiro tempo, eu fiz o segundo. Naquela época eu sempre gostei de apoiar muito, sempre apoiava bastante e eu só fiz o segundo gol por dois motivos: o primeiro porque eu ainda estava apoiando, e acho muito legal, sem falsa modéstia, o cara está em uma prorrogação jogando contra a Itália em uma semifinal olímpica, e está indo para o ataque, isso que era personalidade, eu tinha mesmo, não estava nem aí; o outro motivo foi que o Tonho, o cara que eu tinha feito a jogada, foi cruzar e errou o cruzamento, a bola bateu no Oscar e saiu curtinha. Se ele acertasse o cruzamento talvez não tivesse saído o gol e o jogo poderia ter outro caminho, outro resultado. Vê como são as coisas do futebol, ele erra o cruzamento e o gol sai, e eu só fiz porque eu tomava a iniciativa de ir para o ataque e o Gilmar errou o cruzamento. Eu até brinco, eu que dei a medalha de prata para o Brasil, mentira, eu não jogo sozinho é claro, é um jogo coletivo.

Encerrada a partida, você ser chamado para entrar, como é que foi isso?

Para mim aquilo tinha sido o auge, eu sabia do momento que vivíamos, nós acabamos de ganhar com um gol meu, me senti importante. O meu objetivo era a afirmação mesmo, já que estava no Corinthians na época, ganhei a posição de titular, mas todo jogo eu tinha que mostrar estar jogando bem em todas partidas. Naquela época tinham laterais direitos e 10 pontas esquerdas que eram um absurdo de qualidade, e tínhamos que demonstrar que eramos os melhores, chego e faço um gol na seleção olímpica, foi incrível. Foram chamados para a entrevista coletiva eu, o Jair Picerni, o Pinga. Foi um motivo de orgulho.

Você disse que precisava demonstrar a sua capacidade, seu empenho no campo, mas e depois desse gol? Houve alguma alteração concreta dentro da seleção ou no clube, ele se concretizou de alguma forma?

Não, na verdade não. Eu tive um retrocesso. Eu voltei da seleção pensando “que legal, agora vou me fixar aqui no Corinthians e vou almejar a seleção principal”, o jogador precisa ter essa autoconfiança, eu tenho qualidade, tenho condições de ir para a seleção principal e eu vou batalhar por isso, eu estava com essa motivação. Só que quando eu cheguei no Corinthians eles contrataram o Édson, lateral direito, que também era muito bom, veio da Ponte Preta, jogava muito. Até hoje brincamos, nós trabalhamos juntos no São Bernardo, “Ronaldo, eu cheguei lá gastando uma nota, a diretoria queria que eles me colocassem, mas você estava bem para caramba”. Eu não me recordo se me machuquei, se em algum jogo eu não fui bem, enfim colocaram o Édson para jogar, e ele jogava muito bem, ficando como titular. Aconteceu que o Corinthians quis contratar o Hugo de León, uruguaio que jogava no Grêmio na época, perguntaram se eu queria fazer essa troca, eu disse que sim, já que o Grêmio era um time grande e eu seria o titular sem tanta pressão de diretoria, de ser jogador da casa, isso tem e é normal. Só que quando eu cheguei no Grêmio, eu estava com um problema no ombro, eu o tinha descolado no Corinthians, em um treinamento e novamente em um jogo a noite, ficou um problema crônico, só que eu não sabia e o Corinthians eu também acredito que não. Fui para o Grêmio jogar, comecei a treinar, e meu ombro deslocando, era treino, era jogo e meu ombro deslocado, chegou um momento que eu não tinha mais condições psicológicas de jogar, porque o jogador vinha jogando perto de mim, eu já ficava com medo, inseguro pelo meu ombro, já que a dor era terrível. E até hoje, eu operei e ainda desloca, são as lembranças que eu lembro do futebol, o médico mesmo me disse: “o ombro é isso, isso e isso, você vai fazer fortalecimento muscular, você vai operar, e quando você menos espera ele vai deslocar”, isso lá atrás, hoje com novas técnicas pode ser que nem desloque mais. O meu já deslocou de espirrar, imagine! Eu tive que operar o ombro, operei e fiquei quatro meses parado, mas foi logo quando eu cheguei no Grêmio e isso me deu uma freada. Muito bem, eu recuperei o ombro, voltei a jogar, recuperei a confiança e nós fomos para a Europa fazer um amistoso com o Grêmio, consegui de volta a minha posição de titular, mas não na lateral direita e sim na esquerda, ganhei a posição na Europa. Jogamos várias partidas, inclusive contra o Barcelona, em Maiorca, contra o Bayer de Munique, e eu na lateral esquerda como titular, voltei para o Brasil e o segundo jogo do Campeonato Gaúcho, voltando para a posição, eu estourei o joelho de uma maneira muito forte. Eu tive uma lesão muito séria no joelho, teve até um amigo de Santa Izabel, que me mostrou uma manchete da Gazeta Esportiva que dizia: “Ronaldo, do Grêmio, não joga mais futebol por conta de uma lesão séria”. Isso foi uma ducha de água fria, foram sete meses para eu me recuperar, e me recuperei muito bem, tanto é que o meu melhor joelho é o que teve a lesão séria. Depois de anos até alguns jogadores foram me procurar em Londrina para me perguntar quem é que tinha me operado, porque a minha recuperação foi muito boa, eu ainda estava jogando muita bola. Essas duas lesões que aconteceram no Grêmio, para mim e para a minha carreira foi um retrocesso. O Grêmio me emprestou para o Santo André, onde fui muito bem, até fui convocado para a seleção paulista (eu, Leão e o Oscar). Me recuperei bem e só quando eu ia renovar o contrato, o Santo André comprou o meu passe, me falaram: “olha Ronaldo nós só vamos te pagar isso, já que não sabemos se você está bem recuperado”. Depois disso eu comprei o meu passe do Santo André, e aluguei o meu passe aqui e acolá, o meu final de carreira foi no Chile e depois parei.

 

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