Introdução: Durante suas carreiras profissionais, atletas de futebol dependem de ótima condição física e corporal para a boa performance. Objetivo: Avaliar o impacto da aposentadoria do esporte na percepção de corpo e na alimentação de ex-atletas de futebol. Participantes e métodos: Trata-se de uma pesquisa de natureza quali-quantitativa, transversal. Participaram 09 ex-atletas profissionais do futebol brasileiro, homens, maiores de 18 anos, cuja aposentadoria do esporte profissional ocorreu há pelo menos 2 e não mais que 15 anos. Para a identificação e recrutamento dos participantes foi adotada a técnica bola de neve e como instrumento de coleta de dados foi realizada entrevista semiestruturada com perguntas norteadoras e de sondagem, realizadas virtualmente. As entrevistas foram gravadas em áudio e depois transcritas na íntegra para a realização da análise de conteúdo. Os participantes foram indagados sobre sua percepção de imagem corporal atual e desejada, a partir do uso de escala de silhuetas e responderam ao questionário Critério Brasil 2020. Resultados: A análise de conteúdo gerou três núcleos temáticos. No núcleo “Trajetória no esporte: do ingresso à aposentadoria” identificou-se que a maioria dos participantes iniciou a trajetória no futebol na infância/adolescência. Todos os participantes passaram por vários times de nível local, nacional e internacional, variando de 2 a 17 times ao longo da carreira e nos clubes de elite sofriam maior pressão para a manutenção da massa e gordura corporal. Quanto à aposentadoria, cinco participantes encerraram a carreira aos 35 anos de idade, um aposentou-se com 37 anos e outros três encerraram a carreira mais precocemente (antes dos 30 anos). No núcleo “Aposentadoria: impactos e desdobramentos” identificou-se que para a maioria (6/9), a aposentadoria se deu pela falta de boas propostas para jogar e para 3/9 pelo aparecimento de lesões. Os sentimentos quanto à esta etapa foram heterogêneos e todos se mostraram satisfeitos com o que o futebol os ofereceu, mas apenas 3/9 se mantiveram no futebol, atuando na área técnica. No núcleo “Corpo e Comer” metade dos participantes relatou mudanças na alimentação, evidenciando que a dieta seguida durante a vida no esporte era rica em alimentos fonte de carboidratos. Importa evidenciar que nenhum dos ex-atletas relatou ter passado por restrição alimentar durante a carreira e apenas 4/9 utilizou suplemento, entretanto, não especificou o tipo ou motivo. Ademais, todos afirmaram que não praticam atividade física com a mesma regularidade que mantinham quando atletas profissionais. A maioria (7/9) aumentou a massa corporal em relação à quando eram atletas, desses, 4/9 apresentam IMC classificado como sobrepeso. Apenas 3/9 se sentem satisfeitos com seu corpo atual, o que foi corroborado na autoavaliação com as silhuetas. Ainda, de acordo com os participantes, durante a carreira praticar atividade física regularmente, inserir alimentos ricos em carboidratos e ter um bom condicionamento físico eram fatores importantes para a vida como atletas de auto desempenho. Sobre a percepção corporal dos participantes, metade se identificou com silhuetas cujo IMC correspondente se afasta de seus IMCs reais indicando distorção na sua percepção. A maioria justifica a atual massa corporal pela falta de acompanhamento profissional para os cuidados relativos à alimentação e abandono da prática de atividade física regular, realidade diferente da época em que eram atletas. Conclusão: Evidenciou-se que a escolha pela aposentadoria foi determinada por consequências que se sobrepuseram ao desejo de permanecer no futebol, resultando em sentimentos de frustação e no anseio para reorganizar a vida profissional fora dos campos. A rotina de treinos e o acompanhamento nutricional não foram mantidos o que resultou no ganho substancial de massa corporal de alguns participantes. A maioria não se sente satisfeita com o corpo atual, apresentando distorção da percepção da própria silhueta.
Palavraschaves: Insatisfação Corporal; Aparência Física; Nutrição Esportiva; Comportamento Alimentar.