#15 Observatório da Discriminação Racial no Futebol
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JULIA BELAS
Cada vez mais pessoas tem prestado atenção e se posicionado. Não consigo mais ficar calada.
Existe um conceito chamado interseccionalidade, você não tem como falar apenas sobre racismo sem considerar mulheres negras, LGBT, trans… Não tem como abordar racismo sem abordar essas outras vozes que não são ouvidas. Pras mulheres fica ainda mais restrito, porque ganham menos, têm menos espaço na mídia e precisam aproveitar pra manter a carreira delas.Você pode até falar sobre as dificuldades, como é ser mulher, como é ser mãe, quando vai racializar ainda é difícil, porque as pessoas não se posicionam tanto… Essa pluralidade que ainda não é vista…
Tá crescendo, mas também na hora de avançar.
É um debate que demorou tanto para ser feito, que eu não consigo enxergar após a pandemia como isso vai conseguir ser abafado. Talvez seja um pouco otimista da minha parte, porque são anos e anos abafando o assunto, mas não consigo enxergar as pessoas se calando. É um bom pensamento pro futuro.
Você não consegue pensar em racismo, sem pensar na mulher negra.
MARCIO CHAGAS
Tinha ambição de chegar ao quadro da Fifa, mas não consegui. Nem vejo isso como derrota. O futebol tem suas particularidades. A sua política.
No terceiro episódio que passei de racismo, em 2014, ouvi xingamentos por quatro vezes, antes de começar a partida, no fim do primeiro tempo, no intervalo e ainda ao encerrar a partida. “Negro”, “Macaco”, “Ladrão”, “Volta pra Selva”, “Volta pra África”… E o pior: “Matar negro não é crime, é adubar a terra”. Eu estive acompanhado em todo o momento pela Brigada Militar, que não fez absolutamente nada. Quer dizer, quem deveria me dar segurança e proteção estava compactuando com todo aquele crime. O que estamos fazendo aqui é resistência. Falando de um assunto que os clubes não querer abordar, que dizem que é chato, não precisa. Porque não é interessante politizar o ambiente. Quem está na esfera de poder é politizado e não quer que a parte mais baixa da pirâmide participe. O que mais se vê nos clubes é movimento político por conselhos e cargos. Como política e futebol não se misturam? Misturam, sim. Temos de ter força para potencializar esse assunto nesse momento para que continue depois. O que mais falta no futebol é a mentalidade coletiva. Ficamos nesse discurso do preto vencedor.
O que é de uma crueldade tremenda. Só conta os louros. Dos casamentos, não dos divórcios. A CBF é oportunista. Em cima de alguns casos, compra e banca uma propaganda midiática, mas não tem um trabalho efetivo de combate. O Marcelo nunca foi abordado pra falar sobre o trabalho que realiza. A CBF não tem interesse em combater. É outra entidade que adota um discurso da meritocracia. Sabe quantos árbitros negros no Brasil tem apitando?
O futebol brasileiro adota um discurso de democracia racial e até de alienação. Não colabora quase em nada para a consciência racial. Até me surpreendeu alguns brasileiros que jogam no exterior. Parece que temos de importar o debate. Os jogadores poderiam contribuir de maneira efetiva, não só com faixa e camiseta.
MARCEL TONINI
As pessoas sempre me perguntam se o racismo aumentou [por conta da divulgação dos dados e do aumento de casos registrados pelo Observatório], mas eu entendo que estão é tendo mais visibilidade, inclusive com contribuição da imprensa. Não significa que não existiam casos de racismo. Existiam, mas hoje temos um outro olhar sobre esses dados. Temos de transformar essa ação em vontade coletiva. Por que não manter essa luta constante?
MARCELO CARVALHO
A gente consegue ver uma mudança, mas a maioria das manifestações são peça de marketing. Elas têm uma importância porque mostram quem tem coragem de se manifestar.
Num segundo momento, vamos querer que tenham um posicionamento mais contundente. Por isso nasceu a última campanha: “poderia ser eu”. Para que tivessem um posicionamento um pouco mais forte. Nasce com a ideia de falar do genocídio da população negra.
Que a cada 23 min morre um negro no Brasil. Isso é subir um pouco o tom.