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Muito além das taças

Resgate do “jogo bonito” e sem medo de ser o que é. O Fluminense de 2023 vai muito além da conquista da América.

Fernando Diniz
Fernando Diniz no mundial de clubes da FIFA. Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC.

O ano do torcedor tricolor pode ter acabado com um gosto um pouco amargo com a goleada sofrida para o Manchester City, na final da Copa do Mundo de Clubes. Porém, o ano de 2023 ficará marcado para sempre na memória como um dos melhores anos, senão o melhor ano da história do clube. Todavia, além dos canecos levantados, o ano do Fluminense vai ficar marcado principalmente pelo fato do clube com seu estilo muito autoral de jogar, ter levado o nome da instituição para outros lugares no Mundo. 

Eu sempre costumo a dizer que futebol vai muito além de taças, e isso eu tenho como um valor que carrego e que me faz ser ainda mais apaixonado por esse esporte. Claro, até um tempo atrás era fácil falar tal frase, visto que o Fluminense vivia uma seca de titulos, desde 2012. Porém, eu mantenho e reforço essa frase: O futebol vai muito além de taças levantadas. 

Muito além de taças

“Para mim, o futebol não é o fim das coisas. O futebol é um meio para que a vida seja melhor”. 

A frase máxima do técnico Fernando Diniz traduz muito bem isso. Muito além das conquistas da América e do bicampeonato Estadual, a recuperação de jogadores é um grande marco do Fluminense de Diniz, e isso se personifica em John Kenedy. O menino dito como problemático que ganhou uma segunda chance do treinador tricolor e virou o herói da conquista da Glória Eterna, sendo decisivo em todas as fases eliminatórias, das oitavas a grande final. 

Se fora do campo um futebol mais humano é a marca do trabalho de Fernando Diniz no Fluminense, dentro dele o “caos total” é a grande característica do trabalho de Diniz. O jogo chamado de “aposicional” não só levou o tricolor das Laranjeiras a sua maior conquista, foi além. Leva o nome do clube para outros lugares o mundo, pelo fato do time tricolor práticar uma maneira de se jogar futebol que chama a atenção. Uma forma de se jogar que remete aos tempos gloriosos da seleção brasileira e do futebol brasileiro, como disse Pep Guardiola antes da final do Mundial de Clubes:

“Eu amo! Eu amo a construção, eu amo como eles trocam passes entre eles, o respeito o tempo todo com a bola. Eu amo isso… Enorme respeito pela maneira e essência do futebol brasileiro. Quando eu era um garotinho, até mesmo na adolescência, ouvia do meu pai e pelas pessoas a maneira como o Brasil teve sucesso, com todas as gerações anteriores. A maneira de jogar com muitos passes, devagar, muitas combinações… Dificilmente eram desarmardos no um contra um, no terço final, muita rapidez…” 

A resposta de Pep Guardiola ao jornalista Fred Caldeira da TNT Sports é interessante, porque é uma ótima análise do time do Fluminense feita por um dos maiores técnicos de todos os tempos, que traz luz a esse resgate de se jogar futebol no Brasil, e como o trabalho de Diniz recupera essa cultura futbolística. 

Fernando Diniz e Guardiola
O duelo de estilos: de um lado Fernando Diniz, do Fluminense, e do outro Guardiola, do Manchester City. Foto: Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC.

Após a final contra o Manchester City e a goleada sofrida por 4 a 0, boa parte da imprensa críticou Diniz pelo seu “execesso” de coragem ao verem que o Fluminense não mudou sua forma de jogar perante a um adversário muito mais forte. Alegando que o tricolor deveria ter se fechado na defesa e esperado uma oportunidade de sair em contra-ataque. Mas estes que falam e falaram isso, mostram que ainda não entenderam o trabalho de Fernando Dinz. 

Jogar de tal maneira que foi aconselhada pela grande imprensa esportiva não só garantiria uma vitória ao Fluminense como fugiria MUITO do que é esse Fluminense de Fernando Diniz. Pois, não se trata apenas de coragem e de vencer, se trata principalmente de respeito e amor ao jogo. E mesmo sendo Fluminense, o time conseguiu pelo menos 15 minutos tirar a bola do campeão europeu e incomodar o time de Guardiola. E quem falou isso foi próprio técnico espanhol:

“Nessse momento nós vencemos, mas consigo imaginar perfeitamente o que teria acontecido se o Fluminense tivesse marcado primeiro. Nesse tipo de jogadores de qualidade incrível, quando você é capaz de sair em vantagem e fica um pouco maluco na pressão, você fica um pouco ansioso com a pressão, eles te destroem com passes curtos, com a velocidade após terem a bola. Principalmente quando o John Kennedy entrou no segundo tempo. Eu sou um grandíssímo fã da forma que eles jogam. Tivemos sorte de abrir o placar, e o segundo gol veio do nada, e depois foi fácil no final, mas o que mais me impressiona é fato de que quando tomam o gol no primeiro minuto, o que é um grande baque, a forma que eles reagiram foi jogando melhor. isso mostra a personalidade incrível que eles têm e mostraram hoje, como o Fernando Diniz convence seus jogadores, não importa as circustâncias do jogo, como eles continuam fazendo o que precisa ser feito.”

Amor ao jogo acima de tudo. Talvez seja assim que eu definiria o Fluminense de Fernando Diniz em 2023 e também o que foi em 2022. Muito além das vitórias e das taças levantadas. O Fluminense mostra que tem uma identidade de jogo que dela não abre mão em nenhuma ocasião. Vai enfrentar o Volta Redonda e o Manchester City jogando da mesma maneira e isso dá um baita orgulho para o torcedor tricolor. 

Um clube que carrega em seu nome o Football Club e que honra o esporte o qual foi um dos primeiros clubes a praticá-lo no Brasil. Viva o Fluminense, viva Fernado Diniz e o jogo aposicional! 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Daniel Morales

Estudante de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ Faculdade de Formação de Professores (UERJ/FFP). O amor pelo Fluminense, futebol e América Latina se transformou em pesquisas acadêmicas que possuem foco na relação entre o futebol, sociedade e política, com o objetivo de analisar como esse esporte se reflete na sociedade.

Como citar

MORALES, Daniel. Muito além das taças. Ludopédio, São Paulo, v. 175, n. 2, 2024.
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