.

Declínio do futebol brasileiro gera dúvidas para o futuro

Leila Amorim 4 de julho de 2024
Foto de Pixabay: https://www.pexels.com/pt-br/foto/jogador-de-futebol-chutando-bola-de-futebol-cinza-branco-no-campo-de-grama-verde-50713/

O futebol brasileiro conquistou o mundo e transformou o esporte bretão em arte. Ao longo de décadas, os melhores jogadores do planeta nasciam e se desenvolviam em milhares de campinhos espalhados pelo país. Foi assim que a “amarelinha” conquistou cinco Copas do Mundo e virou o time do “jogo bonito”. A situação atual, porém, é muito diferente – e não por acaso as melhores casas de apostas 2024 já não colocam o Brasil como favorito nas disputas que participa.

Desde 2006, quando o Brasil ainda conseguiu reunir muitos craques no time que foi à Copa – embora a performance tenha sido ruim –, a seleção nunca mais foi capaz de produzir o mesmo efeito nos rivais. Naquele Mundial, o time que tinha Kaká, Ronaldinho, Adriano, Ronaldo, entre tantos outros, dava medo nos adversários e era o grande favorito ao título.

Nas Copas seguintes esse favoritismo foi caindo, e o Brasil passou a acumular vexames, sendo o 7 a 1 o símbolo máximo da queda do Império Brasileiro. As eliminações posteriores para a Bélgica e a Croácia seriam a pá de cal no que restara de nossa grandeza futebolistica.

Some-se aos maus resultados da seleção o fato de que, desde 2007, nenhum jogador brasileiro conseguiu vencer o prêmio de melhor do mundo. Assim, chegamos à inevitável constatação: não somos mais os mesmos.

Causas do declínio brasileiro

Bem, em primeiro lugar é preciso ter em mente que tudo na vida é mutável. O próprio futebol é assim: a Hungria já foi temida pelos adversários, assim como o Uruguai costumava empilhar títulos. Por outro lado, há algumas décadas, França e Espanha eram apenas seleções medianas.

Mas por que o Brasil deixou de ser uma seleção diferente das demais? Com a abertura do mercado europeu, pouco a pouco, os jogadores sul-americanos passaram a migrar para o Velho Continente. Inicialmente, iam apenas os excepcionais – depois o número foi aumentando.

Ainda assim, a grande maioria só ia para a Europa após ter atuado durante muitos anos no futebol brasileiro. Ou seja, o DNA do nosso futebol estava mantido nesses jogadores.

Muito diferente é o cenário atual, quando os jogadores vão cada vez mais cedo para o mercado europeu. Dessa forma, acabam sendo formados por lá. E eles fazem a maior parte de sua carreira (ou toda ela) no Velho Continente, de modo que, se restasse algum resquício de “brasilidade” neles, isso acabaria por se dissolver ao longo do tempo.

Por isso mesmo, o futebol brasileiro está nivelado com o dos países europeus. Qual a diferença que existe, hoje, entre o Brasil e a Bélgica? Os jogadores de ambos os países atuam praticamente nos mesmos times e são formados com a mesma mentalidade.

Não à toa eles estão no mesmo nível, como a Copa de 2018 comprovou. Não há mais uma diferença fundamental entre as duas seleções – um eventual confronto acaba sendo decidido por uma ou outra individualidade ou em função de um trabalho coletivo melhor.

Falta de campinhos e de improviso

Antes, como já vimos, os jogadores brasileiros eram formados por aqui, com a mentalidade nacional. A habilidade e a técnica eram muito mais enaltecidas do que a disposição física e a disciplina tática – não que estas últimas não sejam importantes.

Nos campinhos espalhados pelo país, as crianças aprendiam desde cedo a brincar de cruzamento, a bater faltas (quantos especialistas tínhamos!), testavam dribles novos e estavam sempre improvisando.

Mas o mundo mudou, e a maioria desses campinhos já não existe mais. Com isso, os jogadores acabam tendo toda a sua formação de futebol na base dos clubes – e a mentalidade ali já é aquela que visa o mercado profissional, em que a força física e a discilplina tática acabam sendo mais importantes.

Além disso, há no Brasil uma “cultura de resultados” no futebol de base. Em vez de estarem preocupados em lapidar joias, os treinadores – com honrosas exceções – querem levantar taças.

Inevitavelmente, eles acabam privilegiando jovens fisicamente mais desenvolvidos, que sejam mais rápidos, mais fortes, do que jogadores mais técnicos, cerebrais, que ainda precisam de uma evolução física.

Técnicos defasados

De todo modo, se nossos jogadores deixaram de estar acima dos demais, como costumava acontecer, também não se pode dizer que estão abaixo.

Basta olhar o elenco atual da seleção brasileira: Vini Jr., Rodrygo, Éder Militão, Marquinhos, Alisson, entre outros. É de encher os olhos? Certamente não, mas todos atuam nos principais clubes europeus e os dois primeiros têm sido protagonistas no multicampeão Real Madrid.

Ou seja, já não somos os melhores, mas estamos nivelados com os principais países europeus. Em tese, temos possibilidades de jogar de igual para igual contra qualquer adversário – mas a verdade é que em um ponto estamos bastante atrasados: o comando.

Os treinadores brasileiros, não é de hoje, estão muito atrás dos europeus e até dos outros sul-americanos. A CBF, que mirou em Carlo Ancelotti, acabou acertando em Fernando Diniz e Dorival Júnior.

Se antes o talento dos jogadores brasileiros fazia a diferença, hoje é preciso uma somatória de fatores para que a seleção tenha sucesso – e, em um futebol cada vez mais tático, nenhum elemento pode ser ignorado.

Será que um dia voltaremos a formar jogadores essencialmente brasileiros? Teremos treinadores de ponta, como já tivemos algum dia? Nosso futebol já não é sombra do que foi, mas sempre é possível voltar às origens e recomeçar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Como citar

AMORIM, Leila. Declínio do futebol brasileiro gera dúvidas para o futuro. Ludopédio, São Paulo, , 2024.
Leia também:
  • 181.21

    Como estão as instalações construídas para os Jogos Olímpicos desde 1896?

    Vaughan Cruickshank, Tom Hartley
  • 181.20

    Considerações finais da pesquisa (parte 1): Os clubes sociais como caminho de categorização para a preservação do futebol varzeano

    Alberto Luiz dos Santos, Aira F. Bonfim, Enrico Spaggiari
  • 181.19

    O futebol e a cidade: centenário esportivo no sertão da Paraíba

    Rodrigo Wanderley de Sousa-Cruz