From doubters to believers: o fim da era Klopp em Liverpool
“O futebol é um grande ritual pedagógico da alma coletiva. Através dos jogadores, da bola, da vitória e, mais ainda, da derrota, cada torcedor vivencia de forma simbólica e altamente emocional uma maneira criativa de cultivar, educar e guiar as suas emoções.” (BYINGTON, 2019).
Jurgen Norbert Klopp encerrou sua era vitoriosa pelo maior clube inglês.
O alemão entrega um Liverpool totalmente diferente daquele que aceitou comandar. Depois de uma gestão desastrosa de Tom Hicks e George Gillet, a FSG assume a gestão da equipe em 2010 com o seguinte objetivo: devolver o Liverpool ao lugar que ele merece e fazer com que times e torcedores andassem juntos novamente¹.
A reestruturação da equipe começa neste ponto, assim como o período de sucesso de Jurgen Klopp, ainda na Alemanha. No Liverpool, Kenny Dalglish ou “King Kenny” assume a equipe em 2010, sendo substituído por Brendan Rodgers, que comandou a equipe até 2014. Neste momento, Klopp levou o Borussia Dortmund a um campeonato alemão e a um vice campeonato na UEFA Champions League.
Em 15/16, após o final da passagem de Brendan Rodgers, Jurgen Klopp assume o Liverpool com uma missão: “from doubters to believers”.(De céticos à fiéis).
Klopp em 15/16 já chegou em uma final europeia, perdendo para o bicho papão da Europa League – o Sevilla. Depois de destruir o principal rival em fases anteriores da competição, o Manchester United, onde apesar do empate no Old Trafford (conhecido como Teatro dos Sonhos) em 1-1, os comandados de Jurgen Klopp venceram por 2-0 em Anfield.
Chegou em três finais europeias pela Champions League e contou com o azar em duas – na primeira, uma possível concussão do goleiro alemão Karius alinhada com a contusão do Salah, que é o maior expoente do time, adiou o sonho do título europeu. Na segunda, ele se deparou com a maior atuação da história de um goleiro em uma final continental, vendo novamente, o Real Madrid ser campeão.
Mas ganhou em 18/19 quando talvez ninguém esperava. O 4-0 contra o Barcelona em Anfield, particularmente dizendo, é o maior jogo da história. Perder 3-0 para o Barcelona de Lionel Messi no Camp Nou, perder dois dos seus principais jogadores no período (Firmino e Salah estavam foram do jogo) e precisou contar com o maior talismã da história do futebol internacional: Anfield.
O estádio construído em 1884, inicialmente era do rival da cidade, o Everton. 7 anos depois, em 1891, o “novato” Liverpool jogaria ali pela primeira vez e faria do estádio uma das maiores simbologias do futebol internacional. Ao longo dos anos, diversas figuras do futebol sinalizaram a diferença da atmosfera no local e a descrição universal do estádio é de que a atmosfera é única.
E sim, o Anfield se tornou sede de viradas que podem ser consideradas improváveis no futebol, o 4-0 é a maior exemplo desse talismã. Mas outros momentos emblemáticos da história do estádio merecem o mesmo destaque, como o 4-3 contra o Borussia Dortmund (ex-clube de Jurgen Klopp) na UEFA Europa League em 2016, atualmente o 4-3 em cima do Fulham após estar perdendo por 3-2 até os 87 minutos ou no 4-3 contra o Tottenham, que em si, nem foi uma virada, mas uma representação de como torcida e time caminham juntos.
E digo que é o maior jogo da história mesmo podendo presenciar jogos monumentais de outras equipes: o Milagre de Istambul, protagonizado pelo mesmo Liverpool, só que de Rafael Benítez, ou a virada do Barcelona em cima do PSG depois de perder por quatro gols no primeiro jogo e até a Internazionale de José Mourinho que segurou o Barcelona e sagrou-se campeã da UCL em seguida. Emocionalmente, todos nós temos uma paixão e temos um momento que consolida esse sentimento, particularmente, este foi o meu.
Mas Klopp só não conseguiu mais porque esbarrou em muitas coisas. Na Premier League, ele esbarrou em Pep Guardiola e proporcionou as disputas mais emocionantes da última década. Que torcedor do Liverpool não segurou as lágrimas quando o Aston Villa comandado por Gerrard e Coutinho abriu 2-0 e depois levou a virada? Relato que eu, como torcedora, achei ironia do destino Steven Gerrard (talvez o maior ídolo da história do LFC) e o reconhecido como traidor (por abandonar uma das possíveis maiores idolatrias moderno que o futebol poderia vivenciar) Phillipe Coutinho, que financiou a era vencedora de Klopp na Premier League em uma venda milionária para o Barcelona me deixou bastante dividida, protagonizarem uma quase troféu para a equipe de Liverpool.
Jurgen esbarrou na pandemia que o impediu de comemorar o fim de uma fila de 30 anos e talvez o maior título de sua história: a Premier League. Porém, a galeria de troféus pelo clube inglês só aumentou: entre os anos de Klopp na equipe, o Liverpool conquistou Copa da Inglaterra, Copa da Liga Inglesa (2x), Supercopa da Europa, o Mundial de Clubes e a Community Shield (algo parecido com a Supercopa do Brasil).
Klopp sai com um feito muito maior que esse: o de restaurar o Liverpool e transformar uma equipe de sonhadores em uma das equipes mais emblemáticas da década. Reconhecer jogadores em times médios do cenário europeu e os transformar em grandes símbolos da equipe, como o caso de Salah, Van Dijk, Robertson e tantos outros e promover os jovens para seguirem os passos de idolatria, sendo o principal exemplo, Trent Alexander-Arnold.
O Liverpool de Klopp também passou por diversos momentos difíceis, afinal, as adversidades são recorrentes nos esportes e na vida. As lesões de jogadores importantes, as saídas não programadas de diversos jogadores e de pessoas do staff e da comissão técnica do treinador alemão e por fim, a saída do próprio Jurgen Klopp.
Porém, resta uma lição importante para os que ficarem no clube. Em uma cidade historicamente alinhada com a esquerda, fica claro que o importante para a equipe é colocar seus torcedores em primeiro lugar.
Bibliografia:
BYINGTON, Carlos Amadeu B. Futebol: a grande paixão do povo brasileiro. Um estudo da Psicologia Simbólica Junguiana. Junguiana 37.1 (2019): 231-240.
GOAL.COM. The definitive timeline: How Hicks and Gillett took Liverpool from Champions League finalists to relegation strugglers: controversial tycoons’ turbulent kop years. Controversial tycoons’ turbulent Kop years. 2010. GOAL.com. Disponível em: https://www.goal.com/en/news/the-definitive-timeline-how-hicks-and-gillett-took-liverpool/blt829ddf0d34dc27d6. Acesso em: 20 maio 2024.
GUIDE, The Stadium. Anfield. 2024. The Stadium Guide. Disponível em: https://www.stadiumguide.com/anfield/. Acesso em: 20 maio 2024.
KOP, Rousing The. Rousing The Kop: owners. Owners. 2024. Rousing The Kop. Disponível em: https://www.rousingthekop.com/club/owners/. Acesso em: 20 maio 2024.
NOVIS, Felipe. Klopp, Liverpool e comunismo: qual a relação dos três (sim, existe uma)?: tal qual a cidade de liverpool e o clube de mesmo nome, jürgen klopp também se identifica com os ideais socialistas. Tal qual a cidade de Liverpool e o clube de mesmo nome, Jürgen Klopp também se identifica com os ideais socialistas. 2024. Trivela. Disponível em: https://trivela.com.br/inglaterra/klopp-liverpool-comunismo/#. Acesso em: 20 maio 2024.
SEAR, Jack. Mourinho, Ferguson, Guardiola & more – 23 quotes on Anfield’s “unique” atmosphere: even some of liverpool⠹s fiercest rivals can⠹t help but admit their admiration for the unrivalled atmosphere that can be generated inside anfield.. Even some of Liverpool’s fiercest rivals can’t help but admit their admiration for the unrivalled atmosphere that can be generated inside Anfield.. 2022. This is Anfield. Disponível em: https://www.thisisanfield.com/2022/08/guardiola-fergie-klopp-more-23-quotes-about-anfields-atmosphere-liverpool-fans/. Acesso em: 20 maio 2024.
¹ Tom Hicks e George Gillet foram donos do Liverpool de 2007 à 2010. O período foi marcado por protestos da torcida e do treinador, Rafa Benítez, com a política de contratação do clube. No final da passagem da dupla, o Liverpool contava com uma dívida de 200 milhões de libras e estava na zona de rebaixamento da Premier League. A FSG, grupo comandado por John Henry adquiriu a equipe por 300 milhões de libras, em 2010.
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