Acaba a Copa de 2002. Brasil pentacampeão e sobre os ombros de Scolari uma enorme pressão para continuar à frente da seleção, a qual assumira um ano antes. Optou por não continuar.
Começa 2003 e Felipão assume a seleção portuguesa. Nenhum xingamento ou questionamento por parte dos brasileiros. Pelo contrário, rolou até torcida para que conquistasse a Eurocopa, em 2004, e que conseguisse passar à final da Copa do Mundo de 2006.
Nesse período, o bigodudo – que jamais foi chamado de traidor – convenceu Deco e Pepe a defenderem a seleção portuguesa. Dois brasileiros, assim como centenas, vestindo a camisa de outra seleção. Sob orientação/pedido do treinador. Os dois jogadores, diga-se, nunca foram questionados por terem aceitado.
![Luiz Felipe Scolari quando era técnico da seleção portuguesa. Foto: Antônio Milena - Agência Brasil.](/userfiles/3fde3dd9a3940 - Cópia.jpg)
Aí pulamos para 2013 e de repente vemos a imprensa brasileira dizendo que Diego Costa, “o artilheiro do Campeonato Espanhol, à frente de Cristiano Ronaldo e Messi, pode defender a seleção espanhola”. O assunto fica cada vez mais repetitivo e, de certa forma, começa uma pressão em cima de Felipão.
Se ele não convoca e o cara joga pela Espanha, a culpa cairia sobre ele. Sem dúvidas. O que fazer então? Convoca o cara às pressas, mesmo fora do período, para afirmar o desejo de tê-lo. Isso na teoria. Na prática, o desejo desde o começo era tirá-lo da Fúria. Só.
Ninguém nunca tinha ouvido falar em Diego Costa, assim como os outros brasileiros que defendem seleções estrangeiras. Nesta temporada, ele começou a jogar a bola e deu-se início a uma cobrança exacerbada pela sua convocação. Mesmo assim, quem ia sempre era um Pato da vida.
Em março foi chamado para dois amistosos, onde pouco pode mostrar. Parecia mais aquelas convocações de Mano Menezes, trazendo jogadores da Ucrânia, sem muita perspectiva.
![Diego Costa durante o jogo do Brasil com a Italia, 21 de Março de 2013. Foto: Mowa Press.](/userfiles/RS7446_brasil_italia_154 - Cópia.jpg)
O atacante optou pela Espanha, e como era esperado, está sendo criticado pelos brasileiros que nem davam bola pra ele. Se tornou um vilão e virá disputar a Copa – sim, essa escolha deve ter por trás a garantia de estar entre os 23 escolhidos de Del Bosque – sob pressão. Pelo menos vem.
A CBF, por sua vez, entrou num clima de baixaria futebolística e promete recorrer, afirmando que a escolha está atrelada a dinheiro – tão repudiado pelos cartolas que lá estão –, numa tentativa de tirá-lo da Fúria. Dificilmente conseguirá. Só vai inflamar ainda mais o ódio que os brasileiros criaram pelo cara.
Acho que os argumentos de Diego foram bem válidos. Como outros jogadores tupiniquins, não teve vez no seu país e conseguiu despontar lá fora. Sua vida mudou na Europa e não há nada de errado em defender o país que o acolheu e deu oportunidades. Já que a Fifa permite, qual o problema?
Se o brasileiro fosse justo — ok, é pedir demais – consideraria esse caso como um outro qualquer. Nunca houve implicância com Deco ou Felipão pelas suas escolhas em defender Portugal, pro exemplo, e seria injusto demais fazer isso com o atacante do Atletico de Madrid.
Diego fez certo. Muito certo. Se optasse pela Canarinha, era muito provável que na convocação para a Copa, ele pagasse o Pato.