53.2

O brasileiro paraguaio

Yuri Ribeiro 6 de novembro de 2013

Acaba a Copa de 2002. Brasil pen­ta­cam­peão e sobre os ombros de Scolari uma enorme pres­são para con­ti­nuar à frente da sele­ção, a qual assu­mira um ano antes. Optou por não continuar.

Começa 2003 e Felipão assume a sele­ção por­tu­guesa. Nenhum xin­ga­mento ou ques­ti­o­na­mento por parte dos bra­si­lei­ros. Pelo con­trá­rio, rolou até tor­cida para que con­quis­tasse a Eurocopa, em 2004, e que con­se­guisse pas­sar à final da Copa do Mundo de 2006.

Nesse período, o bigo­dudo – que jamais foi cha­mado de trai­dor – con­ven­ceu Deco e Pepe a defen­de­rem a sele­ção por­tu­guesa. Dois bra­si­lei­ros, assim como cen­te­nas, ves­tindo a camisa de outra sele­ção. Sob orientação/pedido do trei­na­dor. Os dois joga­do­res, diga-se, nunca foram ques­ti­o­na­dos por terem aceitado.

Luiz Felipe Scolari quando era técnico da seleção portuguesa. Foto: Antônio Milena – Agência Brasil.

Aí pula­mos para 2013 e de repente vemos a imprensa bra­si­leira dizendo que Diego Costa, “o arti­lheiro do Campeonato Espanhol, à frente de Cristiano Ronaldo e Messi, pode defen­der a sele­ção espa­nhola”. O assunto fica cada vez mais repe­ti­tivo e, de certa forma, começa uma pres­são em cima de Felipão.

Se ele não con­voca e o cara joga pela Espanha, a culpa cai­ria sobre ele. Sem dúvi­das. O que fazer então? Convoca o cara às pres­sas, mesmo fora do período, para afir­mar o desejo de tê-lo. Isso na teo­ria. Na prá­tica, o desejo desde o começo era tirá-lo da Fúria. Só.

Ninguém nunca tinha ouvido falar em Diego Costa, assim como os outros bra­si­lei­ros que defen­dem sele­ções estran­gei­ras. Nesta tem­po­rada, ele come­çou a jogar a bola e deu-se iní­cio a uma cobrança exa­cer­bada pela sua con­vo­ca­ção. Mesmo assim, quem ia sem­pre era um Pato da vida.

Em março foi cha­mado para dois amis­to­sos, onde pouco pode mos­trar. Parecia mais aque­las con­vo­ca­ções de Mano Menezes, tra­zendo joga­do­res da Ucrânia, sem muita perspectiva.

Diego Costa durante o jogo do Brasil com a Italia, 21 de Março de 2013. Foto: Mowa Press.

O ata­cante optou pela Espanha, e como era espe­rado, está sendo cri­ti­cado pelos bra­si­lei­ros que nem davam bola pra ele. Se tor­nou um vilão e virá dis­pu­tar a Copa – sim, essa esco­lha deve ter por trás a garan­tia de estar entre os 23 esco­lhi­dos de Del Bosque – sob pres­são. Pelo menos vem.

A CBF, por sua vez, entrou num clima de bai­xa­ria fute­bo­lís­tica e pro­mete recor­rer, afir­mando que a esco­lha está atre­lada a dinheiro – tão repu­di­ado pelos car­to­las que lá estão –, numa ten­ta­tiva de tirá-lo da Fúria. Dificilmente con­se­guirá. Só vai infla­mar ainda mais o ódio que os bra­si­lei­ros cri­a­ram pelo cara.

Acho que os argu­men­tos de Diego foram bem váli­dos. Como outros joga­do­res tupi­ni­quins, não teve vez no seu país e con­se­guiu des­pon­tar lá fora. Sua vida mudou na Europa e não há nada de errado em defen­der o país que o aco­lheu e deu opor­tu­ni­da­des. Já que a Fifa per­mite, qual o problema?

Se o bra­si­leiro fosse justo — ok, é pedir demais – con­si­de­ra­ria esse caso como um outro qual­quer. Nunca houve impli­cân­cia com Deco ou Felipão pelas suas esco­lhas em defen­der Portugal, pro exem­plo, e seria injusto demais fazer isso com o ata­cante do Atletico de Madrid.

Diego fez certo. Muito certo. Se optasse pela Canarinha, era muito pro­vá­vel que na con­vo­ca­ção para a Copa, ele pagasse o Pato.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

RIBEIRO, Yuri. O brasileiro paraguaio. Ludopédio, São Paulo, v. 53, n. 2, 2013.
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