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Zé Roberto, 50 anos

Marcos Vinicius 12 de julho de 2024

Livre, leve e solto

Uma expressão amplamente usada no cotidiano brasileiro ajuda a explicar a maneira encontrada por Vanderlei Luxemburgo para entregar a Zé Roberto a camisa 10 do Santos entre os anos de 2006 e 2007, em uma das passagens emblemáticas do polivalente atleta no futebol brasileiro.

Há 18 anos, Zé Roberto chegava com pompa ao Santos após 8 temporadas no futebol europeu e correspondia às expectativas da grandeza da sua contratação com ótimas atuações, prêmios individuais e títulos, numa função nunca antes exercida pelo volante da Seleção Brasileira.

Antes de desembarcar na Vila Belmiro, Zé Roberto vivia uma indecisão para escolher o clube que defenderia após a Copa do Mundo de 2006. Duas propostas estavam na mesa do jogador: a primeira do São Paulo, campeão em 2005 do Mundial de Clubes e Libertadores, e a outra do Alvinegro Praiano, que tinha conquistado o Campeonato Paulista de 2006 e era comandado por Vanderlei Luxemburgo — guardem esse nome.

O São Paulo largou na frente na disputa pelo meio-campista, que vivia um melhor momento na temporada, disputava competições com projeção internacional e havia disponibilizado suas dependências para Zé se recuperar de uma artroscopia feita após o Brasil ser eliminado pela França na Copa do Mundo. Porém, alguns motivos fizeram com que o camisa 11 da seleção brasileira contrariasse o óbvio, que era defender o Tricolor do Morumbi, e acertasse com o Santos.

Uma das principais razões está representada na figura de Luxemburgo, peça fundamental para que a negociação fosse bem-sucedida. O ‘Pofexô’ precisou de apenas uma reunião para convencer Zé Roberto da sua decisão.

Com um projeto audacioso em mãos, o técnico tinha em mente usar o até então volante como meia-armador, jogando livre, leve e solto no meio-campo para herdar a lendária camisa 10 do Santos. Tamanha responsabilidade vinha acompanhada de uma boa proposta financeira de meio milhão de reais por mês, que superava a oferecida pelo São Paulo.

Em entrevista para o Flow Podcast, o ex-jogador relembrou a passagem pela Vila Belmiro e falou que nem ele mesmo sabia que poderia exercer a função.

“Pofexô (Vanderlei Luxemburgo) era zica. Ele era tão zica que me colocou no Santos numa posição que nem eu sabia. Mano, joguei de 10, mas nem sabia que podia jogar ali. Ele me colocou num sistema que montou, o atacante de referência, eu atrás do atacante de referência, e três volantes por trás.” — disse Zé Roberto.

Com o acordo fechado com o Santos, Zé Roberto correspondeu às expectativas do alto investimento. Após duas semanas de recondicionamento físico para conseguir fazer sua estreia no Brasileirão, o dono da camisa 10 do Peixe entrou em campo e ajudou o clube paulista a chegar à Libertadores da América de 2007.

zé roberto
Fonte: Maxisports/Depositphtotos

Das 12 partidas em que o meio-campista esteve presente no Campeonato Brasileiro, o clube paulista perdeu apenas 3 jogos e terminou na 4ª colocação da competição. Porém, a temporada de 2006 era apenas uma pequena demonstração do potencial da parceria de Vanderlei e Zé Roberto no Santos.

Em 2007, o Santos entrou na briga pelo título nas duas competições que disputou no primeiro semestre. Zé Roberto era a referência do esquadrão que tinha Pedrinho, Cleber Santana, Kleber e Fábio Costa.

O Paulistão era o primeiro compromisso da temporada para Vanderlei e seus comandados, que buscavam o bicampeonato. Enquanto a Libertadores vinha logo em seguida e era a prioridade do clube alvinegro por conta do jejum desde a década de 60.

Deixado em segundo plano, o Campeonato Paulista, ainda assim, rendeu bons frutos à equipe. Com uma campanha na primeira fase com apenas uma derrota em dezenove jogos, o Santos terminou a fase de classificação como líder geral do Paulistão. Dessa forma, Zé Roberto e companhia tinham a vantagem de jogar por dois resultados iguais no mata-mata.

Na semifinal, o Peixe enfrentou o Bragantino, quarto colocado na primeira fase. Após dois empates por 0 a 0, o Alvinegro Praiano chegou à final por conta da vantagem conquistada. Contra o São Caetano na decisão do torneio, o resultado espelhado se repetiu, dessa vez com dois placares de 2 a 0.

O 17º título paulista do Peixe aconteceu de forma dramática, com o gol do título marcado por Moraes, aos 36 minutos do segundo tempo no Morumbi.

Zé Roberto, além de ser escolhido para a seleção do Paulistão, também foi eleito o craque do campeonato.

Seleção do Paulistão 2007:
Fábio Costa (Santos) / LD — Paulo Sergio (São Caetano); ZG — Antônio Carlos (Santos); ZG — Alex Silva (São Paulo); LE — Andrezinho (Bragantino) / VOL — Maldonado (Santos); VOL — Josué (São Paulo); MA — Zé Roberto (Santos) / ATA — Edmundo (Palmeiras); ATA — Marcos Aurélio (Santos); ATA — Somália (São Caetano).
Técnico: Vanderlei Luxemburgo (Santos)

Na Libertadores da América, o Santos teve outro ótimo desempenho e, arrisco dizer, até melhor do que no Paulistão. Para se ter ideia do bom rendimento de Zé Roberto e companhia no campeonato, igualaram um recorde do Vasco da Gama de 2001, que havia emplacado 8 vitórias consecutivas no torneio continental: foram 2 vitórias na pré-Libertadores e 6 triunfos na fase de grupos.

Nas oitavas de final, o Santos enfrentou o Caracas e sacramentou a classificação após vencer por 3 a 2 na Vila Belmiro. Na fase seguinte, os comandados de Vanderlei Luxemburgo suaram a camisa para passar pelo América do México, do artilheiro Cabañas, mas a vaga entre os quatro melhores times do torneio viria após a vantagem construída como mandante por 2 a 1 e o empate sem gols como visitante.

A trajetória do Santos na Libertadores terminou na semifinal contra o Grêmio, no Estádio Olímpico, depois da invencibilidade de 12 jogos na competição ser desfeita pelo Tricolor Gaúcho e a árdua tarefa de reverter a desvantagem de dois gols do jogo de ida parar nos critérios de desempate com a famosa e extinta lei dos gols fora de casa.

A vitória por 3 a 1, na Vila Belmiro, não foi suficiente para o clube paulista chegar à final para enfrentar o Boca Juniors. A eliminação, além de colocar um ponto final no sonho do tricampeonato da América, também encerrou a vitoriosa passagem de Zé Roberto pelo Santos.

“Confesso que quando recebi a 10 do Santos, veio à mente quando meu pai falava do Pelé. Vestir essa camisa era como se fosse a minha segunda pele.” (Zé Roberto).

As boas atuações acompanhadas de números expressivos com a camisa do Peixe colocaram, de forma inevitável, o craque santista novamente no radar europeu e o destino acabou sendo novamente o futebol alemão, que abrigou o maestro da Vila Belmiro por 8 temporadas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Marcos Vinicius

Nunca é demais relembrar histórias que marcam gerações.

Como citar

VINICIUS, Marcos. Zé Roberto, 50 anos. Ludopédio, São Paulo, v. 181, n. 12, 2024.
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