A presente tese tem como objetivo investigar os fatores que contribuíram para a inadmissão do América Futebol Clube, de Belo Horizonte, no restrito grupo dos grandes clubes do futebol brasileiro. Para tanto, parte-se da premissa de que a grandeza de um clube de futebol no Brasil é auferida não apenas pelos resultados obtidos nas competições disputadas e/ou pelo tamanho de sua torcida, mas também pelo sistema de representações simbólico articulado em torno dele, capaz de produzir sentimentos de afeição e repulsa tão caros às competições esportivas. Nesse sentido, a hipótese central desta pesquisa é a de que a identidade elitista atribuída ao América, valorizada e legitimada por seus torcedores a partir de uma narrativa memorialística ambivalente, denominada aqui como “mito da decadente aristocracia americana”, tem sido uma das responsáveis por colocar o clube à margem do jogo de representações simbólicas da capital mineira, dominado pelos pretensamente populares Clube Atlético Mineiro e Cruzeiro Esporte Clube. Como forma de atestar o status de memória coletiva dominante, essa mitologia é identificada e analisada neste trabalho a partir de diferentes momentos e documentos históricos, desde cânticos e publicações virtuais da torcida americana a campanhas de marketing do clube, passando por textos jornalísticos e manifestações historiográficas oficiais sobre o América. Mas, contraposta às fontes históricas do contexto a que se refere, essa narrativa evidencia uma série de silenciamentos e seleções do passado americano – um típico trabalho de enquadramento da memória. Dessa maneira, constata-se, ainda, que, muito embora esse mito esteja ambientado nos anos de 1920, 1930 e 1940, o seu processo de constituição, formalização e oficialização coincidiu com importantes momentos de disputa pela hegemonia político-administrativa do clube na segunda metade do século XX e no início do novo milênio.