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Tese

O futebol brasileiro como soft power

Um estudo de narrativas jornalísticas e cinematográficas
Ano

2022

Faculdade/Universidade

Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense

Orientador(a)

Marco Antônio Roxo

Co-rientador

Juliana Gagliardi de Araujo

Tema

Tese

Área de concentração

Doutorado em Comunicação

Páginas

223

Arquivos

Resumo

Esta tese investiga como os meios de comunicação nacionais e internacionais mediam a experiência esportiva futebolística brasileira e qual potencial de influência esse processo ganha no cenário global. Supõe-se que o conjunto de representações sedimentadas pela mídia possibilitou o uso do futebol brasileiro como ferramenta de soft power, isto é, “com a capacidade de influenciar uma nação via aportes culturais ou ideológicos” (Nye, 2004), ocorrido especificamente durante o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), a partir da instrumentalização do Jogo da Paz, partida futebolística entre Brasil e Haiti em agosto de 2004. Ou seja, acreditamos que tal influência foi construída historicamente não por políticas de Estado, mas por elos narrativos envolvendo diversos protocolos midiáticos (reportagens, filmes de ficção, documentários etc.) nos quais percebe-se uma intensa recorrência sobre a singularidade do estilo de jogo brasileiro. Nesse sentido, investigamos como os meios de comunicação nacionais e internacionais promovem um movimento de repetição e atualização de determinadas construções narrativas que reiteram a força dos mitos constitutivos do futebol no Brasil, como a democracia racial a partir do papel do negro (Filho, 2010), os atributos do futebol-mulato (Freyre, 1938), a simbologia da Pátria de chuteiras (Rodrigues, 1993), a idolatria nacional (Helal, 1998), as Copas do Mundo como ritual nacional (Guedes, 2006) e o Brasil como país do futebol (Toledo, 2000). Para empreender tal estudo, adotamos como fio condutor da análise um corpus de pesquisa formado principalmente por publicações jornalísticas do The New York Times de 1950 a 2002 e pelo documentário “O dia em que o Brasil esteve aqui”, que trata especificamente da cobertura do Jogo da Paz em 2004, em conjunto com publicações sobre esta partida também divulgadas pelo jornal americano. Duas estratégias metodológicas se fazem presentes para englobar a investigação. A primeira utiliza parte dos procedimentos de análise de narrativa (Motta, 2013) e a segunda o referencial analítico de Vuving (2009) a respeito de como se constitui soft power. Os resultados mostram a repetição de esquemas narrativos gestados na imprensa brasileira e reproduzidos no exterior (The New York Times), uma razão favorável para solidificação de aspectos notáveis da seleção brasileira. Tais narrativas possuem elos com o aporte bibliográfico nacional (acadêmico e não acadêmico), mais reforçando do que rechaçando narrativas recorrentes associadas ao futebol nacional, como a ideia de “país do futebol”, “futebol-arte” e “celeiro de craques”. Assim sendo, as narrativas que perpassam o jornalismo e o cinema sobre o futebol nacional não são disruptivas, elas reforçam determinadas alegorias positivas em detrimento de outras. Nesse sentido, constatamos como as narrativas míticas são fundamentais para a propagação do futebol brasileiro como soft power. O Jogo da Paz, visto pelo documentário “O dia em que o Brasil esteve aqui”, confirma a instrumentalização desse poder pelo governo brasileiro e demonstra o brasileiro como “bombagai”, gente boa, e o futebol como belo e brilhante. Tomados em conjunto, o potencial do futebol brasileiro como soft power consiste na construção, divulgação e manutenção de narrativas sobre si para outras nações.

Palavras-chave: Futebol brasileiro; narrativas; soft power.

Abstract

This thesis investigates how the national and international media mediate the Brazilian football sporting experience and what potential influence this process gains on the global stage. It is assumed that the set of representations sedimented by the media enabled the use of Brazilian football as a soft power tool, that is, “with the ability to influence a nation through cultural or ideological contributions” (Nye, 2004), which occurred specifically during the government of President Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), from the instrumentalization of the Peace Game, a football match between Brazil and Haiti in August 2004. In other words, we believe that such influence was historically constructed not by State policies, but by narrative links involving various media protocols (reports, fiction films, documentaries, etc.) in which there is an intense recurrence of the uniqueness of the Brazilian style of play. In this sense, we investigate how the national and international media promote a movement of repetition and updating of certain narrative constructions that reiterate the strength of the constitutive myths of football in Brazil, such as racial democracy based on the role of black people (Filho, 2010) , the attributes of mulatto football (Freyre, 1938), the symbology of the homeland in football shoes (Rodrigues, 1993), national idolatry (Helal, 1998), the World Cups as a national ritual (Guedes, 2006) and Brazil as football country (Toledo, 2000). To undertake such a study, we adopted as a guideline for the analysis a research corpus formed mainly by journalistic publications from The New York Times from 1950 to 2002 and by the documentary “O dia em que o Brasil esteve aqui” (The day Brazil was here), which specifically deals with the coverage of the Game of Peace in 2004, together with publications about this match also published by the American newspaper. Two methodological strategies are present to encompass the investigation. The first uses part of the narrative analysis procedures (Motta, 2013) and the second uses Vuving’s (2009) analytical framework on how soft power is constituted. The results show the repetition of narrative schemes created in the Brazilian press and reproduced abroad (The New York Times), a favorable reason for solidifying notable aspects of the Brazilian team. Such narratives have links with the national bibliographic contribution (academic and nonacademic), more reinforcing than rejecting recurring narratives associated with national football, such as the idea of “football country”, “football-art” and “granary of stars”. Therefore, the narratives that permeate journalism and cinema about national football are not disruptive, they reinforce certain positive allegories to the detriment of others. In this sense, we see how the mythical narratives are fundamental for the propagation of Brazilian football as a soft power. The Peace Game, seen in the documentary “The day Brazil was here”, confirms the instrumentalization of this power by Brazilian government and demonstrates the Brazilian as “bombagai”, good people, and football as beautiful and brilliant. Taken together, the potential of Brazilian football as a soft power consists in the construction, dissemination and maintenance of narratives about itself for other nations.

Keywords: Brazilian football; narratives; soft power.

Sumário

INTRODUÇÃO, 15

CAPÍTULO 1 – Futebol no Brasil: lugar de disputas de narrativas, 24
1.1 Narrativas jornalísticas e cinematográficas, 24
1.2 “Eu sou, país do futebol, negô, até gringo sambou”: a interpretação jornalística, 28
1.2.1 País do futebol como invenção e tradição: interpretações acadêmicas, 34
1.3 “Tabelou, driblou dois zagueiros, deu um toque driblou o goleiro”: futebol-arte como distinção do estilo nacional, 41
1.3.1 As crônicas esportivas e a transmissão da brasilidade, 45
1.4 “Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”: infância na várzea e ascensão social, 52
1.4.1 Gabriel Jesus: Made in Brazil, 59
1.4.2 Os argentinos esperam de ‘nós’ jogo bonito, 71
1.4.3 Os franceses nos consideram imprevisíveis, 74

CAPÍTULO 2 – Narrativas do The New York Times sobre o futebol brasileiro em Copas do Mundo: 1950-2002, 78
2.1 Das Copas de 1950 a 1970: as primeiras impressões, 78
2.1.1 1970: O enredo do Tri e a Copa televisionada, 89
2.2 Copas do Mundo de 1974 a 1990, 96
2.3 Três vezes na final: o clímax das decisões de 1994, 1998 e 2002, 107
2.2.1 O segundo lugar não serve para o torcedor brasileiro, 117
2.3.2 O retorno do herói, o futebol-arte e o pentacampeonato, 127

CAPÍTULO 3 – Soft power, Futebol e Comunicação, 140
3.1 Futebol e exercícios de nacionalismo, 141
3.2 O papel da comunicação para atuação de soft power, 145
3.3 Perspectivas sobre o futebol brasileiro como soft power, 150
3.4 O dia em que o Brasil esteve aqui, 164
3.4.1 A estruturação do documentário, 167
3.4.2 Benignidade: O brasileiro é “bombagai”, 171
3.4.3 Brilho: “São deuses na terra, são extraterrestres”, 176
3.4.4 Beleza: “A coisa mais bela do Brasil é o futebol”, 180
3.5 O Jogo da Paz na cobertura do The New York Times, 184
3.5.1 A seleção brasileira como aposta durante a intervenção militar, 189

CONSIDERAÇÕES FINAIS, 197
REFERÊNCIAS, 204

ANEXO A – Matérias consultadas no The New York Times, 215
ANEXO B – Filmes produzidos no exterior com temática tangenciando o Brasil, 218

Referência

REIS, Rodrigo Nascimento. O futebol brasileiro como soft power: Um estudo de narrativas jornalísticas e cinematográficas. 2022. 223 f. Tese (Doutorado em Comunicação) - Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2022.
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