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Tese

Polarização urbana, identidade territorial e futebol

a Zona da Mata e Juiz de Fora/MG entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte
Ano

2016

Faculdade/Universidade

Instituto de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo

Tema

Tese

Área de concentração

Doutorado em Geografia Humana

Páginas

664

Arquivos

Resumo

A pesquisa partiu da observação de uma diminuição da polarização urbana do Rio de Janeiro sobre a Zona da Mata/Juiz de Fora (seu principal núcleo) em detrimento de Belo Horizonte. O objetivo deste estudo foi dimensionar essa gangorra da polarização metropolitana exercida na região por meio do futebol, a “fute-polarização”. A influência urbana sobre a Mata foi dimensionada. Partimos da presença do futebol no Brasil como fato socioespacial para chegarmos à Mata, onde elencamos o futebol como uma modernidade articulada com as redes de transportes e de cidades, e com seus divulgadores proeminentes (escolas, jornais e rádios). Ao contato com a novidade “futebol”, grupos sociais passaram a criar times e identificações por meio das sedes sociais, campos e estádios, formação de torcidas e de uma “futeiconografia” (insígnias, cores e mascotes) utilizada pelos clubes de futebol. Nas cidades matenses, o futebol foi favorecido pela ideologia do higienismo, pela destinação de espaços públicos defronte das igrejas (onde se jogava futebol) e pela divulgação exercida por imigrantes (italianos), estudantes repatriados do exterior ou internamente (comumente do Rio), além dos jornais e rádios. Em escala nacional e regional, traçamos a trajetória da mídia (dos impressos à TV) como meio de apreensão de torcedores, pois as cidades-sedes dos grupos de comunicação – Rio e São Paulo – obtiveram um extenso território sob domínio de suas agremiações de futebol. Assim, levantamos historicamente como o maior contato da Zona da Mata com o Rio de Janeiro fez dela uma região de influência carioca: caminhos e estradas seculares, além da penetração de emissoras de rádios e de televisão fizeram dos matenses torcedores dos times cariocas. Para tal, usamos fontes primárias (jornais, arquivos públicos, sites dos times). Além disso, a disputa entre Juiz de Fora e Belo Horizonte para sediar a nova capital de Minas (final do século XIX), aliada a uma posterior decadência econômica regional e da tardia conexão viária (meados do XX) e econômica com Belo Horizonte atrasaram a influência da capital mineira na Mata, refletida apenas nas últimas décadas. A partir de todo esse panorama passamos a dimensionar a polarização urbana via futebol. Analisamos e cartografamos as preferências clubísticas nos 142 municípios da Mata Mineira, que ficou cingida por uma diagonal NE-SW: a leste dela, domínio do Rio de Janeiro, e a oeste domínio de Belo Horizonte, além de São Paulo se postar na contenda em ambos os lados. Cotejamos os territórios das torcidas com as transmissões de jogos de futebol pelas rádios e pelas TVs (afiliadas da Globo) da região, que reforçam uma ou outra metrópole. Como senda analítica, utilizamos as noções de redes e de redes urbanas. Por fim, relacionamos a “fute-polarização” com a “fute-iconografia” a fim de discutir as identidades territoriais da região, que é comumente taxada na literatura de ter pouca “mineiridade”. Encontramos verdades, mas também exageros e omissões diante de uma suposta não/pouca vinculação Mata-Minas. Via futebol, concluímos que a polarização carioca é maior no S-SE da Zona da Mata, enquanto Belo Horizonte domina o N-NW, confirmando a hipótese inicial.

Palavras-chave: Polarização urbana; futebol; Zona da Mata/Juiz de Fora; identidade territorial regional; influência midiática.

Abstract

The research started from the observation of a decrease in the urban bias of Rio de Janeiro on the Zona da Mata/Juiz de Fora (its core) over Belo Horizonte. The aim of this study was to scale this seesaw of metropolitan bias exerted in the region through soccer, “Soccerpolarization”. Urban influence on Zona da Mata was scaled. We start from the soccer presence in Brazil as socio-fact to come to the Zona da Mata region, where we list soccer as an articulated modernity with transport networks and cities, and their prominent advisers (schools, newspapers and radios). The contact with the new “soccer”, social groups started to create teams and identifications through the head offices, fields and stadiums, training cheering and a “Soccer-iconography” (insignia, colors and mascots) used by soccer clubs. In Zona da Mata cities, soccer was favored by hygienism ideology, the allocation of public spaces in front of the church (where it was played) and the dissemination carried out by immigrants (Italian), returnees students from abroad or internally (commonly Rio), and newspapers and radio. At the national and regional level, we draw the media path (from printed form to TV) as a means of seizure of fans as the host cities of communication groups – Rio and São Paulo – obtained an extensive territory under the control of their soccer associations. Thus, historically we raised as the largest contact Zona da Mata region with the Rio de Janeiro made it a region of Rio influence: paths and secular roads as well as penetration of radio stations and television made the people of Zona da Mata region fans of Cariocas teams. To reach this we use primary sources (newspapers, public archives, sites of the teams). In addition, the dispute between Juiz de Fora and Belo Horizonte to host the new capital of Minas Gerais (late nineteenth century), together with a further regional economic decline and late road connection (mid-XX) and economic in Belo Horizonte delayed influence of the state capital in Mata reflected only in recent decades. From all this panorama we size the urban bias through soccer. We analyze and map soccer clubs preferences in 142 municipalities in the Mata Mineira, which was girded by a NE-SW diagonal: east her area of Rio de Janeiro, and the western area of Belo Horizonte, and São Paulo to stand in the strife in both sides. Comparing the territories of the fans with the transmission of soccer matches by radio and by TV (affiliated with Globo TV) in the area which reinforce one or another metropolis. As an analytical path we use the notions of networks and urban networks. Finally we list the “Soccer-bias” with the “Soccer-iconography” in order to discuss the territorial identities of the region, which is commonly taxed in the literature to have little “mineiridade” – the peculiar characteristics of the inhabitants of Minas Gerais state. We find truths but also exaggerations and omissions in the face of an alleged no / little Mata-Minas Gerais state binding. Through soccer we conclude that the Rio polarization is greater in S-SE of the Zona da Mata, while Belo Horizonte dominates the N-NW, confirming the initial hypothesis.

Keywords: Urban Polarization; soccer; Zona da Mata/Juiz de Fora; regional territorial
identity; media influence.

Sumário

1. INTRODUÇÃO, 22
a) Apresentando as motivações pela temática do futebol, 22
1.1 – Seções da tese e suas temáticas, 27
1.2 – Apresentando a Zona da Mata Mineira, 32
1.3 – Em busca do conceito de Região, 42
1.4 – Aspectos metodológicos, 60
1.4.1 – Revisão bibliográfica e fontes de pesquisa, 62
a) Aspectos teórico-metodológicos sobre a utilização de entrevistas, 65
1.4.2 – O tema “Geografia Urbana e Futebol” em estudos anteriores e sua relevância acadêmica nesta tese, 68
a) Lacunas de pesquisa em estudos anteriores, 69
1.4.3 – Passos metodológicos e seus resultados, 73
a) Limitações para a consecução desta pesquisa, 78

2. GEOGRAFIA, TERRITÓRIOS E FUTEBOL, 80
a) Modernidade, a era do futebol: brevíssima noção, 81
2.1 – Futebol, um “freguês” para a Academia (Geográfica), 85
2.2 – Sociedade, territórios e futebol, 93
2.2.1 – A popularização do futebol e seus contextos: onde, como e a quem chega esse esporte, 94
a) As origens, 94
b) Entendendo e dimensionando a popularização do futebol, 96
c) Formação de um mercado global do futebol e a questão da identidade com os clubes em xeque: divisão do trabalho e produção/circulação alienígenas sobre os territórios, 102
2.2.2 – Popularização do futebol no Brasil: contexto urbano-industrial, escolas, imigrantes e a noção de nacionalidade/brasilidade, 114
a) Futebol: nas escolas, nas fábricas e entre imigrantes,120
b) O futebol-fantoche: a manipulação dos pertencimentos, 126
2.2.3 – Territorialidades do futebol, 134
a) O mundo e o Brasil urbanos e as novas ideias na virada do século XIX para o XX: revolução nos territórios e nos esportes,134
b) Estádio de futebol: estratégia de modernidade, fator auxiliar de centralidade urbana e da popularidade dos clubes e do próprio futebol, 151
2.3 – Territorialidades do futebol na Zona da Mata e em Juiz de Fora, 157
a) Antecedentes à chegada do futebol: do ouro para a cafeicultura e a formação da rede urbana matense enquanto contextualizações, 158
b) O contexto moderno na Zona da Mata, 179
c) Futebol na Zona da Mata, 188

3. CIDADES E SUAS REDES, POLARIZAÇÕES URBANAS E FUTEBOL (FUTE-POLARIZAÇÕES), 227
3.1 – O conceito de redes, 230
3.2 – Concepções sobre redes urbanas e a observação da Zona da Mata quanto às polarizações urbanas, 248
3.2.1 – Os primeiros estudos: da cidade isolada para a rede de cidades e suas polarizações, 249
3.2.2 – As redes de cidades, 257
a) Inovações e Futebol: difusão de valores, ideias e tecnologias sobre a rede de cidades, 260
b) Alguns conceitos e tipos de Redes Urbanas, 268
3.2.3 – Exemplos notáveis de estudos sobre Redes, Influências e Hierarquias Urbanas brasileiras, 278
a) Regiões Funcionais Urbanas – IBGE, 1972, 279
b) Regiões de Influência das Cidades – IBGE, 1987, 285
c) Regiões de Influência das Cidades – IBGE, 1993, 288
d) Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil – IBGE, IPEA, UNICAMP, 2002, 292
e) Regiões de Influência das Cidades – IBGE, 2008, 296
3.2.4 – Estudos acerca da influência urbana, redes e hierarquia de cidades que analisaram um item isoladamente, 305
a) A “região jornalística” de Milton Santos (1956), 306
b) Hierarquias e polarizações urbanas em Minas Gerais, IGA (1980), 308
3.3 – Juiz de Fora e Zona da Mata em dinâmica urbana com Rio de Janeiro e Belo Horizonte, 314
3.3.1 – O Rio de Janeiro em sua relação com a Zona da Mata: opulência e dificuldades econômicas, apogeu e recuo de sua influência até a atual competição com outras metrópoles, 323
3.3.2 – A disputa Rio-BH pela Zona da Mata expressa nos estudos sobre Minas Gerais e seu paralelismo no futebol, 347
a) Cartografia da Fute-polarização na Zona da Mata, 357
b) A Fute-polarização na Mata foi influenciada pela presença de imigrantes que torcem pelos times de BH, Rio ou São Paulo?, 380

4. MÍDIA E FUTEBOL: POLARIZANDO TORCEDORES E, LOGO, TERRITÓRIOS E PODER, 386
4.1 – Nexos entre mídia e vinculações clubísticas e territoriais, 389
4.2 – Breve história da mídia esportiva no Brasil, 398
4.2.1 – A mídia e o futebol de Juiz de Fora e da Zona da Mata: aproximações com Rio de Janeiro e Belo Horizonte, 406
a) Os jornais, 406
b) A radiodifusão, 412
c) A televisão, 427
4.3 – O “time-mercadoria”: relação entre sucesso do time, exposição na mídia e volume de torcedores nos territórios, 439
4.4 – As pesquisas sobre predileção clubística e as divisões/apreensões territoriais por elas indicadas, 445
a) Pesquisas que aferem preferências por times de futebol são confiáveis? E mais: podem ser utilizadas em um estudo científico? O perfil das pesquisas, 445
b) Pesquisas sobre predileção clubística em Minas Gerais: apontamentos para polarizações urbanas e identificações territoriais, 448
c) Aferições de preferências clubísticas por meio do total de curtidas nas páginas oficias dos clubes de futebol (GE, 2015), 456
4.5 – A lógia das transmissões do “Brasileirão” de futebol pela TV Globo e a regionalização por ela criada sobre o território mineiro e da Zona da Mata, 463
4.5.1 – Os territórios futebolísticos: projetando a polarização urbana via Brasileirão e TV Globo, 466
4.5.2 – Os territórios futebolísticos da TV Globo: projeção das polarizações do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte na Zona da Mata , 478
a) Áreas de cobertura das afiliadas da TV Globo em Minas Gerais, 480
b) Regionalizações dos territórios mineiro e matense por meio das transmissões dos jogos do Campeonato Brasileiro (2014 e 2015) pela TV Globo, 481
c) Relação entre transmissão dos jogos pela TV Globo e predileção clubística nas microrregiões da Zona da Mata, 489

5. IDENTIDADES E TERRITORIALIDADES: TORCEDORES, CIDADES E CLUBES DE FUTEBOL, 505
5.1 – A noção de identidade, 506
5.2 – Pensando a identidade territorial via predileção clubística, 517
5.3 – Os territórios do futebol enquanto expressão de identidade local/regional, 538
5.3.1 – A força da origem do clube: a base territorial local/regional, 538
5.4 – “Mineiroca” e/ou “Carioca do brejo”: verdades, exageros e omissões quanto à identidade matense e juiz-forana, 552
5.4.1 – A narrativa da Mineiridade: formação, noção e corolários, 554
5.4.2 – Noções e narrativas sobre a identidade da Zona da Mata e de Juiz de Fora por meio do futebol e outras expressões: rebatendo a tradição da (Anti)Mineiridade, 576
a) (Des)Articulações de Juiz de Fora e Zona da Mata com Minas Gerais em textos acadêmicos, 576
b) Articulações de Juiz de Fora e Zona da Mata com Minas Gerais por meio de uma iconografia do futebol: a “fute-iconografia”, 592
Conclusão: os territórios urbano, futebolístico e identitário na Zona da Mata e em Juiz de Fora, 611

Referências Bibliográficas, 617
Apêndices, 656

Referência

CAMPOS, Helcio Ribeiro. Polarização urbana, identidade territorial e futebol: a Zona da Mata e Juiz de Fora/MG entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 2016. 664 f. Tese (Doutorado em Geografia Humana) - Instituto de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.
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