A tese tem como objeto discutir as torcidas e os torcedores de futebol que frequentam os estádios na atualidade e seus novos sentidos em discussão, considerando o contexto das transformações vividas na cidade do Rio de Janeiro, relacionadas à realização dos megaeventos da Copa do Mundo de 2014, e dos Jogos Olímpicos de 2014, assim como as consequências do processo de modernização do futebol na matriz espetacularizada do jogo. A pesquisa se deu em planos interrelacionados que contemplam a observação participante em espaços onde ocorre o torcer principalmente o estádio, mas também em bares e outros espaços , entrevistas e pesquisa bibliográfica. No que tange ao trabalho de campo, a população estudada compreende os torcedores do Botafogo que frequentam o estádio do Engenhão, divididos em grupos pertencentes a organizações dedicadas ao torcer e aqueles que não as compõem. Foram contemplados recortes de gênero, idade (jovens e idosos) e tipo de organização torcedora a que pertencem, abarcando novos movimentos ou torcidas organizadas tradicionais. Foram realizadas 44 entrevistas e mais de 250 horas de observação em campo, entre 2010 e 2011. O trabalho recorre a um referencial diversificado, partindo da psicologia social, em particular a teoria das representações sociais em sua abordagem processual, baseada principalmente nos textos de Moscovici, Jodelet e Arruda. A cartografia é tomada como uma metodologia de acompanhamento de processos que atenta para diferentes planos, orientando a presença no campo. A partir de uma perspectiva histórica, buscou-se traçar o cenário de constituição do futebol no Rio de Janeiro como estratégia para reforçar a segregação entre grupos sociais e a criação de alteridades marcadamente hierárquicas. O panorama atual do futebol no Rio de Janeiro apresenta refrações de construções que corroboram uma representação hegemônica do torcedor de futebol ligada à desordem e a violência, e a necessidade de controle. Os resultados discutem os sentidos em debate sobre ser torcedor e ser torcedor organizado num contexto amplo. A paixão surge como categoria fundamental, além de caracterizações sobre si e os rivais. As conclusões dão indícios da conjunção de duas lógicas distintas para a compreensão da atividade torcedora: uma que se apoia na história, nos ícones e mitos para buscar no passado relações de causalidade; outra narrativa, mais próxima da experiência presente, define o ser torcedor a partir das 7 significações da paixão. Sobre o ser torcedor organizado, os novos modelos de torcidas tensionam o campo de produção dessa alteridade ao tornar suas definições mais fluidas, ocupando um lugar ambíguo diante da matriz espetacularizada do futebol.
Palavras-chave: Torcida de futebol, torcidas organizadas, alteridade, representação social, cartografia.