Com a definição dos campeonatos nacionais, a euforia toma conta do torcedor que assiste e vibra com o acesso de seu clube de futebol a uma divisão superior, para a disputa no ano seguinte. Para os torcedores de alguns clubes, o prazer de assistir seu time na Série A do Brasileirão pode transformar-se em um ponto de tensão e deixar o torcedor apreensivo, à medida que seu clube realiza uma campanha irregular e surge a possibilidade de uma queda à Série B.
Sem correr o risco de apresentar dados pessimistas aos felizes torcedores, o retrospecto faz valer uma tendência no futebol brasileiro: pelo menos um dos quatro clubes que conseguiram acesso à série A do Campeonato Brasileiro será novamente rebaixado à Série B, não conseguindo manter-se na divisão principal do futebol brasileiro por três ou mais temporadas consecutivas.
O quadro a seguir exibe a classificação dos clubes à Série A, desde 2004, e o rebaixamento dos clubes a partir de 2005. É importante lembrar que até 2005 somente o campeão e o vice-campeão da Série B conseguiam acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. A partir de 2006, os quatro primeiros colocados passaram a ascender à Série principal, constituindo uma competição com vinte clubes, formato que atualmente é utilizado.
Clubes que conseguiram acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, mas não permaneceram por mais de três temporadas consecutivas.
ANO | CLASSSIFICADOS À SÉRIE A | REBAIXADOS À SÉRIE B |
2004 | Brasiliense Fortaleza | |
2005 | Grêmio Santa Cruz | Coritiba Atlético Mineiro Paysandu Brasiliense |
2006 | Atletico Mineiro Sport Nautico América de Natal | Ponte Preta Fortaleza São Caetano Santa Cruz |
2007 | Coritiba Ipatinga Portuguesa Vitória | Corinthians Juventude Paraná América de Natal |
2008 | Corinthians Santo André Avaí Grêmio Barueri | Figueirense Vasco da Gama Portuguesa Ipatinga |
2009 | Vasco da Gama Guarani Ceará Atlético Goianiense | Coritiba Santo André Náutico Sport |
2010 | Coritiba Figueirense Bahia América Mineiro | Vitória Guarani Goiás Grêmio Prudente |
2011 | Portuguesa Náutico Ponte Preta Sport | Atlético Paranaense Ceará América Mineiro Avaí |
2012 | Goiás Criciuma Atlético Paranaense Vitória | Sport Palmeiras Atlético Goianiense Figueirense |
2013 | Palmeiras Chapecoense Sport Figueirense | Portuguesa Vasco da Gama Ponte Preta Náutico |
2014 | Joinville Ponte Preta Vasco Avaí | Vitória Bahia Botafogo Criciúma |
Fonte – Alexandre Alves
Nele podemos verificar o acesso e a rápida permanência de alguns clubes na série principal, em meio à queda de um ou outro clube considerado de grande receita, à Série B. Na coluna central, podemos ver em destaque os clubes que se classificaram para a Série A e que retornaram à segunda divisão. A coluna à direita exibe também em destaque os clubes que foram rebaixados, e o período em que permaneceram na divisão principal pode ser acompanhado pela coluna da esquerda.
O Campeonato Brasileiro é uma competição de nível elevado e os clubes com mais recursos financeiros investem milhões no departamento de futebol, com o objetivo de montar equipes que, para eles, se sustentam nas altas cifras gastas com folha de pagamento dos atletas e comissões técnicas. Segundo o relatório da BDO Consultoria, em 2014 foi observado que o aumento das receitas foi inferior ao crescimento dos custos nos 24 clubes de maior arrecadação do futebol nacional. Dessa forma, o poder econômico na Série A do Brasileirão é um fator de diferenciação e de manutenção na própria divisão. Para se sustentar e manter um time competitivo e concorrer a títulos, os maiores clubes acabam por comprometer a folha salarial e extrapolam a relação entre receitas e despesas com folhas de pagamento.
Nesse caso, o resultado desse desequilíbrio é um endividamento progressivo vivido pelo clube. Desse modo, para se sustentar no alto nível, mesmo com recursos escassos, alguns clubes acabam por extrapolar o seu orçamento, principalmente na contratação de jogadores e, mesmo assim, não conseguem se estabelecer entre os considerados grandes. Como exemplo, nos últimos dez anos, os clubes com menores receitas, que conseguiram acesso à Serie A do Campeonato Brasileiro, não conseguiram permanecer por mais de três temporadas consecutivas na competição.
Pensando no futebol mineiro e considerando os últimos dez anos, três equipes do estado conseguiram acesso à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. O Atlético Mineiro, em 2006, após passar uma temporada na série B, o Ipatinga em 2007 e o América Mineiro em 2010 e que após cinco anos retorna em 2016 à Série A. Dessas três equipes, apenas o Atlético se mantém com regularidade na competição.
O Ipatinga, após sua participação no Campeonato Brasileiro de 2008, não conseguiu se estabilizar e após uma grave crise financeira foi rebaixado sequencialmente para as Séries B e C, em 2008 e 2009 e em 2013 migrou para a cidade de Betim com a ideia de tentar se reestabelecer. Atualmente, já tendo retornado para a cidade de Ipatinga, o clube tenta sobreviver e montar equipe para disputar a série D do Campeonato Brasileiro e o módulo II do Campeonato Mineiro em 2016.
Salários atrasados, compromissos financeiros protelados e não quitados não são a realidade apenas de clubes considerados pequenos. Os grandes clubes brasileiros são os que têm as maiores dívidas com a União. Segundo um relatório produzido pela empresa de consultoria BDO, os 24 clubes brasileiros de maior torcida do Brasil tiveram uma evolução da sua dívida, entre 2009 e 2013, passando de R$ 2,88 bilhões, em 2009, para R$ 5,68 bilhões, em 2013, uma evolução de 98% ou R$ 2,8 bilhões.
Os salários atrasados ainda hoje são recorrentes nos clubes da primeira divisão do futebol brasileiro. É comum ver nos noticiários esportivos, manchetes sobre atrasos no pagamento dos salários e direitos de imagem dos jogadores e profissionais do futebol. O recente consagrado campeão brasileiro de 2015, o Sport Club Corinthians Paulista, sofreu esse ano com salários atrasados e, segundo sua própria assessoria, chegou a dever direitos de imagem por três meses para seu plantel.
Segundo um ranking da Pluri Consultoria que analisou a saúde financeira dos 30 maiores clubes brasileiros, dos quatro clubes que conseguiram o acesso à série A para 2016, o Botafogo é o último colocado ocupando a vigésima oitava colocação, o Vitória é o quarto melhor colocado no ranking, o América Mineiro o décimo e o Santa Cruz o vigésimo quarto.
Com o objetivo de promover a gestão transparente e democrática e o equilíbrio financeiro das entidades desportivas profissionais de futebol foi criada a MP 671, que permitia a renegociação da dívida dos clubes e o refinanciamento em até 240 meses e outros benefícios como a redução de 80% de multas, de 50% de Juros e de 100% dos encargos legais, desde que os clubes atendam às exigências de contrapartida, tais como pagamento em dia das obrigações tributárias, trabalhistas e de imagem para todos os jogadores; publicar demonstrações contábeis padronizadas e auditadas; gastar, no máximo, 80% da receita bruta com o futebol e adotar um cronograma progressivo de redução dos déficits dentre outros. No final das contas, a MP 671/2015 foi convertida na Lei N. 13.155, publicada em 04 de agosto de 2015.
Diante desse cenário instável, surge o questionamento: os clubes que sobem à primeira divisão, tem condição de se manter financeiramente sem perder jogadores que foram fundamentais para seu acesso e terão condições econômicas de concorrer com os clubes de maior porte de arrecadação?
O cenário ainda é novo com relação às medidas tomadas pelos clubes para manter suas contas em dia. Também é cedo para tirar conclusões ou projetar perspectivas sobre os resultados do campeonato do ano seguinte. A única certeza é que o Campeonato Brasileiro da Série A é uma competição que gera uma enorme visibilidade, movimentando altas cifras para os clubes e as marcas, sendo o sonho da maioria dos clubes que disputam as divisões inferiores do futebol brasileiro e de seus torcedores.
Fontes:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13155.htm> Acesso em: 20 ago.2015
http://www.bdobrazil.com.br/pt/PDFs/Estudos_Zipados/Valor_das_Marcas_2015.pdf