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Um legado destruído

José Luiz Noleto 18 de fevereiro de 2017

‘’Não é a ”esquina do mundo” como a do Times Square em Nova York. Não acontece alguma coisa no meu coração quando cruzo a Ipiranga com a São João como os novos baianos. Mas Caraíbas com a velha Turiaçu é a aliança entre o velho Palestra e o novo Palmeiras do Allianz Parque na novíssima rua Palestra Itália.’’ – Mauro Beting

Bola rolando! Ambulante, ‘’danone’’, churrasquinho de rua, camisa pirata, amizade, fraternidade e amor por um clube. Essa é, ou pelo menos era, a Turiaçu, hoje Palestra Itália em dia de jogo do Palmeiras. Uma rua em Perdizes que pulsa, que vive, que exala Palmeiras a todo vapor. Seja o jogo na mais nova Arena Allianz Parque ou simplesmente no barzinho em frente ao estádio,  espírito palmeirense ali vive.

Pintada de verde, é símbolo histórico de uma das mais apaixonadas torcidas do país. Não de hoje, muito menos da nova arena, mas sim de muito tempo. Desde a criação do até então Palestra Itália em 1914. Mesmo localizada em região bem frequentada na zona oeste de São Paulo, todos sabem: Dia de jogo é dia de jogo. Dia de festa, dia de Palmeiras.

Mas o Brasil, país onde os valores são invertidos, onde o sistema político é um lixo, onde os órgãos públicos são incompetentes e incoerentes. O país da vergonha alheia.

Aos que não sabem, algo vem acontecendo com esse histórico centro palmeirense. Desde a reta final do brasileirão de 2016 algo vem acontecendo. Dia de jogo? Lá está a PM expulsando as pessoas da rua ao redor do estádio desde às 9 da manhã. Isso mesmo, desde às 9 da manhã de um local público. Não falo de uma ou duas viaturas. Falo de centenas de policiais, de motos, de cavalaria. Enfim, só entra na RUA torcedor com ingresso na mão. Esse plano esdrúxulo da Polícia Militar de São Paulo e do MP visa ‘’evitar baderna’’ e ‘’facilitar a vida dos moradores nas proximidades’’. Papo pra boi dormir, obviamente.

Baderna? A festa ao redor do estádio é um marco histórico da torcida, desde os primórdios da criação do clube. O Allianz Parque existe a pouco tempo. Mas o Parque Antártica sempre existiu ali, naquele mesmo local, naquela mesma rua, com a mesma festa. Até mesmo quando o Palmeiras mandava seus jogos no Pacaembu, ali havia festa. Todos sabem disso. A PM sabe, o MP sabe, o morador sabe, o cidadão paulistano sabe.

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Festa na rua dos torcedores palmeirenses em partida do Campeonato Brasileiro de 2016. Foto: Fábio Soares/Futebol de Campo.

Mas os vexames do sistema regulador e fiscalizador brasileiro são rotineiros.

Não precisa ser palmeirense, muito menos um exímio conhecedor do ramo para se indignar. Futebol não é isso, há uma inversão de valores evidente em nosso país. Costumes, tradições, patrimônios sócio-culturais são deixados de lado e oprimidos, enquanto o mais alto escalão da política brasileira continua nesta farra desenfreada sem haver protesto de rua que mude essa realidade. Costumo reiterar a frase de um grande conhecido meu e percebo que com o passar do tempo ela faz mais sentido do que nunca: ‘’Cada vez mais admiro os otimistas’’.

Mas não acabo aqui. Simone de Beauvoir, feminista e teórica social francesa certa vez disse:

‘’O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.‘’

Pois é, o principal financiador e apoiador deste sistema trata-se de Paulo Nobre, ex-presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras. Como palmeirense torcedor não nego seu papel essencial no gerenciamento das finanças e dos problemas do clube. Porém, a crítica pontual deve ser feita. Paulo, em vídeo esclareceu seu apoio incondicional a esta nova ação, tratando com desrespeito e desonra todo o legado desse estádio, todo o legado e a disposição do torcedor palmeirense. Que graças a anos de muito amor e dedicação ao clube, conseguiu transformar essa festa em símbolo e patrimônio de nosso futebol. E pior, hoje não mais, mas há alguns anos Nobre era assíduo frequentador desse mesmo estádio, desse mesmo legado.

E a nos? E quando digo isso não é só ao torcedor palmeirense, cabe resistirmos contra esses absurdos, o futebol moderno e tudo aquilo que de alguma forma consideramos errado e desleal.

LIBEREM A FESTA!

UM ABRAÇO, TORCEDOR BRASILEIRO!   

Recomendadíssimo o vídeo do produtor e diretor de vídeo palmeirense Gabriel Santoro:

Ver também: http://maurobeting.blogosfera.uol.com.br/2016/10/24/a-rua-palestra-italia-e-do-palmeiras-o-bairro-e-do-clube-o-mp-e-mais-do-promotor-que-do-publico/

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José Luiz Noleto

18 anos, doente pelo Fortaleza Esporte Clube, estudante de Direito e viciado em futebol. Seja em qual for o âmbito.

Como citar

NOLETO, José Luiz. Um legado destruído. Ludopédio, São Paulo, v. 92, n. 15, 2017.
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    José Luiz Noleto