Jean-Paul Sartre foi um ensaísta, romancista e filósofo francês do século XX que, entre outras coisas, escreveu sobre a aparência e a essência. Invoco seu nome e parte de sua obra para traçar um paralelo com o Corinthians, provável campeão brasileiro de 2017.
O Corinthians nasceu, cresceu e agigantou-se sob a pecha de “time do povo”, desde a sua fundação, no Bairro do Bom Retiro, quando era o time dos operários da capital paulista. Isso fez com que, entre outras façanhas, mantivesse uma torcida gigantesca, mesmo durante o jejum de 22 anos sem títulos, entre 1954 e 1977.
O Corinthians é mais que um time. É um fenômeno social, quase uma religião. Tem adeptos em todas as classes sociais, espalhados por todas as partes do mundo. Onde houver brasileiros, haverá corintianos. E só é o que é graças à sua fiel torcida.
Dê uma rápida olhada nas arquibancadas do moderno, superfaturado e mal explicado Itaquerão. Compare com o Pacaembu ou o Morumbi das grandes decisões dos anos 1990 e veja a mudança do perfil do torcedor. Espantaram o pobre e, consequentemente, o preto do estádio, majorando o preço dos ingressos e os deixando exclusivamente disponíveis ao sócio-torcedor, que se vê obrigado a gastar mais para comprar ingressos em partidas nas quais não iria para poder ter prioridade nos jogos de maior procura; lançaram, perto do centenário, camisas comemorativas, a R$ 800 cada; até cruzeiro de navio promoveram. Evidentemente, a camada mais pobre da população, a corintiana-maloqueira-e-sofredora, foi alijada por falta de condição financeira. Este não se vê mais no espelho do time.
Perde-se o vínculo. Pior que isso, abre-se uma porta para que o futuro torcedor, aquele que brotava nas camadas mais pobres, opte por times do exterior, já que os rivais, exceto o São Paulo, cujas seguidas campanhas pífias que tem cumprido não permitem que enfie a mão no bolso do seu torcedor, também majoraram tudo o que envolve suas cores.