Quem acompanha o Atlético de Madrid vencedor, competitivo e respeitado dos últimos anos pode não imaginar a situação que o clube passou no final do final do século anterior.
Na temporada 1999/00, o Atlético de Madrid terminou na penúltima posição e acabou rebaixado no campeonato espanhol. No mesmo ano o rival Real Madrid vencera a Champions League. Pela oitava vez.
O elenco que caiu não era fraco. O Atleti possuía em seus quadros jogadores como Jimmy Floyd Hassebaink, Santiago Solari, José Mari, Baraja, Gamarra e outros. Estava longe de ser um dos piores, talvez fosse até um dos cinco melhores times da competição. Acontece que o futebol não é somente decidido dentro das quatro linhas.
Naquele período, o clube era um caos administrativo comandado pelo folclórico presidente Jesus Gil y Gil. O cartola faria inveja aos seus pares brasileiros: carismático, corrupto, polêmico, bonachão, amado, odiado. Em dezembro de 1999, Gil y Gil foi preso acusado de malversação de verbas pela justiça espanhola e precisou deixar o comando do clube. Para piorar, o administrador judicial que entrara no lugar do antigo mandatário, Luis Manuel Rubí, declarou clube em falência técnica devido à sua precária situação financeira. Dias amargos para os colchoneros com tristes notícias nas páginas esportivas e duras revelações nas páginas policiais.
Humilhado dentro e fora do campo, era hora de recolher os cacos e passar um ano no “inferno” da segunda divisão. Um bate-e-volta rápido, como tem que ser com todos os clubes grandes. Rápido e indolor.
Mas aconteceu uma tragédia. O clube acabou em 4º lugar e não conseguiu subir. Terminou o campeonato com a mesma pontuação e campanha do Tenerife, clube que acabaria em terceiro lugar e subindo para a Primeira Divisão da La Liga devido ao saldo de gols superior. Mais um golpe do destino, este senhor tão cruel em alguns momentos da história do Atlético.
Para levantar o moral do torcedor dos Rojiblancos, o clube lançou na temporada 2001-02 (a segunda na divisão inferior) uma campanha publicitária que mais parecia uma reflexão. Na peça, uma criança de cerca de 10 anos pergunta ao pai porque eles torcem para o Atlético de Madrid (“Papá, ¿Por qué somos del Atleti?”). O pai, surpreso, não sabe o que dizer. Não há sorriso, nem satisfação das duas partes. A propaganda oferece a resposta: “No es fácil de explicar. Pero es algo muy, muy grande”.
A pergunta não deveria ser o porquê torcem para o Atlético de Madrid. E sim, por que não torceriam? Se o futebol é uma metáfora da vida, a esperança de dias melhores não deveria morrer. Na mesma temporada, o clube acabou campeão da segunda divisão e voltou para o seu devido lugar. As páginas negras acabaram virando aprendizado para saborear ainda mais as jornadas futuras felizes.
O menino não deve ter se arrependido de não ter abandonado o Atleti. Continuar torcendo para o Atlético de Madrid no início do século poderia não ser uma decisão racional. Especialmente para uma criança. Mas o futebol não é racional. É uma parte da loucura que dá algum sentido e ilusão para nossas vidas pasteurizadas.