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A história centenária do Vasco em Jogos Olímpicos (1920 – 2021) – Parte 1

Esta matéria e pesquisa visa dar voz aos mais de 160 atletas vascaínos (pesquisas anteriores falavam em 126 atletas, porém este trabalho conseguiu resgatar vários nomes que estavam apagados na história do Vasco) que disputaram os Jogos Olímpicos entre as edições de 1920 em Antuérpia até os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, que ocorreu na verdade em 2021 devido à pandemia. O Vasco tem uma história centenária nos Jogos Olímpicos que precisa ser valorizada. O clube não enviou atletas aos Jogos Olímpicos apenas nas edições de 1924, 1928, 1966 e 1992, além das edições anteriores a 1920 quando o Brasil ainda não participava dos Jogos Olímpicos.

O Vasco é tão importante para história do esporte mundial, que o clube se fosse um país estaria à frente do Uruguai (2 medalhas de ouro e 10 medalhas no geral) e Portugal (4 medalhas de ouro e 24 medalhas no geral) no quadro de medalhas. Em números gerais, o Vasco detém 9 medalhas de ouro e 40 medalhas no quadro geral se for contabilizar medalhas por atleta. É valido lembrar que se fosse contabilizar como país, Adriana Behar e Shelda renderiam apenas uma medalha, assim como Ricardo Graça e Lucão apenas uma no futebol ou revezamento 4×100 no atletismo e na natação em 2000, porém mesmo assim o clube ficaria à frente das nações citadas no quadro por modalidade.

1º atleta do Vasco a disputar as Olímpiadas: Angelo Gammaro

O primeiro atleta do Vasco a competir nas olímpiadas foi Angelo Gammaro, o Angelú, em 1920. Na época, competiu em duas modalidades: natação e polo aquático. No polo aquático, o atleta chegou até às quartas-de-final com a seleção brasileira, sendo derrotado por 7 a 3 para Suécia. Outro atleta que ficou próximo de ir para às olímpiadas foi o remador Claudionor Provenzano, um dos maiores nomes do Remo na história do Vasco, o atleta ficou doente antes da competição, porém Claudionor Provenzano mais tarde disputou os Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1932.

Angelo Gammaro está ajoelhado no centro da imagem (UFRGS)
Angelo Gammaro está ajoelhado no centro da imagem. Fonte: UFRGS
Angelo Gammaro como patrão numa guarnição do Vasco (Foto: Acervo da Família Campos)
Angelo Gammaro como patrão numa guarnição do Vasco. Foto: Acervo da Família Campos
Angelo Gammaro como patrão numa guarnição do Vasco (Foto: Acervo da Família Campos)
Jornal O Paiz (RJ) falando sobre os atletas convocados para os Jogos Olímpicos de Antuérpia. Fonte: Reprodução
Claudionor Provenzano, atleta do Vasco, sendo desconvocado antes dos Jogos de Antuérpia / Jornal O Paiz (RJ)
Claudionor Provenzano, atleta do Vasco, sendo desconvocado antes dos Jogos de Antuérpia / Jornal O Paiz (RJ). Fonte: Reprodução

Nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, o Vasco não teve nenhum representante. Em 1924, o chefe da delegação Américo Netto não quis levar nenhum atleta do Rio de Janeiro por conta da falta de apoio da CBD, foram apenas 3 atletas por conta própria, mas sem qualquer vínculo com o Vasco. Em 1928, o Brasil não teve representantes por conta da crise econômica que assolava o país.

Jornal dos Sports (RJ) mostrando a campanha do Vasco para arrecadar dinheiros aos atletas que participariam das olímpiadas
Jornal dos Sports (RJ) mostrando a campanha do Vasco para arrecadar dinheiros aos atletas que participariam das Olímpiadas. Fonte: Reprodução

Em 1932, o Brasil ainda sofria com as consequências da Crise de 1929 e a Revolução Constitucionalista que atingia São Paulo. Sem recursos, a delegação brasileira teve que viajar num cargueiro, o Itaquicé, ao lado de 55 mil sacas de café e vendendo estas ao longo do caminho. Enquanto isso, o Comitê Olímpico Nacional bancava a viagem de dirigentes e seus familiares. No final das contas, apenas 66 atletas dos 82 que viajaram conseguiram competir. E a situação poderia ser pior se não fosse o Vasco, que fez campanha de arrecadação de fundos para os atletas.

Nas Olímpiadas de 1932, o Vasco enviou alguns atletas de renome, como o campeão sul-americano Vasco de Carvalho, que além de atleta era diretor de remo do clube, o timoneiro Amaro Miranda, o campeão sul-americano e onze vezes campeão brasileiro Claudionor Provenzano. o campeão sul-americano e brasileiro Francisco Carlos de Bricio, o tetracampeão brasileiro Joaquim Faria. Outros nomes do remo também participaram, como José Pichler, José Rodrigues Mó e Adamor Pinho. No atletismo, destaque para José Xavier, que disputou os 100 metros rasos. Na mesma prova, o Vasco ainda teve Mário de Araújo. O atleta Esmeraldo Ferreira (atletismo) chegou a viajar para Los Angeles, mas não chegou a competir. No Polo Aquático, o Vasco enviou o campeão brasileiro Luiz Henrique da Silva, o “Pernambucano”, que foi eliminado dos jogos após agredir o árbitro na partida contra Alemanha.

O Vasco também teve uma importância ímpar na preparação de alguns atletas, que antes dos jogos ficaram concentrados e treinaram em São Januário, que era o maior estádio do país na época. O estádio de São Januário também serviu de preparação para os atletas olímpicos argentinos.

Jornal dos Sports (RJ) relatando que os atletas treinariam e ficariam hospedados em São Januário
Jornal dos Sports (RJ) relatando que os atletas treinariam e ficariam hospedados em São Januário. Fonte: Reprodução
Atletas argentinos treinaram em São Januário antes de irem para Los Angeles / Jornal dos Sports (RJ)
Atletas argentinos treinaram em São Januário antes de irem para Los Angeles / Jornal dos Sports (RJ). Fonte: Reprodução

A Olímpiada de 1936 em Berlim ficou marcada pelo atleta que calou Adolf Hitler e que virou um símbolo contra o racismo: Jesse Owens, levou 4 medalhas de ouro naqueles Jogos Olímpicos e entrou na história do esporte mundial.

E aonde entra o Vasco na história? O clube que combateu o racismo no Brasil não poderia ficar de fora deste momento histórico. Nesta edição, o clube enviou para Berlim o atleta Antônio Damaso de Carvalho, que morava debaixo da arquibancada de São Januário e conviveu com o atleta americano durante os Jogos Olímpicos de Berlim.

Treinando nas antigas pistas olímpicas do estádio de São Januário, Antônio disputou os Jogos da Exposição Pan-Americana de Dallas em 1937, que para alguns historiadores teria sido o primeiro Pan-Americano da história. Damasso foi o último atleta brasileiro a falecer que disputou este torneio e contou a Folha de São Paulo em 2007 sobre o racismo que os atletas brasileiros sofreram nos EUA, que na época não permitia que pessoas negras sentassem nos primeiros bancos das conduções:

“Na minha cabeça, não entendia aquela besteira, éramos uma equipe e andávamos todos juntos. Não podia deixar os meus companheiros de time em outro lugar apenas por causa da sua pele”, conta Antônio.

 

Outros atletas vascaínos que disputaram os Jogos Olímpicos de Berlim:

Dalmo de Oliveira Teixeira: Foi atleta velocista do Vasco da Gama e campeão carioca de salto em distância em 1935. Sua participação nos Jogos Olímpicos de 1936 envolve a polêmica que marcou a representação brasileira, que chegou a Berlim com duas delegações: uma encabeçada pela CBD, que não foi reconhecida pelo COI (COB), e a outra liderada pelo COB. Às vésperas do início dos Jogos, os atletas da CBD foram incorporados à delegação do COB e, por essa razão, em muitos documentos não consta o nome de Dalmo. Participou da prova de salto em distância.

Oswaldo Ignácio Domingues: Atleta velocista do Vasco da Gama. Disputou a prova eliminatória de 100 metros rasos, mas devido sua eliminação precoce, decidiu focar nos estudos. Oswaldo passou pela mesma polêmica que Dalmo, recebendo reconhecimento de participação apenas em 2006.

Adamor Pinho Gonçalves: Era remador.

Frederico Guilherme Tadewald: Foi campeão sul-americano e brasileiro, disputou as Olimpíadas como remador.

A Olímpiada não foi realizada nos anos de 1940 e 1944 devido à Segunda Guerra Mundial, só retornando em 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres. E esta edição foi especial para o clube, já que teve o seu primeiro atleta medalhista: ALFREDO DA MOTTA.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gustavo Dias

Torcedor Santista e professor de Sociologia na Universidade Estadual de Montes Claros.

Como citar

DIAS, Gustavo. A história centenária do Vasco em Jogos Olímpicos (1920 – 2021) – Parte 1. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 49, 2021.
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