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As duas faces de uma final imperdível

Ano 2000. Estádio do Morumbi. Final de noite do dia 6 de junho, quase dia 7. Dentro da grande área localizada à direita das cabines de rádio, o camisa 7 do Sport Club Corinthians Paulista, camisa branca, short preto e pés pequenos, volta ao meio de campo, levado pelos companheiros. 11 metros à sua frente, o goleiro meio calvo da Sociedade Esportiva Palmeiras, recém empossado herói mais uma vez na competição mais importante das américas, corre enlouquecido em direção à torcida verde no estádio, que poderia estar menor em número, mas não em festa. O time estava na final da Libertadores pelo segundo ano consecutivo, e ainda eliminando o maior rival no processo. Aos corinthianos, restava a amargura. Alguns com certeza já viam aquele time que tinha Marcelinho, Ricardinho, Edílson, Luizão, Edu, entre outros, disputando a grande final da Libertadores contra aquele Boca Juniors de Schelotto, Riquelme, Palermo. Talvez pudesse ser um dos maiores duelos da história da Libertadores. Não foi possível. E quem sabe quando isso poderia acontecer?

O Corinthians tem se destacado pela união da equipe. Foto: Alessandra A.

Bom, a resposta e a história estão diante do Corinthians: em 2012, o time disputa a primeira final de Libertadores de sua história. E diferente de diversas ocasiões anteriores, como 1977, 1991, 1996, 1999, 2000, 2006 e 2011, quando a equipe foi eliminada também pela histeria e fixação em conquistar a competição, desta vez o clube vai mais tranquilo do que jamais esteve para uma situação decisiva. A verdade é uma só: nunca em sua história o Sport Club Corinthians Paulista esteve tão preparado para vencer a Libertadores, dentro e fora de campo. A ansiedade existe, mas dessa vez o técnico Tite está sabendo controlar esse aspecto emocional com seus jogadores (alguns campeões da Libertadores, como Danilo e Alex), e a própria diretoria do clube também. E a chance de provar o sucesso dessa abordagem acontecerá nas próximas duas quartas-feiras, com Tite podendo virar um dos maiores técnicos do Corinthians em todos os tempos, após tirar o time da draga em 2011 e levar o clube ao título brasileiro e, quem sabe, a competição de futebol mais importante da América do Sul.

Nos lados do Boca, um jogador é o maior símbolo da atual campanha e quiçá da própria equipe nos últimos anos: Juan Román Riquelme comandou os “bosteros” rumo à décima final da Libertadores, dentre as quais Riquelme tem participação fundamental em duas: em 2000, comandou a equipe contra o Palmeiras e venceu nos pênaltis em pleno Morumbi. Em 2007, Román destroçou o Grêmio com 3 gols nas duas partidas das finais( 3 x 0 em La Bombonera e 2 x 0 no Olímpico). Agora, pode comandar um Boca limitado, se comparado aos últimos anos, rumo ao sétimo título na competição. Com o talento de um grande jogador, no entanto, é possível que o clube vença o seu quinto clube brasileiro em uma final. Os anteriores foram o Cruzeiro em 1977, o Palmeiras em 2000, o Santos em 2003 e o Grêmio em 2007.

Riquelme e Santiago Silva comemoram gol do Boca Juniors na Libertadores. Foto: Federico Peretti.

A cobertura dos dois veículos esportivos dos dois países, o Olé e o Lance!, estão bem parecidas: apesar de cada um exaltar o time de seu país, não há maiores demonstrações de favoritismo de um lado ou de outro. A sobriedade impera, até com fartas doses de respeito. O Olé, por exemplo, põe uma fala de Tite em destaque no noticiário do Boca Juniors em sua versão eletrônica: “Não podemos temer o Boca. Se a bola estiver no seu pé, eles deixam de gritar”, e sem nenhuma ironia no texto ou na manchete. Há espaço também para demonstrações de respeito como as de Júlio Cesar Falcioni. Ao mesmo tempo em que não há tomadas de posição editorial, há entrevistas que respondem a essa declaração. Hugo “El Loco” Gatti, goleiro do Boca no bicampeonato da Libertadores em 1977-78, declarou: Têm medo do Boca. Ainda disse que, apesar de a equipe do Boca não ser sensacional, confia no clube para conquistar outro título. Ainda há uma matéria curiosa sobre a cobertura da imprensa brasileira que está na Argentina para a primeira partida da final, chamada “Os espiões do Timão”.

Na versão eletrônica do diário Lance!, a espera pela catimba e pelas dificuldades na Bombonera é uma certeza para um clube que encontrará um time “cascudo” e experiente em situações decisivas na Libertadores. Não parece a mim uma desculpa antecipada em caso de derrota. Em outra matéria, essa muito bem pensada, torcedores corintianos contam como irão à Argentina para ver a final sem ingresso garantido. Sacrifício pertinente, na visão destes torcedores, para assistir in loco ao momento mais importante da história do clube. Há também espaço para uma sátira com a decisão, com direito a um Maradona capenga e um “típico” torcedor do Corinthians (a partir dos 03:05).

Vamos observar também, com mais calma, a cobertura antes da partida decisiva no Pacaembu. Para o Corinthians, o maior momento de sua história; Para o Boca, a chance de se igualar ao Independiente com 7 títulos da Libertadores. Uma final imperdível.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Henrique de Almeida Soares Coelho

Sou um jornalista recém-formado,apaixonado pelo que eu faço, por futebol, por leitura e muitas outras coisas. Talvez com os textos vocês possam conhecer um pouco mais a meu respeito.

Como citar

COELHO, Henrique de Almeida Soares. As duas faces de uma final imperdível. Ludopédio, São Paulo, v. 37, n. 1, 2012.
Leia também:
  • 33.3

    Chutes no traseiro, erros de tradução, desinformação e o desvio de foco

    Henrique de Almeida Soares Coelho
  • 30.2

    Boas relações e conspirações

    Henrique de Almeida Soares Coelho
  • 27.5

    A nova fase de um ídolo. E um rápido comentário…

    Henrique de Almeida Soares Coelho