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Legados da Copa do Mundo de Futebol no Brasil – mudanças de postura

Ricardo André Richter 29 de dezembro de 2014

Confusões e incertezas envolvendo a arbitragem. Manifestações racistas sendo o principal destaque da comunicação esportiva. Torcedores reincidentes com atitudes violentas e criminosas dentro e fora dos estádios. Atletas profissionais se destacando pela falta de profissionalismo e de respeito. Diretores e gestores de clubes limitados perante suas inúmeras responsabilidades e cobranças. Credibilidade do STJD perdida pelo caminho. Atitudes incompreensíveis por parte da CBF para organizar o futebol brasileiro. Jornalistas esportivos das principais emissoras do país novamente dando amostras que “jogam para a torcida” e que tem suas próprias verdades, por vezes muito distantes da realidade e do bom-senso.

Depois de seis meses de sediarmos a Copa do Mundo, o que se vê no futebol brasileiro são problemas profissionais, institucionais e culturais se acumulando, dificultando e/ou até impedindo que uma nova e melhor realidade possa surgir neste cenário. Parece que os problemas e as polêmicas estão se proliferando ainda mais do que antes da Copa, e de mais diferentes setores do futebol. O que está acontecendo com o futebol profissional brasileiro depois da Copa do Mundo? Onde estão os legados do mundial da FIFA?

Arena da Baixada – Curitiba. Foto: Ricardo A. Richter.

1. Incertezas e confusões envolvendo a arbitragem.

É lamentável a bagunça que a comissão de arbitragem da CBF e o respectivo departamento da FIFA criaram ao disseminarem entre os árbitros brasileiros uma interpretação equivocada sobre os lances de “bola na mão”. Para Sérgio Corrêa, presidente da comissão de arbitragem da CBF, a inovação foi mal interpretada a partir de uma palestra informativa ministrada pelo instrutor uruguaio da FIFA Jorge Larrionda, logo após a Copa do Mundo, para cerca de 70 árbitros brasileiros. A falta de clareza e de certeza sobre este tipo de lance refletiu em campo com um aumento na marcação de pênaltis e o que foi pior, alguns marcados de forma indevida. Árbitros, jogadores, diretores, torcedores, imprensa ficaram confusos com as “mudanças” nas regras e as polêmicas em torno do assunto se acumularam a cada rodada. Um novo encontro de Larrionda com árbitros, jogadores e jornalistas reiterou a regra que está em vigor desde 2011, na qual se compreende como infração uma ação deliberada com intencionalidade que resulte em toque de mão, como uma ação deliberada não intencional, mas que não configure um movimento natural do jogador. O ex-árbitro uruguaio deixou claro que se o braço está próximo ao corpo ou executa um movimento natural de corrida, por exemplo, não se trata de infração. Com estes esclarecimentos, ficam evidentes vários erros de arbitragem, entre eles a marcação de pênaltis em jogos decisivos da primeira divisão do campeonato brasileiro, custando caro aos cofres de clubes e à carreira de determinados atletas. 

A partir desta confusão fica como legado para a comissão de arbitragem da CBF e ao senhor Massimo Busacca, diretor do departamento de arbitragem da FIFA, que neste tipo de seminário é fundamental que os participantes saiam do encontro com a certeza e a clareza que o que aprenderam e ouviram é o mesmo que o palestrante quis transmitir.

2. Manifestações de injúria racial sendo o principal destaque da comunicação esportiva.

É inaceitável que ainda existam atitudes ofensivas, discriminatórias ou preconceituosas na nossa sociedade devido à cor da pele de uma pessoa. O episódio ocorrido menos de três meses depois da Copa do Mundo, na Arena do Grêmio em Porto Alegre, durante o jogo pela copa do Brasil, quando o time da casa enfrentou o Santos FC, escancarou um problema social infiltrado na sociedade brasileira – e mundial -que por vezes tenho a impressão de ser “empurrado para debaixo do tapete”, mas nunca solucionado. O Brasil e o mundo definitivamente não estão sabendo lidar com o problema, que em minha opinião, trata-se de uma limitação cultural, social e intelectual de parte da população que age desta forma preconceitosa.

Quando nos inclinamos em busca de soluções, nos deparamos com algumas “nuvens de fumaça” envolvendo o assunto, que precisa ser amplamente discutido, refletido e trabalhado. Transferindo este PROBLEMA SOCIAL para o contexto de um megaevento esportivo brasileiro que também possui seus próprios ransos e hábitos coletivos negativos, dentro de um estádio de futebol, com milhares de pessoas “anônimas”, que estão teoricamente torcendo para que seu time vença a partida dentro de campo, empurrando os atletas do seu clube com manifestações motivadoras e/ou criando um clima hostil aos atletas do clube adversário através de vaias e xingamentos, surgem desafios, como por exemplo, de que forma coibir manifestações de injúria racial dirigidas a um dos onze atletas da equipe adversária? Como garantir que o torcedor ofensor não é torcedor de um clube rival e está lá apenas para prejudicar o clube anfitrião? Quais são os critérios que diferenciam menções de injúria racial de manifestações clubísticas aceitáveis socialmente envolvendo a palavra macaco ou derivados? (ver termo “macaca” utilizado para se referir ao clube campineiro A.A. Ponte Preta).

Estamos cheios de regras e normas de conduta país a fora, no entanto, na maioria das vezes não são respeitadas por estarem muito distantes da realidade cultural, educacional e civil de parte deste público, ou seja, a sociedade precisa evoluir como um todo. Apenas através de ações concretas que visam uma maior conscientização sobre o assunto, aliadas às punições constitucionais, que conseguiremos mudar este cenário. O tema futebol pode até ser o elemento gerador das discussões, das ações e dos programas de conscientização e os eventos do futebol poderão ser um espaço social de reforço, mas não serão os momentos ou os palcos principais para tais mudanças sociais. De qualquer forma, é lamentável que um país tão miscigenado como o Brasil, tido muitas vezes como referência mundial quanto ao convívio social harmonioso entre diferentes raças e etnias, seja cenário para manchetes esportivas vistas ao longo de pelo menos duas semanas seguidas nos principais veículos de comunicação do país do futebol logo após ter sido anfitrião das seleções, dirigentes, jornalistas e torcedores dos quatro cantos do mundo.

Após incidente com a torcedora gremista os jogadores do clube fazem campanha contra o racismo. Foto: Edison Vara – Grêmio FBPA.

Perante os fatos e tentando fazer uma relação com os legados da Copa do Mundo pergunto: será que se não tivéssemos sido o país anfitrião do evento e nossa cultura, nossos hábitos e costumes, nossos problemas e nossas riquezas, nossas capacidades e limitações como pessoas e profissionais não tivessem sido tão amplamente difundidas, discutidas, questionadas e confrontadas pela imprensa internacional, pelas inúmeras instituições estrangeiras e pelos nossos hóspedes, teria, a vítima do episódio ocorrido em Porto Alegre, tido a inciativa e a coragem de manifestar suas angústias e suas tristezas publicamente no meio do jogo, interrompendo o andamento da partida? E segundo, teria a imprensa nacional, dado o destaque que nunca havia dado antes, desta forma e nestas proporções?1

3. Torcedores reincidentes com atitudes violentas e criminosas dentro e fora dos estádios.

Ainda no período pós Copa, em jogo válido pelo campeonato brasileiro entre SC Corinthians Paulista e o São Paulo FC, na Arena Corinthians, integrantes de duas torcidas organizadas do mesmo clube infelizmente promoveram a primeira grande pancadaria numa das doze modernas arenas utilizadas na Copa do Mundo. Entre os presentes na pancadaria havia torcedores que estiveram presos na Bolívia  recentemente envolvidos no episódio da morte do jovem torcedor de Oruro em jogo pela libertadores de 2013. Até quando os brasileiros que amam o futebol, que gostam ou gostariam de frequentar os estádios de futebol para prestigiar e apoiar suas equipes serão vítimas destes violentos grupos de criminosos infiltrados em torcidas organizadas? Como entender suas motivações para a violência? Como conscientizar criminosos reincidentes como estes? Como estas pessoas continuam tendo acesso aos estádios? Por que não estão estão cumprindo pena? Será que a mudança do mando de campo para outras cidades impede a presença destes elementos? Será que os legítimos torcedores corinthianos são obrigados a se confrontar com este tipo de fato agora também em sua nova e moderna arena? Será que nós brasileiros não somos capazes de criar um ambiente seguro e voltado ao entretenimento, à apreciação do esporte, ao convívio social harmonioso, à satisfação de poder incentivar sua equipe com respeito, admiração e alegria?

Existe a possibilidade das pessoas violentas se manifestarem agressivamente em qualquer lugar, no trabalho, em casa, no trânsito, no bar, na escola, mas cabe à sociedade organizada criar mecanismos de conscientização e repreensão, de forma que este tipo de atitude não comprometa a integridade física, pessoal e moral dos demais. Numa moderna arena de futebol, padrão FIFA, existem diversas formas de promover um convívio civilizado, hospitaleiro e descontraído.

Os ambientes se comunicam com as pessoas.

Conheço estações de metrô em São Paulo nas quais você não enxerga nenhum lixo jogado no chão e se questiona se as pessoas que trafegam nestas estações são as mesmas que jogam o lixo nas ruas logo ao lado das estações? Isto tem uma explicação. Significa consciência, vergonha, comunicação do espaço com as pessoas. Se vejo que o ambiente está limpo e cuidado e não vejo ninguém jogando lixo, também vou colaborar com a maioria e não corro o risco de ser repreendido publicamente, pois naquele contexto onde milhares de pessoas transitam diariamente e mesmo assim o espaço está limpo uma exceção negativa. Esta comunicação entre o contexto e as pessoas, mostra que elas procuram se adequar a determinadas normas de convivência social. Seguindo este raciocínio, acredito que seja uma possibilidade dentre inúmeras outras estratégias que podem ajudar a tornar o ambiente de um estádio de futebol mais saudável, mais civilizado, respeitoso, seguro, hospitaleiro, alegre e festivo. Ambiente este que pude vivenciar em 10 jogos da Copa do Mundo em que trabalhei, no Beira-Rio, na Arena da Baixada e no Maracanã, além das inúmeras experiências positivas que tive em arenas alemãs entre 2006 e 2012. Lembro de um jogo da Europa-League entre o VfB Stuttgart e o SL Benfica, valendo vaga para as oitavas de final, no qual assisti a partida entre torcedores de ambos os times, que torciam e vibravam civilizadamente. Considerando as extremas dificuldades que infelizmente ainda existem no Brasil quanto à violência nos estádios, não seria o mais sensato que determinados jogos ocorressem sem a presença da torcida adversária, até que um maior grau de consciência e civilidade fosse alcançado entre os torcedores?

4. Atletas profissionais se destacando pela falta de profissionalismo e desrespeito. 

Após a Copa do Mundo atletas profissionais se sentiram no direito de expressarem suas insatisfações em relação à arbitragem diretamente aos meios de comunicação, até mesmo durante as próprias transmissões das partidas em que atuavam. Não quero julgar o mérito das reclamações em relação à atuação dos árbitros, no entanto, o que chamou a atenção foi a coragem e principalmente a ousadia dos atletas, devido a forma e o momento em que se manifestaram. No caso mais discutido, o jogador Emerson Sheik, ao ser expulso por atingir o joelho de um adversário, se dirigiu a uma das câmeras utilizadas para a transmissão e chamou a principal instituição do futebol brasileiro (CBF) de “uma vergonha”. Os atletas precisam se conscientizar que existe um momento, um espaço e uma forma adequada para que as diferentes questões que envolvem o futebol sejam discutidas e tratadas. Por outro lado, percebemos neste segundo semestre do futebol brasileiro, uma impressionante pré-disposição de importantes jogadores em simular infrações e tentativas de tirar proveito de forma irregular de situações do jogo e de enganar os árbitros das partidas. Perante situações como estas, fica evidente a limitação profissional de determinados atletas do futebol brasileiro, que inclusive podem abreviar e/ou interromper carreiras de muito sucesso. Além disso, o exemplo que os atletas mais populares dos principais clubes brasileiros deixam aos jovens que estão iniciando sua carreira tem muito peso e em casos como este pode atrapalhar muito a formação. Não caberia aí um programa de educação, de qualificação profissional, um trabalho de Fair Play e/ou um código de conduta iniciado por parte dos clubes, sindicato de atletas ou por entidades como o Bom Senso Futebol Clube?

Árbitro em ação na Arena Fonte Nova. Foto: Felipe Oliveira – EC Bahia.

5. Diretores e gestores de clubes se apequenando perante suas responsabilidades.

Como justificar um jogo entre dois tradicionais clubes, ambos campeões brasileiros e com grandes torcidas, realizarem um confronto valendo vaga para a semifinal da Copa do Brasil, perante um público de apenas 8.714 torcedores? Se não bastasse isso, a partida foi realizada em pleno estádio Maracanã, que a menos de três meses havia sido o palco da final da Copa do Mundo de Futebol entre as seleções da Argentina e da Alemanha, em que centenas de milhares de brasileiros teriam pago pequenas fortunas para estarem presentes. Este é o retrato de uma gestão de clubes que precisa se profissionalizar o mais rápido possível. Uma moderna arena, um país apaixonado por futebol, dois grandes clubes brasileiros, disputando vaga para uma semifinal de Copa do Brasil, uma excelente oportunidade de aproximar torcedores e jogadores, de promover as cores e os símbolos do clube mandante, de arrecadar dinheiro com a venda dos ingressos, de fortalecer a marca do clube locatário junto a seus patrocinadores e despertar novos parceiros, de criar novas e confortáveis áreas de hospitalidade, entre outras oportunidades que não foram exploradas em sua totalidade. Neste período pós Copa é fundamental que as modernas arenas construídas e/ou reformadas ao longo dos últimos anos sejam exploradas de forma permanente, consequente e com persistência até que as estratégias de gestão estejam precisamente alinhadas ao seu público alvo ou em potencial. Este novo período exigirá dos clubes a criação ou o fortalecimento de uma estrutura extremamente profissional, comprometida, qualificada, dinâmica e criativa, capaz de alavancar a imersão dos clubes numa nova era da gestão do futebol no Brasil. Nesta fase de transição da gestão das arenas e dos clubes há clubes enfrentando dificuldades e limitações em se adequarem às novas possibilidades e correm o risco de passarem anos de marasmo devido a uma gestão retrógrada e uma infraestrutura mal explorada. É momento de coragem, de arriscar, de se abrir ao mercado e às estratégias inovadoras que já são praticadas na Europa e nos Estados Unidos, buscando intercâmbios, consultorias e parcerias que aliem o Know How internacional à cultura e às potencialidades dos brasileiros.

6. Credibilidade do STJD perdida pelo caminho.

Se por um lado torcedores e atletas deixam a desejar em relação ao que se espera destes personagens do futebol, temos visto, por outro lado, um Superior Tribunal de Justiça Desportiva sendo alvo de chacota e de falta de credibilidade junto aos clubes e torcedores. Mudanças extremas nos julgamentos e penalizações entre a primeira e a segunda decisão dos mesmos casos, falta de clareza e de coerência nos critérios técnicos dos julgamentos, além de posturas inadmissíveis e incompatíveis de auditor do próprio STJD envolvido no julgamento dos casos de injúria racial de torcedores gremistas. Pelo fato do STJD ser a principal instituição jurídica do futebol brasileiro deveria zelar muito bem pela integridade dos membros que o compõem e que decidem em prol da ética, da moral, do respeito e da justiça no futebol brasileiro. Outra questão apontada pelos críticos é o fato que de acordo com a atual estrutura, a remuneração dos membros do STJD é proferida pela CBF. Não caberia uma reformulação destra estrutura retrógrada, que propicie independência financeira ao STJD em relação à CBF?

7. Demonstrações de falta de competência da CBF para organizar o futebol brasileiro.

Por mais de duas décadas os brasileiros tinham orgulho de serem representados por grandes jogadores da história do futebol mundial como Pelé, Falcão, Zico, Romário, Ronaldo e Ronaldinho, e fora das quatro linhas tinham o conterrâneo João Havelange como o mandatário da principal entidade do futebol mundial. De forma triste e melancólica a gestão do brasileiro foi abalada por escândalos envolvendo casos de corrupção, que se estenderam até o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol Ricardo Teixeira. Aliado a isso, a extinção da entidade que representava os principais clubes do futebol brasileiro, o Clube dos Treze, em 2011, foi distanciando o futebol brasileiro de um grande sucesso de organização dos seus campeonatos e torneios. Nos últimos anos, a CBF tem sido alvo de constantes críticas por diferentes instâncias, desde torcedores, atletas, treinadores, até dirigentes e jornalistas. Para citar alguns dos motivos das reclamações neste período pós-copa está o calendário das principais competições nacionais (Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil), que obriga determinadas equipes a jogarem muitas partidas em um curto espaço de tempo de forma contínua. Além disso, enquanto que campeonatos europeus fazem uma pausa nas “datas FIFA”, reservadas a jogos entre seleções nacionais, no Brasil, os campeonatos continuam, prejudicando os clubes brasileiros que possuem jogadores convocados para a seleção nacional. Como efeito secundário, determinados jogadores de clubes brasileiros deixaram de ser convocados para a seleção nacional para não prejudicarem seus clubes com suas ausências. Um dos legados deixados pela FIFA ao país sede nas arenas utilizadas durante a Copa do Mundo é a tecnologia da linha do gol, a CBF conseguirá efetivá-la nas 20 arenas do campeonato brasileiro de 2015, contribuindo com o aumento do nível de acerto das decisões da arbitragem?

8. Jornalistas esportivos das principais emissoras do país mais uma vez dando mostras que “jogam para a torcida” e que tem suas próprias verdades.

Como sabemos muitas vezes treinadores, atletas e dirigentes ao tentarem acertar, acabam errando e sendo muito criticados pelos torcedores e jornalistas esportivos. No entanto, o que tem se evidenciado cada vez mais é justamente a falta de coerência e sensatez por parte de membros desta última categoria de personagens do futebol. Em determinado momento o jornalista defende uma continuidade do trabalho dos treinadores nos mesmos clubes, citando os exemplos bem-sucedidos de Alex Ferguson (Manchester United), Arsène Wenger (Arsenal), num momento próximo, se os resultados positivos não aparecem e os torcedores começam a criticar seus torcedores, os mesmos cronistas esportivos mudam sua postura e passam também a defender a substituição do treinador. Onde fica a capacidade de influenciar o torcedor leitor, telespectador ou ouvinte? Onde está a coerência argumentativa destes jornalistas? Onde estão os critérios, que comumente são cobrados dos árbitros em lances polêmicos e dos dirigentes ao contratarem um ou outro jogador novo que não corresponde a expectativa? No segundo semestre deste ano pude observar uma crescente no enfrentamento direto entre as opiniões de jornalistas e a compreensão de atletas, dirigentes e principalmente de treinadores. Estariam os principais protagonistas do futebol midiático (jogadores, treinadores e dirigentes) cansados de manifestações irresponsáveis, incoerentes, sensacionalistas ou até fantasiosas de determinados profissionais da comunicação? Uma reação da imprensa esportiva brasileira nos últimos anos, à falta de conhecimento e/ou acesso às notícias de bastidores do mundo da bola foi a integração de ex-atletas em seus quadros, no entanto, mais um passo tem se demonstrado necessário neste cenário rumo ao amadurecimento do jornalismo esportivo no Brasil.

Santos e São Paulo jogam na Arena Pantanal. Foto: Edson Rodrigues – Secopa – Secom MT.

Tivemos um segundo semestre borbulhante no futebol brasileiro. Muitas questões tiveram espaço na pauta dos amantes e dos profissionais do futebol brasileiro, espaço ou tiveram uma abordagem inovadora. Como sabemos, inovações podem provocar desconforto, desacomodar os acomodados, mas também abrir novas oportunidades e despertar novos caminhos para um desenvolvimento responsável. Para que as mudanças necessárias para o bem do futebol brasileiro sejam concretizadas é necessário que todos os envolvidos, desde torcedores, atletas, treinadores, dirigentes de clubes e federações, jornalistas e empresários estejam comprometidos em darem suas respectivas contribuições. E 2015 será um ótimo ano para isso.

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[1] A postura do goleiro do Santos FC, Aranha, foi uma demonstração de que por trás de um atleta profissional existe um ser humano, o qual apesar de estar atuando profissionalmente, ouve, enxerga e principalmente sente o que se passa ao seu redor, também fora das quatro linhas. E como efeito secundário, este tipo de atitude, também gera um reforço à desmistificação dos jogadores de futebol dos grandes clubes (que já vem ocorrendo pelo uso das redes sociais, aproximando os ídolos dos seus fãs). Além disso, com uma abertura da opinião e da agenda midiática ao longo dos últimos dois a três anos, a imprensa esportiva brasileira, começou a ceder espaço para diferentes temas, pontos de vista e instâncias que fazem parte do mundo do esporte. Acredito ainda que, uma parte da conquista de espaço na imprensa por parte dos atletas profissionais de futebol se deva à criação do movimento Bom Senso Futebol Clube, que por sua vez, teve maior quórum com o retorno de jogadores brasileiros da Europa e a proximidade da realização da Copa do Mundo e da Copa das Confederações no Brasil (trazendo consigo a visibilidade internacional já mencionada anteriormente).

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Ricardo André Richter

Doutorando em Educação Física pela Universidade Eberhard-Karls Tubingen. É consultor em Gestão Esportiva e Programas de Qualificação na Europa da ERW Consulting.

Como citar

RICHTER, Ricardo André. Legados da Copa do Mundo de Futebol no Brasil – mudanças de postura. Ludopédio, São Paulo, v. 66, n. 9, 2014.
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