Subitamente e de forma abrupta, fui surpreendido com a notícia da morte de Diego Armando Maradona Franco. Ao me dar a notícia, o espanto na voz da minha mãe me causou uma salada múltipla e indescritível de sentimentos. Parei. As palavras aqui contidas vieram em um único fôlego e intumescidas de lágrimas.
Confesso que não sou um apaixonado nem tampouco um seguidor assíduo e fiel da carreira de Maradona. Por limitação e questões de competência técnica, não ousava entrar na querela histórica nem tampouco responder a indagação: Pelé ou Maradona?
Também não sou um telespectador nato do futebol e jogo médio ruim, mas nada disso impede a admiração e o reconhecimento de um gigante. A envergadura de Maradona não tem nacionalidade. É inquestionável.
Dieguito foi deliberadamente um impertinente. Em tempos de bom mocismo e puritanismo esportivo, o argentino rasgou o livro de regras e dançou com a bola nos pés. Em um contexto “laico” usou a mão de Deus para justificar um gol tido como irregular e, no mesmo episódio, pintou uma obra prima reconhecida como uma das mais belas de todas as copas. Mostrou que a rivalidade pode proporcionar situações incríveis.
Viveu na fronteira (in)tensa do conflito, do embate e do encontro. Um artista. Um bailarino profano. Um indomável. Um ser humano atento e sensível ao seu povo e, nas palavras do presidente Lula, um defensor da soberania latinoamericana. Não posso negar a relação simbiótica existente entre o jogo e o jogador, o esporte e o atleta, a profissão e o profissional, os pés e a bola. Contudo, para um D10S, o futebol, com toda a sua grandeza, ficou pequeno.
A genialidade, a leveza, a maestria e a irreverência do craque não se limitam aos gols e às quatro linhas. Maradona nos ensinou que a vida se vive na divergência, no contraditório, no dissenso e que a maior beleza e retribuição possível é vivê-la, intensamente, na sua integralidade
Dentre muitos deuses e muitas deusas, eu só acredito naqueles que podem dançar. Você dançou, gênio. Dancemos a maluca e imprevisível contradição do viver. Vivamos.
Gracias, Dieguito.