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Més que un clube: a relação entre o Futbol Club Barcelona e Lionel Messi

Lionel nasceu em Rosário na Argentina em 1987, em um bairro de classe média ao sul da cidade, no qual, seu pai, Jorge era funcionário de uma grande indústria e sua mãe era dona de casa. Começou a jogar futebol por volta dos 5 anos de idade quando sua avó Célia o levou ao Fútbol Club Grandoli a poucas quadras de sua casa, pois seu irmão Matias já treinava no local e Rodrigo jogava no mesmo terreno. No local treinava apenas os garotos de sete anos de idade, mas Messi com a falta de jogadores em uma das partidas adentrou o campo e conseguia jogar com os sujeitos em campo; cujo, sua capacidade o levou a jogar na base do Newell´s Old Boys da Argentina. Neste clube, aos nove anos se notou que Lionel era muito baixo para a média das crianças de sua idade e foi encaminhado para o endocrinologista Dr. Diego Schwarztein. A partir desse momento decidiu que Messi devia receber uma dose de hormônios diariamente, isso dava ao total, um gasto de mil dólares por mês. Posteriormente, em uma negociação interessante entre o clube e o River Plate, por conta dos custos dos tratamentos, os milionários decidiram não apostar em Messi, apontando como apenas mais um garoto interessante. Com isso, alguns agentes souberam que a família estava descontente com o suporte dado pelo clube ao jogador e através de conexões veio uma possibilidade de uma avaliação de Messi no Club Futbol Barcelona (TREJO; WILLIAMS, 2020). Aos treze anos de idade, apesar de seu problema de crescimento, o clube apostou nele e o ajudou com o tratamento hormonal. Mas ainda precisava ajeitar uma questão: a da família de Messi. Como Trejo e Williams (2020) trazem:

“The conditions offered to Messi and his family – the third variable for Menger – included an apartment, a salary for Jorge, a financial bonus in relation to Messi signing with FC Barcelona, the continuation of the expensive medical treatment, and a very different environment for training.” (TREJO; WILLIAMS, 2020, p. 365)

Messi adentrou a La Masia, aos 13 anos e ficou lá até os 16 anos de idade participando das categorias de base do Futbol Club Barcelona. Em 2003 participou de uma partida amistosa em Portugal, em que se destacou, chegando ao time principal em 2004 (TREJO; LEVINSKY, 2016). O time do Barcelona de 2004 contava com grandes estrelas, como: Ronaldinho Gaúcho, Samuel Eto´o, Deco, entre outros. Marcando seu primeiro gol em 2005 pela La Liga, a primeira divisão da Espanha. Naquele mesmo ano, se tornou campeão sub-20 no mundial de seleções, com a Argentina, sendo um dos principais destaques da albiceleste.

Messi
Foto: Wikipédia

A formação enquanto um gênio no futebol é interessante de ser pensada. Como a de Pelé que elevou o Brasil ao seu primeiro campeonato mundial, ou Maradona ganhando o segundo mundial de seleções pela Argentina, depois da Argentina ter ganhando um mundial contestado por muito, pois aconteceu em um regime militar. Tendo causado grande desconfiança da legitimidade daquela conquista no território Argentino. Com seu segundo mundial, conquistado pela seleção Argentina e tendo como seu grande nome Maradona, colocando a seleção em um patamar das grandes seleções do mundo. Para Messi, não é diferente, elevando o Barcelona a um lugar que nunca esteve antes. Por essas questões, Trejo e Levinsky (2016) apontou o impacto da genialidade de Wolfang Amadeus Mozart em comparação a esses futebolistas, por exemplo:

“Para explicar el impacto de la genialidad, el sociólogo Norbert Elias propuso ubicar el caso de Wolfang Amadeus Mozart como el compositor que marcó la transición entre el estilo Barroco hacia el denominado Clasicismo. La tesis de Elias ha sido motivo de controversias, sin embargo, su idea de la genialidad se expresa en los individuos que marcan transiciones de épocas.” (TREJO; LEVINSKY, 2016, p. 153)

Para Elias (1995) a estrutura social no contexto de Mozart apresentava um conflito entre os establishment, cortesão e grupos burgueses. Chegando ao fim essa disputa no fim do século XX. A vida de Mozart ilustrava aspectos do burguês que servia a corte, no qual, se estabelecia uma distribuição social de poder na sociedade de status. Mozart lutou contra essa estrutura e a abalou de certo modo, com sua ópera e genialidade. Por isso, ao observamos artista, devemos olhar para quatro elementos trazido por Trejo e Williams (2020): “These are: (1) the talent s/he possesses; (2) the ‘team’ that surrounds the artist; (3) the material conditions that help to shape their career; and (4) the evaluation that is sequentially made of his/her work” . Esses quatro elementos podem ser visto na carreira de Lionel Messi. No qual, quando observamos Messi, podemos afirmar que se encaixa nesse caso, em que, o impacto de sua genialidade marcou um período. No clube do Barcelona, esse período começa com a chegada do treinador de futebol Pep Guardiola em 2008, promovendo mudanças na equipe, enquanto Messi estava se convertendo em uma das grandes estrelas do clube. Nesse período de transição em andamento e a aproximação das olimpíadas que era um dos objetivos do jogador participar do evento esportivo. Então houve um conflito entre o jogador e o presidente do clube, Joan Laporta. A disputa terminou com Guardiola pedindo para o presidente liberar o jogador para a disputa. Assim, Messi pode nessa competição conquistar o ouro pela seleção Argentina, tendo como companhia jogadores como: Aguero, Di Maria, Banega, entre outros.

Voltando para o Futbol Club Barcelona, se tornou a grande estrela do clube com a saída de Ronaldinho Gaúcho. Conquistando em 2009 todos os títulos que disputou, além de ganhar o Ballon d´Or, prêmio que é concedido ao melhor jogador do mundo. Com uma equipe que grande parte do elenco fez parte da conquista do campeonato mundial de seleções em 2010, tendo Iniesta, Xavi, Pique, entre outros. Tendo condições na sua formação para chegar aonde chegou, como o maior ídolo do clube. Pois, como dito anteriormente, as condições de sua carreira foi dada pelo Club Futbol Barcelona, com isso obteve uma boa avaliação sequencial com conquista de diversos títulos e premiações individuais. Com isso podemos analisar a carreira de um artista do futebol contemporâneo que é o Lionel Messi. No qual, se tem uma formação enquanto jogador de futebol “hibrida”, em que começou no futebol na Argentina e terminou sua formação enquanto jogador no país Catalão, Barcelona. Tanto que em sua despedida do Barcelona chorou, porque é o clube e a cidade que fazem parte de sua vida, onde construiu uma relação de identidade que transcende gerações, como um dos maiores jogadores do clube.

Na série This is football, no capítulo Fascinação, observamos muito dessa relação do jogador com a La masia, categoria de base do clube. Lá usam partidas de Lionel Messi para explicar posicionamento para atletas e o comportamento que se deve ter em campo, aderindo a um estilo de jogo próprio desde essa etapa, própria do clube. Um jogo coletivo e de toque de bola. Ao observamos Messi jogando, podemos ver que ele não joga para si, mas para a equipe, elevando o nível de atletas. Nisto Pep Guardiola na série diz que muito do que se conquistou no tempo em que esteve no comando do time catalão se deve a Lionel Messi. Por tudo isto o nome desse episódio é Fascinação; uma fascinação por tudo o que ele trouxe para o clube, em uma relação recíproca e como isso afetou tudo ao seu redor. Marcando sua presença eternamente na memória do do Futbal Club Barcelona.

Messi
Foto: Divulgação FCB

Sua relação com o Futbol Club Barcelona é marcada a partir deste evento e de inúmeras conquistas até sua transferência em 2021 para o Paris Saint-Germain Football Club. Porém ao lembrar de tudo o que foi feito quando esse jogador esteve presente no clube, de inúmeras atuações fantásticas, como contra o seu maior rival, quando entra na partida vira o jogo, com um golaço e comemora mostrando sua camisa para a torcida rival, como uma forma de dizer: “o melhor do século sou eu”.

Com o fim dessa relação, podemos pensar no marco da transição que deixou, com quatro títulos da Champions League conquistados, sendo que antes de Lionel Messi, o clube apenas tinha uma conquista desse campeonato. Lembrando também que mesmo que um desses campeonatos de Uefa Champions League sendo ganho pelo time com sua participação no banco de reservas, Messi ainda sim, eleva o clube, fazendo parte de um time que marcou uma década. Um clube que é mais que um clube, com uma torcida apaixonada pelo seu maior ídolo. Que atualmente no minuto 10, canta seu nome. Um camisa 10, que esteve desde a adolescência no Futbol Club Barcelona, com uma identificação imensa.

Voltemos à Elias (1995) que retratou Mozart, ao pensar à operá e a estrutura social da sociedade naquele contexto; podemos dizer que Messi também abalou a estrutura social e tudo que envolve o clube e o transformou? Sim, com suas conquistas elevou o clube a um lugar de prestígio, sendo superior ao rival Real Madrid enquanto esteve jogando pelo Futbol Club Barcelona. Por fim, talvez até pode acontecer de Lionel Messi voltar ao Futbol Club Barcelona e ainda jogar pelo clube, não se sabe. Mas com certeza sua história estará sempre ligada ao clube na memória dos torcedores e será passa por via oral para seus filhos, do grande jogador que teve o privilégio de presenciar. Por aqui termino esse texto com uma certeza: “eu vi um dos melhores da história jogar”.

Referências

DUNNING, Eric. Sociologia do esporte e processos civilizatórios. São Paulo: Annablume, 2014.

ELIAS, Nobert. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1995.

FASCINAÇÃO. This is Football. Direção: VILE, Jesse; SMITH, Philip; BELTON, David. Amazon Prime Vídeo, 2019. Acessado em: 18 de Setembro de 2021.

TREJO, Fernando Segura M.; LEVINSKY, Sergio. Lionel Messi y la Medalla de Oro en los Juegos Olímpicos de Pekín 2008. Istor: Revista de História Internacional, v. 65, p. 153-160, 2016.

TREJO, Fernando Segura Millan; WILLIAMS. ‘One hell of a player’ the social construction of the early career of Lionel Messi: towards a sociological analysis, Soccer & Society, 21:3, 2020, 356-370, DOI: 10.1080/14660970.2019.1671829. Acessado em: 24 de Setembro de 2021.

MARTINS, Gabriel Sulino. Lionel Messi: a complexidade da criação de um gênio. Ludopédio, São Paulo, v. 128, n. 32, 2020. Acessado em: 18 de Setembro de 2021.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gabriel Sulino Martins

Graduado em Ciências Sociais - Licenciatura pela Universidade Federal de Goiás. Mestrando em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) pela Universidade Federal de Goiás. Foi bolsista pelo Centro de Ciência e Tecnologia em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional da Região Centro-Oeste. Participou como voluntário, na modalidade Programa Institucional Voluntário de Iniciação Cientifica (PIVIC), de 2017 à 2019. Tem especial interesse pelas áreas de antropologia do consumo, educação e esporte. Fazendo parte como colaborador de dois grandes projetos de pesquisas: "Saberes, práticas e soberania alimentar da cultura regional do Centro-Oeste do Brasil" e "Centro de Ciência e Tecnologia em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional da Região Centro-Oeste", coordenados pela professora Dra. Janine Collaço. É filiado ao Grupo de Estudos de Consumo, Cultura e Alimentação (GECCA) e Grupo de Estudos Aplicado ao Futebol (GEPAF).

Como citar

MARTINS, Gabriel Sulino. Més que un clube: a relação entre o Futbol Club Barcelona e Lionel Messi. Ludopédio, São Paulo, v. 151, n. 6, 2022.
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