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O jogo de posição: o passado moderno

Ian Massumi Carneiro Ogawa 10 de novembro de 2017

Ano 2008: Pep Guardiola assume o Barcelona. E temos um grande marco para o esporte mais popular do mundo. Ao final desta primeira temporada no Barcelona tivemos um recorde de estreia de treinadores em clubes na qual o treinador conquistou nada mais, nada menos, que uma Liga dos Campeões, um Campeonato Espanhol, uma Copa do Rei, um Mundial Interclubes, uma Supercopa da Europa e da Espanha e nossos corações, amantes do futebol. Mas o grande expoente de todo sucesso de Josep foi o chamado “Jogo de Posição”. Mas o que é o Jogo de Posição?

No esporte coletivo, há importantes relações entre os jogadores de uma mesma equipe (cooperação) e entre jogadores de equipes adversárias (oposição), nas quais são apresentados diferentes elementos técnico-táticos e sistemas de jogo para buscar constantemente o êxito (GARGANTA; 1998 apud MENEZES & REIS; 2017). O jogo de posição é uma desses elementos que tem como princípio a troca de passes constante, a amplitude de campo e um suporte ao portador da bola (o portador possuir mais de uma opção de linha de passe). É um jogo coletivo e cada jogador deve estar permanentemente a serviço da equipe. Esse método busca ver o futebol de forma ofensiva, valorizando o ataque e a proposição de jogo.

Cada treinador tem consigo seus princípios táticos e movimentações que acreditam ser os fatores que farão a sua equipe vencedora sobre o adversário. O Jogo de Posição é apenas uma vertente das milhares de estratégias que temos no futebol. Este modelo se tornou tão famoso quanto Pep, influenciando diversos técnicos novos e contribuindo para novas ideias a cada ano. Hoje vemos Napoli, Bétis, Las Palmas, Manchester City, Bayern de Munique e muitos outros times implementando esta metodologia em seus jogadores. Se é o método mais correto e que trará mais vitórias ao time, não é a ideia que procuro explorar nesse texto, mas sim de apresentar esse princípio e espalhar para mais pessoas uma das complexidades estratégicas que existem no futebol.

MUNICH, GERMANY - AUGUST 04: Press conference at Allianz Arena on August 4, 2015 in Munich, Germany. (Photo by Lennart Preiss/Getty Images for Audi)
Guardiola quando treinava o Bayern de Munique. Foto: Lennart Preiss/Getty Images for Audi.

Apesar de ser apelidado como “futebol moderno”, o jogo de posição não é uma novidade dentro do futebol. Ele já existia desde a Hungria de 1954, mas desde então sofreu aperfeiçoamentos. O futebol em si mudou muito de 1954 até 2017 e este modelo evoluiu ao longo dos anos. Rinus Michel, técnico da Holanda de 1974, trouxe o “Futebol Total” que tem muito dos conceitos do jogo de posição em si. Ocupar todos os espaços do campo, trocas constantes de passes, pressão no portador da bola, etc. Mas o modelo de jogo teve o seu ápice junto ao Barcelona. O time catalão traz os conceitos de 1950/1970 para a atualidade, muito disso na conta de Pep como treinador, que explorou e apaixonou o mundo com o seu futebol ofensivo, de posse da bola e de uma cooperação tática pouco vista pelos “futeboleiros”.

Acontece que o jogo de posição não é uma única ideia, ele é composto por diversas ideias. Podemos ver o jogo de posição com amplitude e profundidade em um time, em outro podemos ver com apenas amplitude, com a profundidade sendo explorada não com uma referência fixa e sim móvel, exemplo do Barcelona com o Messi. Vemos times atacando em bloco e outros abrindo espaços para o drible individual. Enfim, é uma ideia moldável à criatividade do treinador, sempre sendo possível a sua adaptação aos jogadores que o professor tem.

E aqui fica a reflexão: será que é possível implementar esta metodologia aqui no Brasil? Será que é preciso ter, de fato, jogadores de naipe elevado para isso? E no esporte amador? E no universitário? A realidade mostra que é preciso tempo até que o time entenda todos os princípios e isso é algo que os treinadores brasileiros não têm. A cultura da troca de treinadores no nosso país é algo que acaba prejudicando a prática desse modelo de jogo e de muitos outros modelos que sejam mais complexos. Tendo apenas 6 meses de trabalho, torna-se muito difícil que treinadores coloquem estas ideias em prática. Mas isto é assunto para um outro texto.

 

Referências:

https://trivela.com.br/sem-categoria/o-ultimo-a-mudar-a-historia/

https://soundcloud.com/footure-fc/54-the-pitch-invaders

https://medium.com/@andreandradejr11/explicando-o-jogo-de-posi%C3%A7%C3%A3o-b07fd40838ae

O jogo defensivo diante de diferentes sistemas ofensivos no handebol: análise do cenário técnico-tático e reflexões sobre o ensino. Ribeirão Preto, Brasil: [s.n.], 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbce/v39n2/0101-3289-rbce-39-02-0168.pdf>. Acesso em: 25 out. 2017.

https://universidadedofutebol.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Jogo-de-Posi%C3%A7%C3%B5es-e-o-Counter-Pressing_Leandro-Zago.pdf

https://universidadedofutebol.com.br/o-jogo-de-posicao-e-o-counter-pressing/

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Ian Massumi Carneiro Ogawa

Estudante de educação física, futuro técnico de futebol e aquele que vai mudar o jogo.

Como citar

OGAWA, Ian Massumi Carneiro. O jogo de posição: o passado moderno. Ludopédio, São Paulo, v. 101, n. 10, 2017.
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