Red Star FC – A estrela vermelha que carrega o futebol parisiense
Ah, Paris! Que cidade encantadora é a capital francesa. A Cidade das Luzes é um prato cheio para as grandes marcas expandirem seus negócios, atingirem novos consumidores e, obviamente, lucrar cada vez mais. E uma paixão popular como o futebol, infelizmente, não se safou desse assédio mercantilista. O Paris Saint-Germain, o famoso P$G (e bota cifrão nisso!), é um dos clubes do momento no futebol mundial. Com ascensão meteórica, o clube fundado em 1970 (mais novo que seus pais!) já disputa os grandes campeonatos europeus e chegou ineditamente à final da Champions League na temporada passada, quando acabou sofrendo uma sonora derrota para os alemães de Munique.
Esse sucesso repentino dos bilionários de Paris se deu graças à companhia Qatar Sports Investments, que comprou 70% das ações do clube em 2011 e faz investimentos altos em busca de transformar o pequeno francês em um time tradicional. Sinto-lhes informar, amigos catarianos ou catarenses(?), mas tradição não se compra.
Mas chega de falar desse microscópico pseudoclube por aqui, esse não é o objetivo do texto. Venho aqui para mostrar que não apenas de dinheiro, grandes investimentos, contratos bilionários e… Neymar vive o futebol parisiense. No norte da Grande Paris, no bairro de Saint-Ouen, existe um clube que chuta o futebol moderno e mercantilista para bem longe e orgulha sua torcida; venho falar do Red Star Football Club!
Fundado em 1897 pelo futuro lendário presidente da FIFA Jules Rimet, o Red Star coleciona admiradores no mundo inteiro, além de sua torcida historicamente engajada com pautas políticas e sociais. Inclusive, antigamente era bem comum ver George Marchais, o principal líder do Partido Comunista Francês, nas bancadas do Stade Bauer, estádio do Red Star. Infelizmente, a origem de seu escudo e seu nome não tem relação direta com essa ideologia. A estrela vermelha do time não representa um símbolo de luta de classes, com cada ponta da estrela representando um dedo da mão do trabalhador ou os 5 continentes. Bom, pelo menos essa não foi a intenção de Rimet. A motivação para a escolha do símbolo e do nome foi muito mais banal; Jules fez uma viagem de navio na época em que estava pensando na fundação do clube e na passagem estava o nome da companhia marítima responsável por tal excursão, a Red Star Line. Não me pergunte o porquê, mas isso atraiu o fundador e assim nascia o tradicional clube.
Embora decadente e disputando atualmente a Championnat National, a terceirona do Francês, o Red Star, que carrega uma torcida pulsante e apaixonada, foi um multicampeão nas décadas de 20 até 40. O clube conquistou a Copa da França em 5 oportunidades, a primeira em 1921 e a última em 1942, e é até hoje o 4º maior vencedor da competição.
Uma das ações que me fez apaixonar pela simpática instituição foi uma campanha lançada em 2019. Na mesma semana em que as grandes marcas, como Adidas e Nike, começaram a planejar a campanha de lançamento dos terceiros uniformes de seus respectivos clubes parceiros, o Red Star andou no caminho oposto e e fez uma bela campanha de protesto contra o que foi definido como “mera tentação comercial” do futebol moderno. O clube laçou uma tatuagem temporária para ser colada no peito de seu torcedor, diretamente na pele, contrastando com os uniformes nada tradicionais usadas pelas grandes potências.
THE THIRD S̶H̶I̶R̶T̶
Si dans le foot la mode est au 3ème maillot, le @RedStarFC a décidé d'en lancer un dans la lignée de ses valeurs. #TheThirdShirt est un tatouage à apposer sur le cœur.
Dispo ce soir à Bauer.
Prix libre 👉🏻 https://t.co/QsWGwdDnG0#NotreCoeurNotreForce pic.twitter.com/KvCLlgLdz1— Red Star FC ✪ (@RedStarFC) October 4, 2019
Diferentemente do seu jovem conterrâneo, o Red Star não se vendeu e resistiu à industrialização do futebol. O clube acredita que o futebol deve ser usado como ferramenta social e de inclusão, e realiza diversas ações com a comunidade do bairro. Além disso, as crianças e adolescente da base do clube tem várias atividades extracurriculares, como culinária, pintura e artes. Para completar, os jogadores que chegam ao profissional são responsáveis por dar aulas para os mais novos, criando um ciclo de troca de cultura. Incrível, não?
É óbvio, mas é sempre bom citar: a torcida do Red Star se denomina antifascista, antirracista, antimachista, anti-homofobia e sempre ressalta que os imigrantes são muito bem vindos por lá. Dá pra ver que as bancadas são ambientes hostis para os rivais e ainda mais hostis para os rivais ideológicos.
Bom, essa foi uma breve apresentação do maior e mais tradicional clube da capital parisiense. Espero que tenham gostado e tomem juízo, não escolham o lado errado da cidade!
Allez Red Star, Allez, Allez!!!
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