Mário Filho: o criador de multidões
Nelson Rodrigues foi o responsável por traduzir Mário Filho como o criador de multidões. Irmão mais novo, Nelson não se deixou levar pelo laço familiar e fez uma justa homenagem ao homem que espalhou e disseminou todo seu amor ao futebol na busca por fazê-lo crescer entre as massas.
Pernambucano de nascença, carioca de jeito e alma, Mário é um dos mais emblemáticos jornalistas esportivos brasileiros de todos os tempos - o maior para muitos -. Apaixonado pelo esporte e criador do jornal ”Mundo Sportivo” , dedicado inteiramente à cobertura jornalística esportiva. O jornal durou pouco tempo, já a paixão do jornalista pela ”redonda” durou a vida toda.
Porém, ainda com o jornal ativo, Mário e seu periódico foram responsáveis por criar e organizar o primeiro desfile de escolas de sambas do Rio de Janeiro. O evento aconteceu na praça Onze, 19 agremiações concorreram e foi vencido pela Estação Primeira de Mangueira.
Quando o futebol ainda não tinha espaço nas manchetes dos jornais e não era o esporte queridinho da imprensa brasileira, o então repórter Mário Filho aproveitou a ausência do pai, Mário Rodrigues, dono do Jornal ”A crítica” em 1928, para colocar na capa uma chamada para um jogo entre Flamengo x Vasco, algo que não se via naqueles tempos. Apesar da fúria do pai após o episódio, viu que a decisão do filho foi cirúrgica, visto que os exemplares foram vendidos como água.
Anos depois, em 1936, se juntou a Roberto Marinho, diretor-chefe do jornal O Globo e compraram o Jornal dos Sports, que Mário tomou conta até o fim da vida.
Nele, Mário implantou o que muitos chamam de jornalismo esportivo moderno, a profissionalização da área, com cobertura diária sobre os times, formações, contratações, discussões sobre jogo. Além disso, incentivou e ajudou na criação de campeonatos como o torneio Rio-São Paulo, o Torneio de pelada no Aterro do Flamengo, os Jogos da Primavera e também a Copa Rio, juntando campeões cariocas e paulistas contra times do velho continente.
Mário, na década de 1940, era uma personalidade influente no Rio, já tinha colocado seu nome na boca de todo carioca fanático por futebol, quando ficou sabendo que haveria uma Copa do Mundo no território tupiniquim, percebeu que seria necessário a construção de um estádio no distrito federal, até então, o Rio de Janeiro. E foi esse o estopim para a ”batalha” de criação do ”maior do mundo”.
Conhecidíssimo nos livros de história, o vereador Carlos Lacerda insistia que o estádio deveria ser construído no bairro de Jacarepaguá e com capacidade menor do que 100 mil lugares. Mário pensava bem diferente do vereador, achava que o canto ideal seria no bairro do Maracanã, no antigo terreno do Derby Clube e com capacidade para mais de 150 mil pessoas, o que faria do novo empreendimento, o maior estádio do mundo.
E Mário conseguiu. Maior entusiasta do projeto, diariamente em seu Jornal de Sports fez campanha e convenceu a todos que o Maracanã seria o lugar ideal e assim ficou decidido.
Não é à toa a homenagem que recebeu após sua morte em 1966, todos que já pisaram, que passaram, que já assistiram a uma partida no Maracanã, sabem que o estádio recebeu o nome de Jornalista Mário Filho. Homenagem justa para aquele que foi o seu maior incentivador.
Por isso, é absurdo o que os deputados da Alerj fizeram. Aprovar um projeto de lei que muda o nome do estádio para Rei Pelé.
Edson Arantes do Nascimento merece todas as homenagens do mundo pelo que fez em campo pelo Brasil, seu nome está gravado nas constelações do futebol, porém, homenageá-lo retirando o nome de Mário é um tiro em toda a história do jornalista e do próprio estádio.
O dito criador da expressão Fla-Flu, o homem que popularizou o esporte no Rio de Janeiro e no Brasil, que dedicou sua vida para colocar em linhas a paixão da arquibancada, a movimentação dos jogadores, a explosão de felicidade no grito de gol não merece que essa mudança aconteça. Seria mexer em parte da identidade cultural de um povo.
Seu falecimento em 17 de setembro de 1966, aos 58 anos, deixou o jornalismo esportivo com enorme vazio. Porém, seu legado e sua influência se estendem até hoje em gerações de repórteres e comentaristas.
Com suas crônicas e livros como “O negro no futebol brasileiro”, “Histórias do Flamengo”, “Viagem em Torno de Pelé e outros”, Mário Filho fundou o jornalismo esportivo brasileiro e descreveu as raízes profundas do futebol na formação da sociedade brasileira.
Sem Mário, não existiria Maracanã. Sem o Maracanã, não é exagero dizer, não existiria Brasil.