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O fascismo japonês e o esporte: Olímpiadas, história e memória

Os Jogos Olímpicos não são um evento necessariamente político, o que não impede de ele ser utilizado politicamente – tal como o esporte –, atendendo a demandas de cada época, já foi utilizado como propaganda de regimes na era das massas, como disseminador ideológico em um mundo polarizado na Guerra Fria, como experimento da estrutura atual da globalização, há utilizações implícitas e explícitas. Em meio a isso, cada país visa mostrar ao mundo a versão que constrói de si, de sua identidade, história e memória, com o Japão não seria diferente. 

Antes é necessário dizer que não há consenso entre historiadores ao tratar o movimento autoritário japonês como fascismo. De um lado, há os que defendem ser esse um movimento próprio e não podendo ser tratado como fascismo por conta das duas experiências de governo serem completamente diferentes, digo, a japonesa e a europeia, alegando que o termo deve ser substituído por ultranacionalismo ou militarismo. Por outro lado, há quem defenda ser um movimento fascista, porque no interior do regime político que orientou o Império do Japão do início da década de 1930 até o fim da Segunda Guerra Mundial, há proximidades seminais entre a experiência japonesa e a experiência europeia.

Para compreendermos o fascismo japonês e a forma como a historiografia o trata – ou não o trata – é necessário que levemos em consideração a realidade histórica que ele está inserida, o caso japonês se dá como argumenta a historiadora Nádia Saito (2012): “O Japão, após a implantação do capitalismo em fins do século XIX, passa por diversas transformações orientadas pela mesma lógica de reprodução. A partir das distinções do caso japonês e das de generalizações do conceito “fascismo”, é possível perceber a unidade dos processos político-sociais. O resultado de uma arquitetura de dominação, desde a esfera social até os movimentos políticos da economia”. Acerca da historiografia a autora prossegue (2012, 10-14) que ocorreu ao iniciar-se a Era Showa (1926 a 1989), em que “a figura do imperador Hiroito foi representada na historiografia muitas vezes como um símbolo do militarismo ou do  nacionalismo em curso”.

Imperador Hirohito
Imperador Hirohito. Foto: Wikipédia

A historiografia tem se interessado sobre a aplicabilidade do conceito fascismo no contexto japonês, aparecendo circunscrita e reduzida por duas razões,    de forma geral: a primeira delas é a visão de aproximação do Japão como país remoto  e exótico. Para tanto, criaram-se estereótipos de alteridade desconsiderando a complexidade do fato histórico, o que, por sua vez, fortalece uma imagem descolada de qualquer apreciação crítica ou de ferramentas conceituais que possam satisfazer a questão, empobrecendo a historiografia sobre o assunto. A segunda razão, de igual importância e de certa forma relacionada com a primeira, é a ótica individualizante e meramente ideológica que foi difundida entre os estudiosos estadunidenses nos anos do imediato pós-guerra e que se tornou a visão hegemônica até os dias atuais. A abordagem consolidada sobre o “Entreguerras japonês”, que influenciou e legitimou as interpretações pós-ocupação, tem se mantido como oficial e favorece uma visão orientalista alastrada por todo o Ocidente.

Por fim, a autora conclui (2012, 14-15):

“o silêncio sobre o regime japonês, instaurado no período da Segunda Guerra Mundial por parte da historiografia, o que é justificado – ainda que não legítimo – por ser parte de um processo histórico e político vivido naquele momento pelos pesquisadores e estudiosos japoneses; no entanto, dentre os estudos feitos no Ocidente, de forma geral, apesar da dificuldade de absorção do mundo cultural e do editorial, o problema é contornado por renúncia e recusa ao tópico”.

De maneira ampla, o que ocorre com a caracterização do regime ocorrido no Japão – o tratando como fascismo – segue a mesma discussão do trato do fascismo em si, acerca de sua excepcionalidade, seu caráter local/internacional e suas possibilidades de transformações e atualizações. Dito isso, é possível salientar que o movimento fascista segue um padrão essencialmente conservador e reacionário, mesmo ostentando uma autoimagem revolucionária e modernizante.

Assim, para o entendimento do fascismo japonês é necessário levar em consideração suas características próprias, só assim é possível uma aproximação com as experiências italiana e alemã. Sobre isso, ressaltamos que no interior do jogo político japonês, os partidos tradicionais perderam espaço cedendo poderes aos militares que promoveram uma empreitada expansionista. Desse modo, são amplamente relevantes as relações acerca do fascismo e do militarismo que demarcam as experiências históricas dos anos entre as Guerras Mundiais, em certa medida, gira em torno disso a controvérsia do fascismo japonês.

Independentemente da forma como tratamos o que ocorreu no Japão – aqui será usado o termo fascismo japonês –, é necessário ressaltar que os japoneses lutaram na Segunda Guerra Mundial ao lado de italianos e alemães, além de promover uma política expansionista bastante violenta na Ásia. Todavia, diferentemente dos parceiros europeus, o Japão, na cultura ocidental, é tratado como um país pacífico e zen, um povo educado e que se preocupa com o próximo, muito por conta da memória que constrói de si.

A abertura dos jogos Olímpicos de 2020 – que ocorre agora em 2021 por conta da pandemia de Covid 19 – e as Olímpiadas de 1964, nos dá alguns apontamentos importantes acerca de como o Japão se vê e busca se mostrar ao mundo. Com uma pequena abordagem das aberturas, em 1964, os japoneses apresentaram o “novo” Japão para o mundo, uma abertura milimetricamente pensada para construir a memória do Japão para o mundo. Nela, o velocista Yoshinori Sakai, um jovem de 19 anos, nascido no mesmo dia do bombardeio de Hiroshima, adentrou ao Estádio Olímpico de Tóquio com a tocha olímpica e ascendendo a pira, dando assim início a celebração que buscava mostrar um Japão que não necessariamente rompia com esse passado, mas que se lançava ao futuro, tratando sua participação na Segunda Guerra Mundial como vítima, impondo um simbolismo ao cruel ataque promovido pelos EUA, mas desconsiderando suas ações violentas durante a guerra e sua associação com o nazifascismo. A abertura salientava a força das inovações tecnológicas e não mais glorificando o poderio militar de antes, os jatos da Força Aérea Japonesa foram utilizados para construir círculos olímpicos de fumaça, apesar de ser uma forma de alavancar o nacionalismo abalado com os resultados da guerra. Outro ponto importante é a presença do imperador Hirohito, que durante a guerra ostentava a alcunha de “o Deus vivo” levando o Japão à guerra ao Sudeste Asiático e agindo de forma extremamente brutal, lançando o país na Guerra mundial. Mas aparecia na cerimônia com um tom bastante conciliador. O Japão utilizou-se dos Jogos para recontar, à sua forma e atendendo suas demandas, sua história. O que não é nenhum crime, todos os países sede assim o fizeram.

Yoshinori Sakai em 1964
Yoshinori Sakai em 1964. Foto: Wikipédia

A abertura dos Jogos Olímpicos de 2020 mantém a dinâmica dos jogos da década de 1960, entretanto, o país está em outra fase, não é necessário mais esconder a ação japonesa na Segunda Guerra Mundial. Ao menos na memória de si, ainda está presente o japonês que ressurge das cinzas, literalmente nos Jogos com a performance de um artista. A história do Japão é contada mais uma vez, com algumas nuances importantes, a tradição milenar japonesa é resgatada, dando a ela um protagonismo não visto em 1964, tratando sua cultura com danças, músicas e vestes. Parte fundamental é a incorporação de aspectos da cultura pop que o Japão influenciou marcantemente no pós-guerra. São importantes os apontamentos que a abertura traz em relação à diversidade – com grande número de mulheres como protagonistas, inclusive tendo Naomi Osaka, filha de pai haitiano e mãe japonesa – mesmo que ela seja contraditória com a própria cultura japonesa apresentada e cultuada na mesma festividade. E claro, com os apontamentos para um futuro próspero. Em meio a isso, destaca-se também uma homenagem ao economista Muhammad Yunus, Prêmio Nobel de Economia, que caracteriza bem os tempos atuais.

Há algum problema em o país contar sua história para o mundo? Não, de forma alguma, apenas observamos que não é “sua história”, mas uma narrativa que se constrói de si, para si e para os outros. Tão importante quanto conhecermos essa história, a partir dessa versão construída cuidadosamente, é entender que essa construção é intencional e visa inclusive promover o esquecimento de determinadas nuances, fatos e até mesmo períodos.

Por conta disso trataremos aqui um pouco do “esquecido” e quase desconhecido fascismo japonês e sua relação íntima com o esporte. Tal como o trato historiográfico em relação ao fascismo japonês, o trato do esporte pelo fascismo japonês é também pouco abordado.

O fascismo italiano e alemão fez uso consciente dos esportes, não apenas no âmbito do nacionalismo (buscando demonstrar sua força em competições internacionais como é sabido), mas também utilizaram o esporte como ferramenta de construção de consenso e para controlar a população, especialmente os jovens. Patrizia Dogliani (2010, p. 196-201) demonstra como os italianos utilizaram do esporte, em específico com os jovens, para mostrar que o domínio mental que o fascismo propunha passava também fundamentalmente pelo domínio físico, sua proposta de reconstrução moral e intelectual dos italianos. Além disso, havia também uma reconstrução da parte física, em que a força física que os fascistas propunham, passava necessariamente por uma educação física.      

Essa é mais uma característica que aproxima o regime japonês e a amplitude que o envolve com os casos da Alemanha e Itália. Para os pesquisadores Ikuo Abe, Yasuharu Kiyohara e Ken Nakajima (2000), dando continuidade a um estudo anterior, de Katsumi Irie (1986), a fascistização da educação física passa por quatro estágios de desenvolvimento: germinação (1917-31), transição (1931-1937), dominação (1937-41) e culminação (1941-45). Sendo que os autores dão especial atenção para dois estágios – germinação (antes do Incidente Manchuriano de 1931) e consolidação (1931-1945). 

Abe, Kiyohara e Nakajima (2000) demonstram que a ginástica escolar (gakko taiso) é o conceito mais antigo equivalente à educação física escolar de hoje (gakko taiik). A ginástica escolar foi incentivada pela primeira Ordem do Sistema Educacional (Gakusei) já em 1872, e no ano seguinte, “Ilustração da Ginástica de Sala” (Shachu Taisoho-zu) e “Ilustração da Ginástica” (Taiso-zu) foram oficialmente apresentadas pelo Departamento de Educação. No entanto, foi em 1879 que o Instituto Nacional de Ginástica (Taiso Denshujo) sendo criado e iniciado com o objetivo de formar professores de ginástica qualificados e estudar os sistemas de ginástica escolar. O estadunidense George A. Leland foi convidado para sistematizar a ginástica escolar em 1879. Seus sistemas foram extraídos principalmente de Dio Lewis, e foram chamados de “ginástica leve” (kei-taiso) e “ginástica normal” (futsu-taiso). A ginástica escolar foi então difundida pelo rápido crescimento da educação nacional.

A partir dessa implantação o esporte passa a fazer parte massivamente da vida japonesa. No início do século XX diversas associações de esportes amadores foram criadas. É imprescindível notarmos que ao lado do esporte, na verdade nele, estava uma noção moral sendo implantada.

Buscando mais uma vez o auxílio de Abe, Kiyohara e Nakajima (2000) é importante destacar que enquanto isso, digo, em meio à fundação de diversas federações, o bujutsu – artes marciais tradicionais japonesas –, que haviam sido deixadas de lado com o projeto de modernização, começaram a ser reconstruídas. Por decreto foi abolido o uso de espadas em 1876 e as reformas das forças militares e a adoção do recrutamento em 1873. Além disso, havia várias escolas de artes individuais. Essas artes marciais tradicionalmente diferenciadas tiveram que lutar por sua sobrevivência durante o início da era Meiji.

Jigoro Kano
Jigoro Kano. Foto: Wikipédia

Um dos precursores da modernização do bujutsu foi o judô. Isso excluía certas habilidades perigosas do jujutsu, e tinha sido reconstruído por Jigoro Kano no Kodokan desde 1882. No entanto, o judô era um exemplo excepcional. Um conselho administrativo geral foi criado em abril de 1895 para as diversas artes marciais tradicionais conhecido como Dai Nippon Butokukai (Grande Sociedade Japonesa da Virtude Marcial). O objetivo era controlar e preservar as artes marciais e ligá-las espiritualmente ao sistema do Imperador.

Após a primeira participação olímpica do Japão, em 1912, diversos esportes foram inseridos, em especial no campo do atletismo e esportes coletivos como o baseball. O esporte passou a ser uma ocupação nacional e ao mesmo tempo uma preocupação nacional.

Retomando a experiência italiana, como demonstra Patrizia Dogliani (2010, p. 201-205), o esporte tinha no projeto fascista outra importante função, a de controlar o tempo dos trabalhadores. Em forma de lazer, o esporte funcionava como um componente de dominação da vivência dos trabalhadores feita de maneira bastante sutil. Tal como na experiência alemã diversos clubes desportivos para trabalhadores, tal como para jovens trabalhadores ou não foram criados.

Em artigo publicado no The International Journal of the History of Sport (1992, p.1-28) Abe, Kiyohara e Nakajima demonstram que no Japão, algo muito parecido com a exposição de Dogliani fora feita, mostram que no caso japonês o esporte foi utilizado como ferramenta para o controle ideológico especialmente entre os proletários.

Havendo assim uma marcante “reorganização da juventude e do esporte como meio de controle ideológico”. Tal controle, sobre os jovens trabalhadores e estudantes tinha uma forte conexão com a política esportiva das autoridades. Em junho de 1920, o Ministério da Educação decidiu promover a “educação física pública” e em setembro de 1924 ordenou que todas as instituições educacionais realizassem o “Dia Nacional da Educação Física” como um evento escolar anual com o objetivo de doutrinar “comportamento coletivo, treinamento moral, e aspiração de espírito nacional” nos alunos. Em 1926, o Ministério também proclamou a Ordem de Promoção da Educação Física e do Atletismo (Taiiku-Undo no Sinko ni kansuru Ken), na qual era dirigida a gestão “racional” das atividades físicas – o termo “racional” ligado ao controle ideológico.

Anti-Comintern
Assinatura do Pacto Anti-Comintern. Foto: Wikipédia

Com o exposto até aqui já é possível traçar diversas aproximações com o fascismo europeu, entretanto, as proximidades e semelhanças tornam-se ainda mais evidentes após a violentíssima invasão Japonesa à Manchúria em 1931, fazendo com que o esporte fosse de maneira mais marcante cooptado pelo fascismo. É bom lembrar que o Japão se retirou da Liga das Nações por conta dos julgamentos em relação aos ataques, fazendo com que o país se isolasse internacionalmente, dando ainda mais respaldo para uma política ultra nacionalista. Até que em 1936 a aliança com alemães e italianos fosse concretizada no Pacto Anti-Comintern.

Em meio a esses desdobramentos os militares conquistaram cada vez mais notoriedade e poder no Japão. Com isso, houve uma marcante militarização da ginástica escolar, que já era parte indissociável da vivência japonesa. Nesse período, os militares dominaram praticamente todas as federações esportivas.

Abe, Kiyohara e Nakajima (2000) defendem que com a consolidação do fascismo, houve o controle totalitário e unitário do esporte e da educação física no Japão. Com isso, mesmo após as ações na Manchúria, os Jogos Olímpicos atraíram a nação japonesa, pois foram úteis para o Estado aumentar a glória nacional. No caso dos Jogos Asiáticos, o efeito foi o inverso, na medida que no oriente o Japão foi isolado. 

O esporte é fundamental para entendermos a história recente do Japão, na medida que a educação física e os esportes japoneses estão intimamente ligados aos processos e transformações dessa história.

Independentemente de conceituarmos a era de domínio totalitário e despótico no imperialismo japonês de fascismo japonês, mesmo levando em consideração suas peculiaridades, a maneira com que utilizaram os esportes é muito parecida com seus parceiros de Eixo.

Ao mesmo passo é importante notarmos que o esporte foi utilizado no Japão na moldagem de uma identidade de um “povo”, especialmente em seu regime ultra autoritário, tendo influência antes, em sua preparação e durante – sendo fundamental para isso e depois – com resquícios óbvios. Desse modo, os Jogos Olímpicos, com uma abordagem a partir da História e da historiografia, é um excelente momento para trazer à luz esse período.

O esporte e muito mais que um jogo, muito mais que diversos jogos, é parte marcante e fundamental da história da humanidade.   

Referências

DOGLIANI, Patrizia. Consenso e organização do consenso na Itália. In: VIZ QUADRAT, Samantha; ROLLEMBERG, Denise. A construção Social dos Regimes Autoritários: Legitimidade, consenso, e consentimento no século XX – Europa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010, p. 177-206.   

IKUO, Abe; Ken NAKAJIMA; KIYOHARA, Yasuharu. Fascism, Sport and Society in Japan, International Journal of the History of Sport. 1992 p.1-28.

IKUO, Abe; Ken NAKAJIMA; KIYOHARA, Yasuharu. Sport and Physical Education under Fascistization in Japan. Journal of Alternative Perspectives. June 2000.

KATSUMI, Irie. Nippon fashizumu ka no taiiku shiso. Ideas of Physical Education under the Japanese Fascism, Humaido shuppan, 1986.

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Makchwell Coimbra Narcizo

Doutor em História pela UFU, Graduado e Mestre em História pela UFG. Atualmente professor no IF Goiano - Campus Trindade. Desenvolve Estágio Pós-Doutoral na PUC Goiás. Membro do GEPAF (Grupo de Estudos e Pesquisa Aplicados ao Futebol - UFG). Coordenador do GT Direitas, História e Memória ANPUH-GO. Autor dos livros: A negação da Shoah e a História (2019); A extrema direita francesa em reconstrução - Marine Le Pen e a desdemonização do Front National [2011-2017] (2020) dentre outros... isso nas horas vagas, já que na maior parte do tempo está ocupado com o futebol... assistindo, falando, cornetando, pensando, refletindo, jogando (sic), se encantando e se decepcionando...

Como citar

NARCIZO, Makchwell Coimbra. O fascismo japonês e o esporte: Olímpiadas, história e memória. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 15, 2021.
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