170.13

121 anos de uma paixão

Daniel Amado Morales 13 de agosto de 2023

Ainda sobre os 121 anos do Fluminense Football Club: Um amor de pai para filho. 

Existem poucas coisas mais sinceras do que o amor de um torcedor pelo seu clube. Esse amor que se transforma em uma identidade e até mesmo em fé, como diria Eduardo Galeano:

“Mas para realidade de carne e osso, este desprezo não significa nada. Quando enraízam nas pessoas e nas pessoas encarnam, as emoções coletivas se transformam em festa compartilhada ou compartilhado naufrágio, e existem sem dar explicações e sem pedri desculpas. Não interessa se a gente gosta ou não, se é para o bem ou para o mal: nestes tempos de tanta dúvida e desesperança, as cores do time são, para muitos latino-americanos dos nossos dias, a única certeza digna de fé absoluta e a fonte do mais alto júbilo ou da tristeza mais profunda. “Racing uma paixão inexplicável”, li num muro em Buenos Aires. E num muro do Rio, um torcedor do Fluminense rabiscou: “Meu querido veneno”.” (2018, p. 207)

Maracanã tricolor
Copa Libertadores. Fase de Grupos. 3ª Rodada. Jogo Fluminense x River Plate. Foto: Leonardo Brasil/Fluminense FC.

Eu diria que sou um torcedor de muita sorte. Com 24 anos, vi dois campeonatos brasileiros, um Copa do Brasil e quatro campeonatos cariocas. Isso sem contar a falecida Primeira Liga e os títulos de turno, Taça Guanabara e taça Rio. Falar de Fluminense para mim sempre foi falar de amor, falar de pertencimento entre outras coisas. Na última sexta-feira (21/07) o clube de meus amores completou seu centésimo vigésimo primeiro aniversário, e o que eu poderia falar mais sobre. 

Ao longo de todos esses anos o Fluminense se confundiu com a minha identidade. Não é incomum passar pelas as ruas e ouvir uma “fala tricolor!” como forma de comprimento. O Fluminense se tornou tão parte da minha identidade que em muitas das vezes se sabe o meu time para depois o meu nome. E com os anos, o clube se tornou parte fundamental da minha vida e de como eu me entendo como pessoa. 

Apesar de tudo isso demorei a frequentar os estádios. Meu primeiro contato com o campo, foi no estádio das Laranjeiras acompanhando os treinos de perto e vendo meus ídolos treinar. Foi só aos 14 anos que tive a oportunidade de ir ao Maracanã e de lá para cá já são 9 anos de arquibancada. Devido não morar na cidade do Rio de janeiro, minhas idas ao estádio são bastante pequenas, cerca de 20 vezes se não me engano. Porém, isso não me impediu e nem impede de viver o clube que eu amo. 

Devo tudo ao meu pai. Por sinal, viver o Fluminense está muito ligado a minha relação com o velho. 

Pai, quanto foi o jogo?

Pai, o Fluminense ganhou!

O Fluminense perdeu

O Fluminense contratou jogador tal, vendeu jogador y

Recentemente tive o prazer de levar meu pai para assistir um jogo do Flu no Maracanã. Depois de quase seis anos só indo com amigos ao estádio, dessa vez fiz questão de ter meu velho como companheiro de arquibancada. O jogo na oportunidade foi um Fluminense e São Paulo pela trigéssima sexta rodada do campeonato brasileiro de 2022. Classificação para Libertadores já garantida e um time que jogava por música, o tal do “dinizismo“.  

Chegamos cedo, assistimos o aquecimento do time e assistimos o jogo muito bem no setor leste superior do Maracanã. Apesar da pressão do tricolor (o verdadeiro), foi o São Paulo que abriu o placar com um belo gol do Luciano. Porém, o que veio no segundo tempo foi uma das maiores atuações que vi do Fluminense presencialmente no estádio. Um time com uma alta intensidade sufocou o São Paulo e logo virou com dois gols de Germán Cano. O atacante argentino ainda fez o terceiro gol, hat-trick do camisa 14. 

Ao sair do estádio e pegar a condução para casa, eu só sentia a felicidade de ver uma das melhores partidas do Fluminense no ano e melhor ainda ter compartilhada esse momento com meu pai. Em um ano onde em alguns momentos me peguei com raiva e até discuti com meu velho devido as nossas visões diferentes sobre política, o amor pelo Fluminense e pelo futebol foi nos uniu mais uma vez. 

Enfim, diríamos que e um clube de futebol é bastante presente na relação de pai pra filho. Mas existem outras formas de viver o Fluminense. Em cada conversa com os amigos, com os vizinhos… enfim, posso dizer que vivo o futebol de formas diferentes. O Fluminense e o futebol (que ao meu ver são uma coisa só) me possibilitou e abriu caminhos que talvez eu não esperava. Escrever em sites esportivos, pesquisar e estudar sobre o futebol e tudo por causa desse amor por um clube que começou ainda muito criança. 

Em suma, parabéns ao Fluminense Football Club pelos seus 121 anos. E obrigado pelas alegrias, pelas tristezas, amizades feitas e por estreitar ainda mais a minha relação com meu pai. Ao meu pai, obrigado por me presentear com esse amor pelas três cores que traduzem tradição. 

Com amor,

Daniel Morales. 

Referências

GALEANO, Eduardo. Fechado por motivo de futebolPorto Alegre: L&PM, 2018

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Daniel Morales

Estudante de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ Faculdade de Formação de Professores (UERJ/FFP). O amor pelo Fluminense, futebol e América Latina se transformou em pesquisas acadêmicas que possuem foco na relação entre o futebol, sociedade e política, com o objetivo de analisar como esse esporte se reflete na sociedade.

Como citar

MORALES, Daniel Amado. 121 anos de uma paixão. Ludopédio, São Paulo, v. 170, n. 13, 2023.
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