135.12

5 de setembro de 93: Argentina 0 x 5 Colômbia

Fabio Perina 5 de setembro de 2020

Ao longo dos anos 80, as economias de Argentina e Colômbia passavam momentos opostos que influenciava diretamente no futebol. A profunda crise econômica argentina teve em comum com a brasileira por acelerar o êxodo de craques para os ricos clubes europeus. Mas com um ‘detalhe’ a mais que o futebol colombiano se mostrava um novo caminho atrativo quando os chefões dos cartéis de drogas se apadrinharam dos principais clubes. Turbinados por reforços argentinos, o América de Cali chegou a quatro finais seguidas de Libertadores em meados da década, porém perdendo todas. O primeiro título colombiano no torneio veio somente em 89 com o Atlético Nacional de Medellín com a taça erguida pelo capitão Andrés Escobar. El verde se diferenciava dos escarlatas pelo chamado estilo criollo: por preferir jogadores nacionais ao invés de estrangeiros. Seu treinador, Francisco ‘Pancho’ Maturana, rapidamente foi chamado para assumir a seleção colombiana que nas eliminatórias superou um triangular com Equador e Paraguai e avançou à Copa de 90 na Itália. A classificação mundialista após cerca de 3 décadas de ausências, desde 62, foi um sinal de evolução mútua do futebol colombiano entre clubes e seleção que ia se consolidando após ótima Copa América de 87. Quando perdeu a semifinal para o Chile apenas na prorrogação e venceu os donos da casa, a Argentina, no terceiro lugar.

 
Seleção colombiana de futebol masculino que disputou a Copa do Mundo de 1990, na Itália. Foto: Wikipedia.

Como naquela época as eliminatórias duravam cerca de 2 meses, ao invés de 3 anos como atualmente, chegamos ao ano de 93 quando, dentro de apenas um trimestre, argentinos e colombianos se enfrentaram 4 vezes. Primeiro na Copa América do Equador, a ascendente Colômbia impôs muitas dificuldades à consagrada Argentina: empate na fase de grupos e novo empate na semifinal, sendo derrotados apenas nos pênaltis. Na final os argentinos venceram os estreantes convidados mexicanos e concluíram seu ciclo mais vencedor: campeã do mundo em 86 (e quase em 90 de novo) com o treinador Carlos Bilardo e bi-campeã invicta da Copa América em 91-93 com o treinador Alfio ‘Coco’ Basile.

Logo em seguida se jogaram entre julho e setembro as eliminatórias para a Copa de 94, sendo trocado o sistema de 3 triangulares pelo de 2 pentagonais. Em um grupo, houve a surpreendente classificação da Bolívia e o Brasil superando o Uruguai pela segunda vaga em duelo dramático. No outro grupo mediram forças Argentina, Colômbia, Paraguai e Peru, vide que o Chile estava suspenso. A Argentina fez o primeiro turno fora de casa, confirmando seu favoritismo ao vencer paraguaios e peruanos, mas perdeu para os colombianos em 17 de agosto. O que por si só poderia ser um feito histórico e depois de tantas derrotas para os argentinos: humilhantes em um passado distante e equilibradas em um passado recente. Inclusive lhe tirando a invencibilidade já comentada. No returno, com 3 partidas em casa, nada indicava que a Argentina teria problemas para confirmar sua classificação. Porém, a melhor campanha dos colombianos os fez chegar à última rodada com a vantagem de um empate para um plantel já calejado de jogos importantes. Logo abaixo um compacto com a narração argentina e colombiana. Evidente uma melancólica e outra ufanista (com a sempre alegre salsa ao fundo). E ainda ao final da crônica duas sugestões de leitura com belas fotos e opiniões contrastantes: se foi uma partida parelha que a Colômbia venceu por ter sido mais efetiva (vide Batistuta em seu auge errando gols que não erraria!) ou se foi do começo ao fim um baile, um chocolate, uma ‘paliza’. Tirem suas conclusões…


Partidas transcendentais possuem acontecimentos marcantes ao seu redor, tanto antes como depois. Nesse caso houve certamente um ponto de virada, que com ‘picardia’ se pode até dizer que foi um ponto de não retorno: cada país invertendo a alta e a baixa. A classificação da Argentina para a Copa de 94 somente veio com a repescagem contra a Austrália e vencendo apenas com um gol contra. Durante a Copa de 94 foram eliminados diante da Romênia nas oitavas após a suspensão de Maradona por doping. Desde então, como se sabe, não conseguiram mais títulos. Assim como o intenso fluxo de transferências de jogadores da Argentina para a Colômbia nos anos 80 inverteu radicalmente de sentido nos anos 90. Por outro lado, a Colômbia se consolidou em um patamar acima no futebol sul-americano e mundial. Inclusive por seu primeiro título na Copa América que sediou em 2001 com o retorno de Maturana. Como se diz na gíria do futebol sul-americano, após o 5 a 0 a Colômbia perdeu sua ‘paternidade’ diante da Argentina a partir de vitórias mais freqüentes. Como um 3 a 0 na Copa América 99 no Paraguai com o Palermazo, ou seja, com o atacante argentino Palermo errando 3 pênaltis. Assim como vitória por 2 a 0 há um ano em Salvador na última Copa América como exemplo do retorno de um ótimo futebol na década de 2010 que encontrou novo ânimo com a troca da sede da seleção de Bogotá a Barranquilla e principalmente pela mão de um treinador argentino: José Pekerman.

Data: 05 de setembro de 1993
O que estava em jogo: uma vaga direta na Copa do Mundo de 1994
Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires, Argentina
Juiz: Ernesto Filippi (URU)
Público: 75.000 pessoas
Argentina: Goycochea; Saldaña, Borelli, Ruggeri e Altamirano; Zapata, Redondo (Alberto Acosta) e Simeone; Leo Rodríguez (Claudio García); Medina Bello e Batistuta. Técnico: Alfio Basile.
Colômbia: Córdoba; Herrera, Perea, Mendoza e Pérez; Rincón, Gómez e Álvarez; Valderrama; Asprilla e Valencia. Técnico: Francisco Maturana.
Placar: Argentina 0x5 Colômbia (Gols: Rincón-COL, aos 41´ do 1º T; Asprilla-COL, aos 5´ e aos 30´, Rincón-COL, aos 28´, e Valencia-COL, aos 39´do 2º T).

 

Referências

http://www.futebolportenho.com.br/2013/09/05/20-anos-de-argentina-0-5-colombia-em-buenos-aires/

https://www.imortaisdofutebol.com/2014/08/19/jogos-eternos-argentina-0x5-colombia-1993/


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Fabio Perina

Palmeirense. Graduado em Ciências Sociais e Educação Física. Ambas pela Unicamp. Nunca admiti ouvir que o futebol "é apenas um jogo sem importância". Sou contra pontos corridos, torcida única e árbitro de vídeo.

Como citar

PERINA, Fabio. 5 de setembro de 93: Argentina 0 x 5 Colômbia. Ludopédio, São Paulo, v. 135, n. 12, 2020.
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