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A copa africana de nações de 2027: para além dos 3 países-sede

Megaeventos divididos por nações

Eventos de cunho continental já são uma realidade no mundo futebolístico desde sua criação e processo de profissionalização. Desde as copas continentais como a Eurocopa ou a Copa América até o principal evento do esporte, a Copa do Mundo da FIFA, o esporte bretão viu de forma crescente a evolução de tais campeonatos. 

Acompanhando a evolução da tecnologia, com transmissões instantâneas e em cores, até o desenvolvimento do próprio capitalismo, com patrocínios ao evento, a times e atletas, os eventos aos poucos acabam por evoluir para os ditos Megaeventos. Tendo a potencialidade de dar não apenas visibilidade à área de sua realização, mas também ao país ou países que vem a sediá-lo.

Silva (2022) aborda que:

Os megaeventos esportivos são eventos com visibilidade mundial e que ocorrem em um único país, a disputa para sediar um megaevento esportivo é acirrada e os governos necessitam apresentar projetos aos comitês organizadores, uma vez que o país que é contemplado com a sede de tal evento, recebe grande atenção além de cobertura midiática e patrocínios para o seu território. No entanto, para que esse evento ocorra uma série de adequações e investimentos em obras de infraestrutura são necessárias. (SILVA, 2022, p. 34)

Após o início do século XXI, iniciou-se a realização de megaeventos realizados em mais de um país. Abarcando de megaeventos da África, Ásia e Europa, as competições com mais de um país-sede davam a oportunidade de países serem vitrines para o esporte mais popular do mundo, seja de forma turística ou até mesmo financeira. 

Após o início dos anos 2000, grande foi a ocorrência de competições com mais de uma nação como sede

Quadro 1: Competições e suas edições com mais de um país-sede

Competição

Edições

Eurocopa

2000 (Países Baixos e Bélgica), 2008 (Áustria e Suíça), 2012 (Polônia e Ucrânia), 2020 (realizada em 2021 em mais de um país, por conta do período pandêmico), 2028 (Reino Unido e Irlanda) e 2032 (Itália e Turquia)

Copa da Ásia

2007 (Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã)

Copa Ouro da CONCACAF

2019 (Estados Unidos e Costa Rica)

Copa Africana de Nações

2000 (Gana e Nigéria), 2012 (Gabão e Guiné Equatorial) e 2027 (Quênia, Uganda e Tanzânia)

Copa do Mundo

2002 (Coréia do Sul e Japão), 2026 (Canadá, Estados Unidos e México) e 2030 (A definir, porém com a confirmação de que terá mais de um país como sede)

Fonte: Sites oficiais da FIFA, UEFA, CAF, CONCACAF e AFC. Organizado pelo autor

Ao longo dos megaeventos realizados pós anos 2000, é notável que os países escolhidos inicialmente eram países que estavam a desenvolver a cultura do futebol e não eram vistas como espaços onde jogos internacionais pudessem ser realizados. Em paralelo, as adequações necessárias para que tais eventos pudessem ser realizados faziam a adesão de mais de um país-sede fosse necessária. 

Junto a isso, a construção e adequação de estádios para receber os jogos vem a ser uma via de mão dupla para determinados países. Branski,  Lima Jr, Loureiro e Nunes (2013) vieram a abordar tal problemática, tendo como base a Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul

A Copa da África do Sul não pode ser considerada um caso de sucesso. O estádio Cape Town, por exemplo, foi construído na Cidade do Cabo a despeito de já existirem outras instalações no local. O custo final foi cerca de 30% superior ao previsto inicialmente e resultou em uma instalação pouco utilizada: o estádio tem alto custo de manutenção e dificuldade para atrair times populares. 

[…] Dos estádios, pelo menos cinco estão subutilizados, o que levou o secretário do Planejamento de Durban a afirmar que diante dos elevados custos de manutenção, a melhor alternativa seria a demolição (IG Economia e Mercado, 2012). O principal problema enfrentado, sobretudo com relação às novas instalações, é como atrair o público e desta forma garantir a sustentabilidade. (BRANSKI et al, 2013, p. 567-568)

Tais problemáticas encontradas no caso de 2010 e nos conflitos encontrados no Brasil em 2014 são favoráveis a tal dinâmica, fazendo com que países como os localizados no continente sulamericano e africano venham a aderir ao modelo “multi-sede”. 

O caso analisado

Figura 1: Imagem de anúncio dos países-sede da edição de 2027 da Copa Africana de Nações

Copa Africana
Fonte: CAF (Divulgação)
A edição da Copa Africana de Nações de 2027, terá como países-sede Quênia, Uganda e Tanzânia. Nações com cultura futebolística em desenvolvimento, tem no evento uma chance abrupta de desenvolvimento, tendo em vista que segundo o Ranking da FIFA, apenas Uganda se encontra entre as 100 melhores seleções do mundo (Uganda ocupa o 92º lugar), enquanto as outras duas seleções se encontram em posições menores (Quênia ocupa o 110º lugar e Tanzânia o 121º).

Tendo isso em mente, a participação no principal torneio de seu continente na função de sede, por mais que seja de responsabilidade dividida, ainda possui suas benesses. Do aprimoramento de locais para a realização de jogos ao incentivo a seleção nacional de cada país, o trabalho ao sediar um evento que abarca grande parte do continente africano serve não apenas como vitrine, mas também como possibilidade de apresentar espaços de investimento.

Com estádios que variam de 5 mil a 60 mil lugares, os 3 países buscam fazer com que tais espaços sejam capazes de não apenas incentivar o esporte no país, mas também ser convidativos ao capital interno e externo. Dentre os três países, vale destacar que o Quênia por sua vez, já teve estádio suspenso pela FIFA no ano de 2009 por não atender aos padrões às demandas no que diz respeito à segurança e comportamentos de seus torcedores (Trivela, 2009).

Dentre os 3 países, os principais estádios são:

Quadro 2: Principais estádios dos países-sede da Copa Africana de Nações de 2027

País

Estádios 

Quênia

  • Moi International Sports Centre

Capacidade: 60.000 

  • Nyayo National Stadium

Capacidade: 30.000 

  • Nairobi Stadium

Capacidade: 15.000 

Tanzânia

  • Estádio Nacional de Uhuru

Capacidade: 60.000

  • Benjamin Mkapa National Stadium

Capacidade: 60.000 

  • Namfua Stadium

Capacidade: 15.000 

  • Chamazi Stadium

Capacidade: 7.000 

Uganda

  • Mandela National Stadium

Capacidade: 45.202

  • Lugogo Stadium

Capacidade:10.000

  • Bunamwaya Stadium

Capacidade: 5.000

Fonte: Soccer Wiki. Organizado pelo autor

Dentre os principais estádios apresentados acima, apenas os com as maiores capacidades possuem proximidade ao modelo de estádio estabelecido pela FIFA ao longo dos anos. Para além disso, o próprio torneio exige estruturas mínimas para seus atletas, como consta o 31º artigo do regulamento do torneio (Confédération africaine de football, 2021). 

Portanto, é inevitável considerar que, ao longo dos anos restantes para a edição da Copa Africana de Nações de 2027, ocorram reformas e obras para que não apenas os estádios, mas as cidades de cada um dos três países-sede possam melhor receber o evento.

Considerações finais

A edição da Copa Africana de Nações de 2027 tem seu cerne uma tentativa ousada, tanto em seu continente quanto em escalas locais. Com três países-sede com pouca cultura futebolística em termos individuais e coletivos, a recepção da competição traz consigo um tom de novidade e de incerteza.

Com poucas estruturas que de fato atendem ao modelo básico exigido para competições de tal porte, é inevitável pensar que ao longo dos 3 anos restantes até o torneio, sejam realizadas reformas e construções internas e externas aos estádios. Os locais de realização do evento por sua vez, poderão ser os primeiros a sofrerem grandes mudanças, tendo em vista que são poucas as exceções ao modelo de estádio modesto.

Ainda assim, com o crescimento midiático e qualitativo da competição devido ao crescimento de jogadores que buscam por suas origens ao representarem países do continente africano, é inegável que o investimento sobre o evento seja cada vez maior, sendo uma ótima vitrine ao país (ou países) sede. Dessa forma, a edição abordada possui por sua vez a busca de crescimento não apenas do esporte, mas também de tudo que o acompanha, em seus aspectos culturais e econômicos.

Referências Bibliográficas

BRANSKI, R. M. LIMA JR, O. F. LOUREIRO, S. A. NUNES, E. E. F. Infraestruturas nas Copas do Mundo da Alemanha, África do Sul e Brasil. Cad. Metrop., São Paulo, v. 15, n. 30, pp. 557-582, dez 2013

Confédération africaine de football. Regulations of the Africa Cup of Nations. Egypt, 2021. Acesso em: Jan. 2024. Disponível em: www.cafonline.com

Equipe Trivela. Estádios do Quênia são suspensos pela Fifa. Trivela, Jun. 2009. Acesso em: 22 Jan. 2009. Disponível em: https://trivela.com.br/africa/estadios-do-quenia-sao-suspensos-pela-fifa/

SILVA, I. A. E. Legado dos Megaeventos Esportivos brasileiros: Investimentos e Crescimento Econômico nas Cidades Sedes e Subsedes. Uberlândia, 2022.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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João Lucas Soares Silva

Graduado em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro(UFTM) e mestrando pela Unesp (Rio Claro). Em 2021, tornou-se membro do Grupo de Estudos: Mundo Dentro e Fora das 4 Linhas, destinado a pesquisas olhando o futebol e seus aspectos geográficos, abarcando discentes de universidades como USP, UFMG, UFTM, e UNESP (Câmpus de Rio Claro e Presidente Prudente) em suas reuniões. Pelo grupo, teve publicações no periódico Le Monde Diplomatique Brasil e no site Ludopédio.

Como citar

SILVA, João Lucas Soares. A copa africana de nações de 2027: para além dos 3 países-sede. Ludopédio, São Paulo, v. 176, n. 2, 2024.
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