134.52

A virada que marcou o fim do século XX

A histórica vitória do Vasco sobre o Palmeiras na final da Copa Mercosul de 2000

O ano de 2000 ficou marcado na história do mundo pelo fim do século XX e também do segundo milênio. Profecias davam conta de que a humanidade estava vivendo seus últimos momentos, pois o fim de tudo estava próximo. Contudo, não foi isso que aconteceu. A vida não findou e segue até hoje. Por outro lado, uma era chegou ao fim e novos tempos se iniciariam dias depois.

Como parte importante da história moderna, desde que foi fundado pelos ingleses e difundido no mundo inteiro, o futebol teve seus episódios regulares de todos os anos. No entanto, um desses chamou a atenção nem tanto pelo resultado, mas sim pela forma surpreendente como a vitória foi construída e entrou para história como uma das maiores viradas do futebol. Para o nosso prazer, o capítulo foi escrito no Brasil, durante as últimas horas do dia 20 de dezembro, no histórico estádio Palestra Itália, também conhecido como Parque Antártica.

O jogo já trazia consigo sua parcela generosa de importância, pois se tratava da grande decisão da segunda maior competição do futebol sul-americano daquele ano, a Copa Mercosul. Palmeiras e Vasco se enfrentaram pelo terceiro jogo daquela final. Naquela ocasião, o título ficaria com o time que primeiro somasse quatro pontos nos jogos decisivos, sendo desconsiderados outros critérios de desempate. Os dois primeiros jogos marcaram uma vitória para cada lado. No primeiro, o Vasco venceu por 2 a 0 em São Januário, e no segundo, o Palmeiras fez 1 a 0, jogando no Parque Antártica, resultado que forçou um terceiro jogo para saber quem seria o campeão.

Com atuações impecáveis de Juninho Paulista e Romário foram suficientes para fazer história. Foto: Reprodução/Twitter/Vasco da Gama

Para a grande decisão as equipes foram a campo com dois times recheados de estrelas. O Alviverde, campeão da Libertadores de 1999, jogou com Sérgio; Arce, Gilmar, Galeano e Tiago Silva; Fernando, Magrão, Taddei e Flávio; Juninho e Tuta (Basílio). Técnico: Marco Aurélio. Já o Gigante da Colina, vencedor da América em 1998, foi para o gramado com Hélton; Clébson, Odvan, Júnior Baiano e Jorginho Paulista; Jorginho (Paulo Miranda); Nasa (Viola), Juninho Pernambucano e Juninho Paulista; Euller (Mauro Galvão) e Romário. O técnico era o lendário Joel Santana.

Dois times ofensivos, acostumados a marcar muitos gols estavam prontos para o espetáculo diante 29.993 torcedores, na sua esmagadora maioria palmeirenses. Na fase semifinal, eles atropelaram seus adversários. Os cariocas despacharam o River Plate/ARG com um placar agregado de 5 a 1, enquanto que os paulistas atropelaram o Atlético Mineiro com um 6 a 1 no agregado.

Naquele jogo, o placar seguiu zerado por mais de três quartos do primeiro tempo. Só aos 36 minutos o placar foi inaugurado, quando o competente lateral direito, Chiqui Arce cobrou pênalti e colocou os donos da casa em vantagem. A partir de então, o Palmeiras foi implacável no que sobrava de primeiro tempo. Um minuto depois, aos 37, Magrão ampliou o placar, e aos 45, o centroavante goleador Tuta, fez o terceiro gol que deu um banho de gelo nos vascaínos que sonhavam com o título inédito. Três gols em nove minutos, e um estádio cantando “é campeão” com o jogo apenas no intervalo.

Muitos torcedores do cruzmaltinos abandonaram a torcida ao fim do primeiro tempo. O relógio já marcava pelo menos 22h30 de uma quarta-feira. Algumas horas depois já seria outro dia útil para o trabalhador brasileiro. A TV certamente foi desligada em muitos lares vascaínos. Uma pena para eles, que não lembraram que no seu elenco tinha um baixinho que vestia a camisa 11 e costumava fazer o impossível dentro da área adversária.

O Vasco que perdeu a primeira etapa por 3 a 0 ficou no vestiário e um time completamente diferente voltou para o tempo final do jogo. Com a postura de quem estava começando uma partida com o placar zerado, o Gigante da Colina se lançou ao ataque, e logo aos 14 minutos começou a brilhar a estrela de Romário, quando ele cobrou um pênalti e diminuiu a vantagem alviverde. Aos 23 minutos uma nova penalidade fez os vascaínos que se mantiveram acordados encher o peito de esperança novamente. Mais uma vez Romário foi para a cobrança e não deu chances para Sérgio.

A desvantagem que parecia inalcançável, agora era mínima e o Vasco seguia sedento por gols. Mas o caminhar rumo ao empate sofreu um duro golpe aos 33 minutos, quando o zagueiro Júnior Baiano foi expulso e deixou a equipe carioca com um homem a menos em campo para seguir na árdua busca do resultado. Nesse momento, o coração dos palmeirenses deve ter batido aliviado. Completamente em vão, note-se. O ataque de São Januário seguiu impossível e sequer deu atenção para os problemas da defesa.

O jogo caminhava para o fim e o cronômetro já chegava na casa dos 40 minutos. O Vasco assustou, mas parece que o título palmeirense já se desenhava, vencendo o jogo em casa, e com um jogador a mais em campo. Tudo favorável. Só faltou combinar com o camisa 23 dos adversários, o habilidoso Juninho Paulista. Foi ele o responsável por dar mais um golpe no já combalido Palmeiras, que foi às cordas no minuto 41 do segundo tempo.

Surpreendidos pelo poder de reação do Vasco, os palestrinos sequer tiveram forças para segurar o empate e tentar levar a taça nas penalidades. Foi por pouco. Eles quase conseguiram, mas aos 48 minutos, Romário, ao melhor estilo artilheiro que sempre teve, aproveitou uma sobra dentro da área e deu o golpe final, sacramentando a vitória do Time da Virada e escrevendo em letras permanentes a história de uma virada considerada por muitos como a maior daquele século que estava prestes a acabar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Jaqueilton Gomes

Jornalista em formação, amante do futebol e comentarista no Universidade do Esporte

Como citar

GOMES, Jaqueilton. A virada que marcou o fim do século XX. Ludopédio, São Paulo, v. 134, n. 52, 2020.
Leia também:
  • 143.3

    Washington: um homem de coração artilheiro e valente

    Jaqueilton Gomes
  • 141.29

    “Quiricocho”: a misteriosa ‘maldição’ que cruzou o Atlântico e ecoou na Champions League

    Jaqueilton Gomes
  • 140.59

    O último ato do Rei – Brasil e Worldstars no Giuseppe Meazza

    Jaqueilton Gomes