Clubes brasileiros: grandes marcas locais, pequenas marcas globais
O futebol é, sem dúvida, o esporte mais popular do mundo. A estimativa é que existam mais de 300 mil clubes de futebol, 3 milhões de praticantes e 3,5 bilhões de torcedores espalhados pelo planeta. No entanto, os maiores clubes brasileiros insistem em não aproveitar este mercado globalizado mesmo passando por sérias dificuldades financeiras.
![Deloitte Football Money League 2020. Foto: Reprodução.](https://www.ludopedio.org.br/v2/content/uploads/imagem-1-1-600x578.png)
Uma pequena análise nos números dos clubes internacionais é suficiente para verificarmos o tamanho do abismo. A título comparativo, o Flamengo, clube de maior arrecadação do país, prevê uma receita próxima a R$ 1 bilhão em 2020, algo em torno de € 152 milhões. O Barcelona, representante de um país com uma população cinco vezes menor que a brasileira, atingiu uma receita de € 840,8 milhões na temporada 2018/2019. Mesmo um clube europeu médio possui um faturamento bem mais significativo. O Napoli, clube italiano, arrecadou € 207,4 mi, ou seja, 36% a mais que o Flamengo.
A diferença continua grande quando falamos em números de fãs. O Flamengo, clube usado como referência por ter o maior número de torcedores dentre os clubes brasileiros, possui pouco mais de 30 milhões de seguidores nas redes sociais, número insignificante perto dos 240 milhões de seguidores do Real Madrid, o clube com o maior número de fãs entre todos os clubes de futebol no mundo.
Fica evidente que os clubes brasileiros estão muito distantes dos clubes grandes e médios da Europa.
Os clubes brasileiros, na sua grande maioria, trabalham muito mal o seu marketing. No mercado interno, o torcedor segue sem ser tratado como cliente e consumidor que tem anseios e poder de decisão. Os fãs querem ter acesso às informações do clube, interagir, ter novas experiências. Em relação ao mercado externo, pouco ou nada se faz. Ainda é um mercado gigante e inexplorado. Trata-se de uma realidade cruel, mas absolutamente verdadeira.
![Ranking digital dos clubes brasileiros de futebol. Foto: Reprodução/Ibope/Repucom.](https://www.ludopedio.org.br/v2/content/uploads/imagem-2a-600x255.png)
Atentar para o mercado global não é apenas uma oportunidade no aumento de receitas, mas uma questão de sobrevivência a longo prazo. É preciso ter produtos de qualidade (dentro os quais, o principal: um time), ampliar a exposição da marca, saber se comunicar e se relacionar com o público alvo (despertando emoções positivas), ter uma ampla rede de distribuição, buscar constantemente o aumento da quantidade de fãs e, consequentemente, fomentar novos negócios.
Poucos são os clubes brasileiros que se comunicam com os torcedores globais em outros idiomas. Comunicar-se apenas na língua portuguesa restringe a comunicação a um público de cerca de 300 milhões. O Botafogo é um dos raros exemplos de preocupação com o mercado externo, desde a criação do projeto “Botafogo Internacional” com a inclusão de 6 idiomas em seu site.
![Site Wikipedia. Foto: Reprodução.](https://www.ludopedio.org.br/v2/content/uploads/imagem-3-1-600x403.png)
O Grêmio provavelmente seja o clube que mais desperdiça a possibilidade de crescimento no mercado. O clube brasileiro com maior número de participações em Libertadores, amado por muitos torcedores da América, principalmente por uruguaios e argentinos e considerado o clube “mais castelhano” do Brasil, sequer tem o espanhol em seu site oficial. Recentemente o clube passou a replicar algumas informações em espanhol e inglês pelo Twitter, mas de forma bastante discreta.
Clubes de visão buscam no mercado internacional a ampliação do seu mercado. É o que acontece, por exemplo, com Real Madrid, Barcelona, Bayern München e Manchester United. Estes, no mínimo se comunicam com os seus fãs em inglês, espanhol, japonês e chinês. O Manchester City se comunica com o mercado em 13 idiomas. O Barcelona tem 44% do seu tráfego no site oficial acessado no idioma inglês, em segundo lugar vem o espanhol com 37%.
O fato de falar o idioma do torcedor (seja ele fã, ou apenas um simpatizante) é fundamental para estreitar o relacionamento com o mesmo e assim aumentar as possibilidades de interação e por consequência, aumentar as possibilidades de negócios e receitas.
![Site do Manchester City. Foto: Reprodução.](https://www.ludopedio.org.br/v2/content/uploads/imagem-4-1-600x454.png)
Além da língua, outra forma de gerar interação com outros públicos é a realização de jogos em território estrangeiro. Bem como, a contratação de atletas estrangeiros de destaque nos seus respectivos países também pode atrair a atenção para o clube contratante.
Os grandes clubes brasileiros pouco se comunicam com a América, quem dera com a Europa e sequer com o mercado asiático. O mercado atual exige mudanças, novas atitudes e uma modelagem diferente dos negócios. É fundamental a ampliação do universo de fãs que vão consumir informações e produtos, através de novas mídias. Esta ampliação de horizontes pode gerar parcerias estratégicas, participação em amistosos internacionais, pré-temporadas e torneios, venda de atletas e intercâmbio de know-how.
O mercado é imenso e praticamente inexplorado. Os clubes brasileiros precisam deixar de serem marcas locais para efetivamente entrar no universo global e sedento por novidades. O tamanho dos clubes está diretamente relacionado com sua Visão, com sua ambição e com ações capazes de inovar no mercado mundial.
Fontes de pesquisa
Delloite football Money League
Quanto cada clube estima em gastos e receitas e quanto vai para reforços
The Top 15 Biggest and Most Supported Football Teams in the World
Quanto cada clube estima em gastos e receitas e quanto vai para reforços
Jogos pouco conhecidos no Brasil também têm milhares de adeptos
Lista de países onde o português é língua oficial