Dória e o Pacembu – Entre o discurso de gestão e a privatização dos espaços públicos
Na noite da quinta-feira, 29 de junho de 2017, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo recebeu evento do Barão de Itararé num bate-papo com Juca Kfouri e Trajano. O mote do encontro foi o jornalismo esportivo praticado atualmente.
Considerando que o espaço para a mulher que cobre futebol feminino é praticamente inexistente, e que mudei meu ramo de atividade justamente em razão das dificuldades de sobrevivência com a profissão, minha presença no encontro foi única e exclusivamente para o fortalecimento do coletivo e para ver dois grandes jornalistas.
Mas o foco do texto é outro. Os dois parágrafos foram necessários apenas para pontuar que, na madrugada do mesmo dia, o prefeito João Dória conseguiu sua primeira vitória na Câmara dos Vereadores: a primeira aprovação para concessão do Pacaembu à iniciativa privada.
No caminho entre o Metrô República e o Sindicato, passei em frente à Câmara. Uma vontade de entrar, fingir a descontrolada e, de repente, machucar os que estão ajudando a construir uma cidade segmentada, que excluí, que privilegia poucos.
O prefeito “gestor”, discurso vendido em campanha e abraçado pelos seus eleitores, age exatamente ao contrário do que se espera de um gestor para uma cidade gigantesca como São Paulo. Dória é inadequado, simples assim. Conversa, dentro do seu mundinho de playboy, apenas com seus pares, mesmo se fantasiando e se utilizando das redes sociais para parecer “povão”. Coitado.
O prefeito gestor que não quer gerir nada, tem como meta privatizar tantos espaços públicos quantos forem necessários para satisfazer a sanha da sua turminha que curte capitalizar e, preferencialmente, tirar de circulação as pessoas menos abastadas e sem condições de usar camisas Polo e comprar obras de Romero Brito.
Mas Dória quer mexer com o Paca. Mexer com o Estádio Paulo Machado de Carvalho, significa não só alterar seu status de público para privado, como também ampliar o uso do espaço e, claro, capitalizar em cima disso. Mas tem o futebol, tem a história, tem toda a construção de identidade da cidade com o velho Paca.
![Fachada do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido por Estádio do Pacaembu ou simplesmente Pacaembu. Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas. Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Publicas O Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido por Estádio do Pacaembu ou simplesmente Pacaembu.](http://www.ludopedio.org.br/v2/content/uploads/paca_em_sp2.jpg)
As propostas de conceder à iniciativa privada vários aparatos públicos, podem ser checadas neste link.
Há uma série de poréns no caminho dos plano de Dória e sua “super gestão”, e, o porém mais contundente trata do tombamento do Pacaembu pelo Conpresp – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico. Mas a ingenuidade me abandonou e caso as mudanças já pensadas pela administração de Dória sejam levadas à cabo, o Paca caminhará para o modelo similar das arenas e sua segmentação gritante do público do futebol.
O que Dória talvez desconheça, é que há uma grande parcela da população que não aceitará o modelo que se pretende implementar, e sim, haverá mobilização. O que Dória talvez desconheça – digo assim porque não sei qual e se há, um histórico futebolístico na vida do prefake – é o que representa o Pacaembu para as torcidas da capital, principalmente.
Para quem se posicionou como gestor e passou, tão logo assumiu o cargo executivo mais alto da cidade, a considerar a privatização dos espaços públicos, fica claro o tamanho do equívoco que é. Haverá resistência. Haverá contestação e agiremos.
Faça, prefeito, o que você disse saber fazer e gerencie a cidade de modo responsável e não entregando nas mãos da iniciativa privada, os espaços que pertencem AO POVO.