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Dória e o Pacembu – Entre o discurso de gestão e a privatização dos espaços públicos

Luciane de Castro 2 de julho de 2017

Na noite da quinta-feira, 29 de junho de 2017, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo recebeu evento do Barão de Itararé num bate-papo com Juca Kfouri e Trajano. O mote do encontro foi o jornalismo esportivo praticado atualmente.

Considerando que o espaço para a mulher que cobre futebol feminino é praticamente inexistente, e que mudei meu ramo de atividade justamente em razão das dificuldades de sobrevivência com a profissão, minha presença no encontro foi única e exclusivamente para o fortalecimento do coletivo e para ver dois grandes jornalistas.

Mas o foco do texto é outro. Os dois parágrafos foram necessários apenas para pontuar que, na madrugada do mesmo dia, o prefeito João Dória conseguiu sua primeira vitória na Câmara dos Vereadores: a primeira aprovação para concessão do Pacaembu à iniciativa privada.

No caminho entre o Metrô República e o Sindicato, passei em frente à Câmara. Uma vontade de entrar, fingir a descontrolada e, de repente, machucar os que estão ajudando a construir uma cidade segmentada, que excluí, que privilegia poucos.

O prefeito “gestor”, discurso vendido em campanha e abraçado pelos seus eleitores, age exatamente ao contrário do que se espera de um gestor para uma cidade gigantesca como São Paulo. Dória é inadequado, simples assim. Conversa, dentro do seu mundinho de playboy, apenas com seus pares, mesmo se fantasiando e se utilizando das redes sociais para parecer “povão”. Coitado.

O prefeito gestor que não quer gerir nada, tem como meta privatizar tantos espaços públicos quantos forem necessários para satisfazer a sanha da sua turminha que curte capitalizar e, preferencialmente, tirar de circulação as pessoas menos abastadas e sem condições de usar camisas Polo e comprar obras de Romero Brito.

Mas Dória quer mexer com o Paca. Mexer com o Estádio Paulo Machado de Carvalho, significa não só alterar seu status de público para privado, como também ampliar o uso do espaço e, claro, capitalizar em cima disso. Mas tem o futebol, tem a história, tem toda a construção de identidade da cidade com o velho Paca.

Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Publicas O Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido por Estádio do Pacaembu ou simplesmente Pacaembu.
Fachada do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido por Estádio do Pacaembu ou simplesmente Pacaembu. Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas.

As propostas de conceder à iniciativa privada vários aparatos públicos, podem ser checadas neste link.

Há uma série de poréns no caminho dos plano de Dória e sua “super gestão”, e, o porém mais contundente trata do tombamento do Pacaembu pelo Conpresp – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico. Mas a ingenuidade me abandonou e caso as mudanças já pensadas pela administração de Dória sejam levadas à cabo, o Paca caminhará para o modelo similar das arenas e sua segmentação gritante do público do futebol.

O que Dória talvez desconheça, é que há uma grande parcela da população que não aceitará o modelo que se pretende implementar, e sim, haverá mobilização. O que Dória talvez desconheça – digo assim porque não sei qual e se há, um histórico futebolístico na vida do prefake – é o que representa o Pacaembu para as torcidas da capital, principalmente.

Para quem se posicionou como gestor e passou, tão logo assumiu o cargo executivo mais alto da cidade, a considerar a privatização dos espaços públicos, fica claro o tamanho do equívoco que é. Haverá resistência. Haverá contestação e agiremos.

Faça, prefeito, o que você disse saber fazer e gerencie a cidade de modo responsável e não entregando nas mãos da iniciativa privada, os espaços que pertencem AO POVO.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lu Castro

Jornalista especializada em futebol feminino. É colaboradora do Portal Vermelho e é parceira do Sesc na produção de cultura esportiva.

Como citar

CASTRO, Luciane de. Dória e o Pacembu – Entre o discurso de gestão e a privatização dos espaços públicos. Ludopédio, São Paulo, v. 97, n. 2, 2017.
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