176.1

EFIPAN: Uma breve experiência torcedora no interior do RS

Willian Carvalho 1 de fevereiro de 2024
Logo do 43° EFIPAN
Logo do 43° EFIPAN com a bandeira dos 6 países com times participantes. Fonte: Reprodução EFIPAN.

Neste último final de semana o calendário do futebol brasileiro voltou a ficar agitado com o início dos campeonatos estaduais, prato cheio para quem estava com aquela saudade de ver um jogo do time de coração, assim como acompanhar as inusitadas jogadas que ocorrem pelos campos do interior.

No domingo, acompanhei a estreia do Internacional x Avenida pelo Campeonato Gaúcho, jogo no qual obrigou os torcedores a assistirem a partida no sofá de casa ou em seu bar preferido. Devido a uma punição decorrente da briga no Gauchão de 2023 na partida de semifinal entre Internacional x Caxias, o Inter teve de cumprir a primeira partida como mandante em 2024 com portões fechados. Um estádio vazio sempre causa aquela sensação de estranhamento, acompanhado de um silêncio inquietante vindo das arquibancadas, ao final o Inter saiu com a vitória por 1 x 0.

Porém, meu foco aqui nesse breve texto é falar a respeito de outro campeonato que acompanhei nesse mesmo domingo, mas dessa vez com corpo e alma presente no estádio. Inicialmente, necessito dizer que sou do Alegrete, o “Baita Chão”, cidade situada no interior do Rio Grande do Sul, marcada por ser o maior munícipio do estado em extensão territorial e também terra do grandioso técnico João Saldanha. 

Atualmente passo apenas um curto período de férias na cidade, por conta de estar cursando uma graduação em História na Universidade Federal de Santa Maria, mas sempre quando possível venho visitar a família e amigos. Nessas idas e vindas, mantenho sempre meu contato com o futebol vivo, e dessa vez não foi diferente.

Em Alegrete, tradicionalmente é realizado o Encontro de Futebol Infantil Pan-Americano (EFIPAN), competição que está na sua 43° Edição, e acontece anualmente desde 1980,  as duas primeiras edições  foram disputadas no mês de julho,  porém devido ao rígido inverno que assola a região sul nessa época do ano, foi decidido realizar as seguintes edições no mês de janeiro.  A competição reúne 12 clubes da América do Sul, e conta com seis países sendo representados, os atletas inscritos devem ter até 15 anos para serem aptos a jogar.

Os jogos são realizados no Estádio Municipal Farroupilha, a casa do Flamengo de Alegrete, clube no qual participa da competição e também atende pelo carinhoso apelido de “Flamenguinho”.

Estádio Municipal Farroupilha
Estádio Municipal Farroupilha. Foto: Acervo Pessoal, 2024.

O Estádio Farroupilha já foi palco para alguns craques do futebol, por ele passaram os jovens Riquelme, Carlos Tévez, Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Pato, Neymar e recentemente Endrick enquanto era jogador das categorias de base do Palmeiras. A competição tem seu reconhecimento por estabelecer importante apoio no ponta pé inicial de jovens jogadores das categorias de base.

Riquelme
Ficha de registro no EFIPAN – Juan Román Riquelme. Foto: Reprodução Twitter

O Formato da competição

A competição segue o seguinte formato: A primeira fase classificatória é disputada por 12 (doze) equipes, divididas em 2 (dois) grupos de 6 (seis) equipes. Os confrontos são realizados com o Grupo A enfrentando o Grupo B, classificando-se para a segunda fase as oito melhores equipes da classificação geral, independentemente do grupo. Consequentemente, as quartas-de-finais são disputadas em jogos eliminatórios únicos, seguindo o mesmo formato para as disputas de semifinais, terceiro lugar e disputa do título.

43° EFIPAN
Equipes e Grupos Participantes no 43° EFIPAN. Fonte: Reprodução EFIPAN.

Que role a bola

Barraquinhas e Carros de lanche em frente ao Estádio
Barraquinhas e Carros de lanche em frente ao Estádio. Foto: Acervo Pessoal, 2024

A edição de 2024 do EFIPAN teve sua abertura oficial na quarta-feira (17/01), porém, só tive a oportunidade de ir acompanhar os jogos no domingo (21). Busquei chegar o mais cedo possível pra aproveitar a experiência, desde ver os vendedores ambulantes chegando com seus carrinhos de churrasquinhos e lanches, até as primeiras mobilizações de torcedores.

Os jogos do dia começavam as 15:30, contando com 6 partidas ao total. Um dos destaques do dia era o superclássico peruano entre Universitario x Alianza Lima, assim como o clássico confronto gaúcho entre Internacional x Grêmio.

 Chegando ao estádio passei na bilheteria, como o dia estava com um GreNal na agenda, o preço dos ingressos foi alterado, a geral estava custando 5 R$, arquibancada 10R$ e pavilhão 20R$ (nota rodapé sobre preços). Sem pensar duas vezes comprei um ingresso pra geral. Após entrar no estágio, o ingresso é recolhido pelos funcionários e você “ganha” um carimbo no  braço, como forma de comprovação caso queira sair e voltar do estádio no mesmo dia.

O primeiro jogo que consegui assistir completo foi entre Independiente Del Valle x Palmeiras, marcado para as 18hs, na maioria das vezes acabam ocorrendo um ou outro atraso no começo dos jogos. Após alguns minutos a bola começa a rolar, o estádio ainda estava tímido e com pouco público, mas isso era questão de tempo até vermos maiores movimentações.

Geral 5R$
Geral 5R$. Foto: Arquivo Pessoal, 2024

Na sequência, tivemos Talleres x Argentinos Jrs, jogo pegado, marcado por muitas jogadas individuais, e placar aberto até o final da partida. Por volta de 21:15, começava o penúltimo jogo do dia, o clássico peruano entre Alianza Lima x Universitário, marcado por gols de ambos os lados, provocações e muita gana, a equipe do Alianza Lima saiu com a vitória por 4×2. No começo desse jogo o estádio já começava a pulsar com a chegada de torcedores da dupla GreNal, embalados por cantos e instrumentos.

Atrás dos gols as torcidas faziam a festa, e é nessas horas que nós torcedores sentimos aquele misto de sensações, uma mistura de euforia, alegria, paixão e mais algumas dezenas de outros sentimentos. A saudade de frequentar um estádio era grande, e a partida que estava por vir mantinha boas expectativas para ambos os lados, o jogo além de ter o seu peso por ser um GreNal, era o primeiro do ano.

 Inter e Grêmio
Jogadores de Inter e Grêmio no campo. Foto: Arquivo Pessoal, 2024

Em campo ambas equipes se mantiveram muito cuidadosas nos minutos iniciais, mas sempre mantendo aquela clássica essência de um GreNal, não faltando chegadas e divididas mais fortes. Fim de papo no primeiro tempo e o jogo seguia no 0 x 0. No segundo tempo a equipe gremista mostrou superioridade e abriu o placar, pressionando a saída de bola constantemente e não deixando o colorado respirar. Já nos acréscimos, a equipe gremista conseguiu chegar mais uma vez e definir o placar, Grêmio 2 x 0 Internacional.

De acordo com a organização do campeonato, o público presente no Estádio Farroupilha contou com mais de 3.400 pessoas. Gosto de acreditar que após esses jogos, o público sendo torcedor do Flamenguinho, da dupla GreNal ou de qualquer outro time presente ou não na competição, vivenciar e exercer o torcer traz à tona aquele sentimento de satisfação após saciar um pouco a saudade de estar presente no estádio e na arquibancada.

O EFIPAN se mostrou mais uma vez um importante meio de oportunidade e sociabilidade através do futebol, seja para os “guris” das categorias de base, que buscam o sonho de um dia serem profissionais, ou para os torcedores do interior do estado que amam assistir e sentir o futebol em suas diferentes formas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Willian Silva Carvalho

Estudante de Graduação em História-Licenciatura na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Tem interesse pelo estudo do futebol, torcidas e demais práticas esportivas.

Como citar

CARVALHO, Willian. EFIPAN: Uma breve experiência torcedora no interior do RS. Ludopédio, São Paulo, v. 176, n. 1, 2024.
Leia também:
  • 179.15

    Apuestas deportivas online y jóvenes en Argentina: entre la sociabilidad, el dinero y el riesgo

    Juan Bautista Branz, Diego Murzi
  • 178.2

    Memória, Verdade e Justiça também no futebol sul-americano

    Fabio Perina
  • 177.18

    Sobre o papel dos pais e professores no futebol infantil

    Gabriel Said