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Experiência inicial com a coleta de dados de receita líquida de jogos da Copa do Nordeste

Dentre as atividades do projeto de Iniciação Científica “Estruturação, mercantilização e espacialização nos primeiros 10 anos da fase contemporânea da Copa do Nordeste (2013-2022)” está a verificação da importância econômica do torneio regional a partir da observação do aumento de receitas diretamente com as partidas. 

O levantamento desses dados referentes aos 10 primeiros anos da fase contemporânea da competição nordestina é para verificar como os clubes alagoanos podem ter aumento de suas receitas com a bilheteria. Para isso, o plano de trabalho “A importância econômica da fase contemporânea da Copa do Nordeste de futebol masculino (2013-2022) para times alagoanos” começou a realizar o levantamento de dados de todos os jogos do período.

Este texto irá comentar alguns dos resultados iniciais, especialmente as dificuldades encontradas. 

Método 

A coleta de dados realizada no site oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teve como objetivo obter informações das receitas por jogo da Copa do Nordeste nos períodos de 2013 a 2016. Inicialmente, buscamos o da primeira edição (2013), para testar observação, dificuldades e detalhes a serem aprimorados, partindo daí para os triênios seguintes. Até a escrita deste texto, portanto, estamos nas quatro primeiras edições. 

Foram coletados os dados de rendimento líquido dos jogos nos boletins financeiros, sendo somados por fase e, em seguida, para toda a competição. Na mesma linha de registro, incluímos rodada, nomes dos estádios e placares dos jogos disputados.

Compreendemos que depois pode ser necessário cruzar com público e capacidade do estádio para ver taxa de ocupação – algo realizado em outro plano de trabalho do projeto – e entender o peso das fases decisivas. 

Dificuldades 

Embora encontrar o documento contendo as informações não tenha sido uma tarefa muito difícil, demandou um tempo adicional abrir as páginas e recolher o conteúdo desejado. Além disso, ao comparar e analisar alguns modelos dos boletins financeiros disponibilizados pelos clubes, foi observada certa dificuldade na compreensão de alguns arquivos, especialmente aqueles em que as principais informações foram descritas manualmente, resultando na perda da qualidade visual ao serem escaneados. 

Esse elemento observado é importante. Apesar de ser uma competição organizada pela Liga do Nordeste e acompanhada pela CBF – por isso que esse tipo de informação estava no site da entidade máxima do futebol brasileiro –, não havia um modelo em comum de borderôs. Alguns eram por clubes, outros por federações; alguns manuais, outros digitados… 

Durante a análise, identificou-se ainda alguns erros nos lançamentos de subsídios e a ausência de informações em alguns casos isolados.

No entanto, é relevante destacar que o site não apresentou qualquer tipo de instabilidade e suas ferramentas e funções foram de fácil manuseio. As informações estavam bem descritas e organizadas por anexos, o que facilitou a separação dos elementos da pesquisa. 

Nordestão
Copa do Nordeste foi pioneira na transmissão de jogos pelo TikTok no mundo. Foto: Copa do Nordeste/Twitter/Divulgação

Observações prévias dos dados 

É relevante informar que os 4 anos iniciais da fase contemporânea da Copa do Nordeste representam um mesmo modelo de regulamento: grupos com 4 clubes cada, que classificam os melhores para dois jogos das quartas-de-final e daí em diante a grande final. 

Entretanto, só a partir de 2015 houve participação das equipes de Maranhão e Piauí, o que ampliou a quantidade de clubes de 16 para 20 na competição – eram 2 de cada estado, com exceção de Ceará, Pernambuco e Bahia, com 3 participantes cada. Assim, foram 4 grupos nos dois primeiros anos e 5 em 2015 e em 2016, o que ampliou a quantidade total de jogos de 62 para 74. 

Recortando para este texto apenas os jogos das finais, percebemos que a capacidade do estádio é um elemento relevante a se observar. Em 2013, na “final do interior” entre Campinense (PB) e ASA (AL), a receita líquida total nos dois jogos foi de R$ 279.355,62; enquanto a “final dos 100 mil” entre Bahia (BA) e Fortaleza (CE), em 2015, já em arenas reformadas para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, o valor líquido com ingressos chegou a R$ 1.836.711,72. 

Entre as equipes alagoanas, recorte geográfico de interesse do nosso plano de trabalho, é justamente o jogo de ida da final de 2013 a partida de maior receita líquida no período: R$ 112.160,64. Enquanto a com menor valor foi Coruripe (AL) 3×5 Sampaio Corrêa (MA), realizada na 4ª rodada da 1ª fase da edição de 2015. Curiosamente, dois jogos no interior alagoano, respectivamente em Arapiraca e em Coruripe, mas que também refletem a importância do estágio do clube no campeonato – algo que também foi visto com os dois clubes da capital, CRB e CSA no recorte temporal com coleta de dados. 

Considerações parciais 

Diante do exposto, fica claro que a coleta de dados teve aspectos positivos e negativos, mas nada que pudesse ser considerado drástico ou definitivo a ponto de interromper a coleta. 

Como sugestão de melhoria, a padronização de um único modelo de boletim financeiro seria muito importante, uma vez que a maioria deles apresenta informações semelhantes, diferenciando-se apenas nos formatos. Assim como, recomenda-se que as informações sejam digitadas, em vez de manuscritas, para preservar a qualidade visual do conteúdo descrito nos boletins. 

Por fim, até porque a análise mal começou para valer, o que observamos aqui a partir dos dados confirma algumas expectativas ainda na fase de projeção da pesquisa, valendo à pena observar com maior detalhamento e profundidade ao longo do desenvolvimento da mesma.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Anderson Santos

Professor da UFAL. Doutorando em Comunicação na UnB. Autor do livro "Os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol" (Aprris, 2019).

Como citar

SANTOS, Anderson David Gomes dos; GONçALVES, José Mateus. Experiência inicial com a coleta de dados de receita líquida de jogos da Copa do Nordeste. Ludopédio, São Paulo, v. 176, n. 12, 2024.
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