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Marias, Malus, Mulheres… retrato de gênero no Sport Club Internacional

Najla Diniz 14 de maio de 2020

Maria Von Ockel foi aceita no quadro social do Sport Club Internacional, em 02 de abril de 1918, sob responsabilidade de seu cunhado. É a primeira mulher associada a um clube de futebol do país. A ata de aprovação do seu nome salienta a idoneidade dos proponentes da associação como fator determinante para que a mesma ingressasse no clube e na história das mulheres no futebol. Um ano depois, o clube adequa sua sede com um pavilhão especial para senhoras e senhoritas que passaram a frequentar a Chácara dos Eucaliptos.

Ata de aprovação da associação de Maria Von Ockel.

Malu Barbará participa da Torcida Força Feminina Colorada (FFC), composta unicamente por mulheres, desde sua fundação, em 2009, ano do centenário do clube. No começo, a ideia era apenas proporcionar companhia do mesmo gênero às mulheres que iam sozinhas ou com filhos ao estádio. A consciência social veio em seguida: são inúmeras as campanhas contra violência de gênero e pelo empoderamento feminino. Hoje, a FFC tem vez, voz, espaço, autonomia e reconhecimento de toda torcida.

O quadro social do Inter é composto em quase 25% por mulheres. É o maior número em proporção de associadas dentre todos os clubes do país. Também é do Inter o maior número de mulheres que integram um Conselho Deliberativo: 35.

Podemos tentar explicar esse fenômeno pelo forte apelo popular que o Inter sempre teve na sociedade gaúcha, desde sua fundação pautada pela inclusão social. Outra hipótese seria o amplo número de mulheres que são responsáveis sozinhas pelas famílias que formaram: são elas que levam os filhos e as filhas ao estádio (e a política de acesso gratuito a crianças no Beira-Rio, em conjunto com o plano de associação para pessoas de baixa renda, colaboram para esse cenário). Por fim, não se pode olvidar que o Inter é um clube que garante estatutariamente a participação efetiva do seu quadro social: com apenas um ano de associação, o direito ao voto é conquistado; com dois anos, o de ser votado.

Essa abertura política, em consonância com ações de proteção de gênero (o Inter tem um canal de WhatsApp, “Estaremos Contigo”, para denúncias de assédio durante as partidas; além da Ouvidoria), conta também com um Futebol Feminino estruturado desde a base e com uma Diretoria Feminina do Relacionamento Social. O pertencimento é real, constante e presente no cotidiano do clube.
Somos Marias, somos Malus, somos as mulheres que participam ativamente da arquibancada à gestão; da torcida ao conselho. Nas ruas, nas casas, nos estádios e nas arenas de todo o país, as mulheres coloradas estão onde decidiram estar.

 

Para ler essa história de mulheres corajosas recomendamos como trilha sonora a música Pagu na versão da Maria Rita:


A Revista Pelota em parceria com o Ludopédio publica nesse espaço os textos originalmente divulgados em sua página do Medium.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

DINIZ, Najla. Marias, Malus, Mulheres… retrato de gênero no Sport Club Internacional. Ludopédio, São Paulo, v. 131, n. 30, 2020.
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