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O desequilíbrio no futebol carioca chegou ao nível máximo

2 de março de 2021

Futebol Carioca

O Botafogo é o time de Garrincha, Nilton Santos, Didi e Gerson, quatro dos maiores jogadores de todos os tempos. O Vasco teve Roberto Dinamite, Edmundo e Romário, um trio que pegando a história de qualquer clube do mundo é difícil reunir algo superior. Ambos vão disputar a segunda divisão em 2021, com o cruz-maltino encarando essa dura realidade pela quarta vez e a Estrela Solitária pela terceira vez.

Ao acompanhar as novidades do futebol brasileiro (você pode fazer isso ao ler mais aqui) é de se estranhar esses novos tempos de domínio de poucos clubes. O ano de 2020, cuja temporada terminou em 2021, teve o Palmeiras campeão da Libertadores e o Flamengo campeão brasileiro. No ano anterior o Rubro-Negro foi campeão continental e nacional.

E é o Flamengo que irá dominar o futebol carioca sem sombra de dúvida. O time teve períodos iluminados, como o começo dos anos 80, mas isso se deveu a uma geração incrível de atletas. E as outras forças do estado também tiveram seus momentos. O Fluminense foi campeão brasileiro em 1984, por exemplo. O Vasco também foi campeão nacional, em 1989.

Depois da Copa do Brasil de 2011 do Vasco e o Campeonato Brasileiro de 2012 pelo Fluminense, só o Flamengo gritou é campeão nas principais competições que os clubes brasileiros disputam. E isso deve se manter por um tempo.

Razões para o desequilíbrio

O aspecto financeiro sempre importou no futebol, mas os clubes brasileiros por longas décadas viviam períodos de riqueza e domínio por circunstâncias específicas. O Fluminense teve a parceria com a Unimed impulsionando os campeonatos brasileiros de 2010 e 2012. Uma boa venda, uma geração da base acima da média, isso criava bons momentos.

Mas com uma mudança de direção do Flamengo, isso mudou. O rubro-negro botou as contas em dia, criou estrutura (com o CT Ninho do Urubu) e ativou seu grande diferencial, a enorme torcida que sempre se renova. Isso gerou mais sócios, maiores bilheterias, mais dinheiro de televisão e venda de produtos licenciados.

Salários em dia e dinheiro em caixa também permite contratações melhores, a vinda de treinadores de maior qualidade e cria-se uma roda que nunca para de girar.

Enquanto isso Botafogo e Vasco tem uma roda parada. Com dívidas astronômicas não é possível fazer grandes contratações, novos processos na justiça fazem os cofres ficarem ainda mais vazios. No caso do Botafogo, a renovação de sua torcida é um problema, já que as grandes glórias têm cinco décadas de distância para os tempos atuais. O Brasileiro de 1995 foi um espasmo, como o próprio Carlos Augusto Montenegro, dirigente histórico do clube, afirmou.

O Vasco ainda conta com grande poder de sua torcida, que financiou a construção do CT e impulsionou o número de sócios em 2019 e 2020. Mas as dívidas são enormes, a gestão não é bem feita e as brigas políticas não param.

Com a queda para a Série B tudo piora: os direitos televisivos despencam, assim como o nível de interesse de torcedores. Ainda mais porque não dá para usar esse momento baixo como argumento para uma união que irá reformar o clube, como aconteceu com o Corinthians em 2008. O Vasco em 2021 viverá a mesma situação que em 2009, 2014 e 2016, ou seja, chega uma hora que a memória da Cruz de Malta no topo do futebol brasileiro começa a ficar bem no passado.

Pior, com o Flamengo tendo tanto sucesso, o momento fica ainda mais difícil. E o espaço para ter mais de um clube de sucesso em uma cidade que vive problemas financeiros e sociais não pode ser ignorado. Mesmo um clube com milhões de torcedores, grande parte dessa massa não tem o suficiente para comprar uma camisa oficial que beira os 300 reais, ingressos caros ou pagar planos de sócio-torcedor para ver um time em campo que não disputa títulos.

O remédio é amargo: assim como o Flamengo ficou anos sem ter times bons já que precisou separar dinheiro para pagar dívidas e arrumar a casa, Vasco, Botafogo e Fluminense precisam fazer o mesmo. Para ser grande novamente é preciso pensar na redução de expectativas e de gastos a curto prazo. Não serão anos fáceis, mas pode existir uma luz no fim do túnel.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

, . O desequilíbrio no futebol carioca chegou ao nível máximo. Ludopédio, São Paulo, , 2021.
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