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O futebol é simples: Resenha do livro “Johan Cruyff 14: A Autobiografia”

Em sua autobiografia, Cruyff conta suas vivências, experiências e sua visão sobre o futebol e a vida. 

Cruyff
Fonte: divulgação

É engraçado como às vezes complicamos as coisas, quando as coisas mais belas são as mais simples. Lendo a autobiografia de Johan Cruyff, que foi publicada no Brasil pela Ed. Grande Área, ficou cada vez mais claro o quê Johan Cruyff, um dos maiores jogadores de todos os tempos enxergava do futebol.

E muito além da beleza, de buscar encantar e levar alegria às pessoas jogando um bom futebol, o que ficou mais claro para mim ao finalizar a leitura do livro é que uma das máximas de Johan Cruyff resume bem sua visão de jogo:

“O futebol é bem simples, mas jogar futebol de um jeito simples é o mais difícil que há”.

O holandês era um apaixonado pelo futebol e tinha muito claro para si como o futebol tem que ser jogado. Até por isso talvez eu tenha gostado tanto de “conversar” com Johan durante esses dias. A sensação de ler o livro foi essa, de ter tido uma conversa com Cruyff, visto que a lenda holandesa fala/ escreve de uma forma bem sincera sobre sua visão sobre o futebol e a vida em geral.

O livro é bem dividido, com o começo falando sobre o começo da trajetória de Cruyff no Ajax, chegando no clube como ajudante de jardinagem de seu tio até enfim chegar no time principal, passando pelas categorias de base. Após falar sobre a primeira passagem pelo clube de Amsterdã, Cruyff aborda sua passagem pelo Barcelona, falando de como mudou o clube catalão e sua mentalidade. 

Não só pelos títulos, mas Cruyff mudou a forma do Barcelona jogar e isso se intensificou ainda mais no período que o holandês foi técnico do clube catalão. Toda a forma que o Barça tem de encarar o jogo, buscando não só vencer mais jogar bem sendo tão importante quanto.  fez uma verdadeira revolução no Camp Nou, transformando o Barcelona no clube que é conhecido hoje como o maior ícone de um futebol bem jogado. 

 Ao falar sobre sua chegada ao Barcelona como treinador relatou que:

” Desde do inicio virei as coisas de ponta-cabeça no Barcelona. O que vi quando cheguei lá foi um estilo de jogo em que os defensores corriam menos que os atacantes. Eu queria mudar isso imediatamente – sempre tendo em mente, que no futebol é preciso ganhar espaço em campo. No futebol é preciso pensar de forma criativa , mas também lógica” (CRUYFF, Johan. p. 153)

Johan Neeskens, Rinus Michels e Cruyff
Johan Neeskens, Rinus Michels e Cruyff, em 1976. Fonte: Wikipedia

Cruyff em todo livro não deixa de mencionar as pessoas, ou melhor seus treinadores que o influenciaram na sua maneira de ver o jogo e claro que Rinnus Michels foi sua maior refêrencia. Rinnus e Johan vivenciaram a experiência de técnico e jogador por três vezes juntos, no Ajax, na seleção holandesa e no Barcelona, por sinal é Rinnus Michels que leva Cruyff para o Camp Nou após uma saída conturbada do craque do Ajax. 

Por sinal, é curioso ver como todas as vezes que Cruyff deixou o clube da capital holandesa foram de formas complicadas e conturbadas, com Cruyff se sentindo sacaneado pelos diretores do clube de sua vida. Mesmo assim, Johan Cruyff dedicou boa parte de sua vida ao Ajax até mesmo após se aposentar como treinador, esteve no clube de Amsterdã em outras funções, sempre buscando fazer com que o clube voltasse a jogar e ser o Ajax que foi nos tempos em que Cruyff liderou o clube a três taças da Copa dos Campeões da Europa. 

Uma vida toda dedicada ao futebol e ao Ajax. Ao ler a autobiografia da lenda holandesa, o que mais fica a impressão de como Cruyff amava esse jogo e o via principalmente como uma arte. Ainda em seu livro, Cruyff menciona outros técnicos que admirava como Telê Santana e chega a comparar a seleção brasileira de 1982 ao time holandês de 1974. 

A filosofia do holandês gerou frutos e técnicos que vieram a se inspirar claramente em sua forma de pensar o jogo. O maior exemplo é claro o espanhol Pep Guardiola que quando jogador subiu da base do Barcelona quando Cruyff era o treinador e diz que foi com o holandês que aprendeu tudo sobre futebol:

“Eu não sabia nada sobre futebol antes de conhecer Cruyff”

No livro de Martí Pernau “Guardiola Confidencial” o autor do livro aborda a importância que Cruyff teve para o inicio de carreira de Guardiola, no Barcelona. E como de um menino magro e franzino se tornou um dos maiores ícones do Dream Team que viria conquistar a Europa pela primeira vez em 1992:

” No entanto, o jovem Guardiola – que era magro, franzino e lento – não possuía grandes qualidades defensivas e, por isso, costumava participar mais ativamente da criação de jogo de ataque. Johan Cruyff notou sua presença quando Pep sem sequer jogava como titular do Barça B . O auxiliar Carles Rexach disse a Cruyff  um dia, no final dos anos 1980: “O melhor dos garotos é Guardiola, mas ele não joga”.  E o treinador promoveu Pep ao grupo principal e o fez jogar. Ele usava a número 4 e, desde então, passou a definir o sentido da posição de volante no Barcelona. ” (PERARNAU, Martí. p. 45)     

Johan Cruyff
Fonte: Wikipedia

Johan Cruyff foi muito mais que um jogador de futebol ou um técnico, foi um verdadeiro pensador do jogo, que revolucionou a maneira de que o jogo é visto. Mesmo após 8 anos de sua partida, o legado de Cruyff segue muito vivo e reverenciado por aqueles que gostam de um futebol ofensivo.

A autobiografia de Johan Cruyff é a experiência de conhecer um pouco mais da vida e trajetória de uma das maiores personalidades do futebol, uma carta aberta de amor ao jogo que tanto amamos! 

Finalizo essa resenha com mais uma citação do próprio Cruyff:

“Já disse antes que jogo futebol principalmente para entreter o público. Para mim, não é apenas uma questão de ganhar. Meus princípios sempre foram construídos com base nas perguntas: você vai ganhar jogando bem? Que abordagem adotará para conseguir isso?” (CRUYFF, Johan. p. 150)

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Daniel Morales

Estudante de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ Faculdade de Formação de Professores (UERJ/FFP). O amor pelo Fluminense, futebol e América Latina se transformou em pesquisas acadêmicas que possuem foco na relação entre o futebol, sociedade e política, com o objetivo de analisar como esse esporte se reflete na sociedade.

Como citar

MORALES, Daniel. O futebol é simples: Resenha do livro “Johan Cruyff 14: A Autobiografia”. Ludopédio, São Paulo, v. 179, n. 10, 2024.
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