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O melhor Campeonato Brasileiro dos últimos tempos?

Em um artigo anterior, explorei o tema da volta dos ídolos ao futebol brasileiro, enfocando a importância desse fenômeno para os pesquisadores e amantes do futebol. Nesse texto, abordarei a grande presença desses craques no Campeonato Brasileiro 2011.

Quase todos os cronistas e comentaristas esportivos já atentaram para isso. Ressaltam, dentre outras coisas, o fato de estrelas em ascensão, como Neymar, Ganso e Lucas, terem permanecido em seus clubes para a disputa da principal competição nacional. E, além disso, repatriamos, desde o ano passado, importantes jogadores que estavam, principalmente, na Europa. Dentre eles, podemos citar Luís Fabiano (São Paulo), Rafael Sóbis (Internacional), Adriano (Corinthians), Felipe, Juninho Pernambucano (Vasco), Elano (Santos), Deco (Fluminense), Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves (Flamengo). Isso sem falar nos estrangeiros que também estão jogando por aqui, tais como Conca (Fluminense)1, Montillo (Cruzeiro), D’Alessandro, Guiñazú (Internacional), Loco Abreu (Botafogo).

Desde o início da era de pontos corridos, em 2003, podemos dizer que esse será o melhor campeonato já disputado? Se tomarmos por base alguns critérios analíticos simples, como número de jogadores convocados para a Seleção, sim. Na última convocação de Mano Menezes para os amistosos contra Romênia e Holanda, foram 10 jogadores no total. Fora alguns dos estrangeiros, já citados acima, que representam suas respectivas seleções nacionais.

Montillo comemora o gol em jogo contra o Coritiba. Foto: Washington Alves/VIPCOMM.

Esse destaque para o nosso Campeonato Nacional, obtido graças aos grandes jogadores em ação, é benéfico sob diferentes aspectos: impulsiona a receita dos clubes; aumenta a visibilidade na mídia internacional; atrai os grandes jogadores latinos para jogar no Brasil; melhora, obviamente, a qualidade dos jogos, trazendo o torcedor aos estádios. Em entrevista ao Caderno de Esporte do Jornal O Globo (dia 15/05/2011), o meio-campo argentino Montillo resume bem o atual momento do futebol brasileiro:

Blog Comunicação e Esporte (reprodução).

É questionável, no entanto, se essa “fartura” em gramados nacionais resistirá a tão temida janela do meio do ano (quando, inclusive, alguns contratos de empréstimo terminam e os atletas devem retornar aos seus clubes estrangeiros). Não sabemos quão ávido estará o apetite dos grandes e médios clubes europeus, árabes e asiáticos. O que podemos afirmar é que os clubes brasileiros não cederão seus jogadores com tanta facilidade. Além de os clubes contarem com um maior receita bruta anual, os jogadores atuando por aqui ganham tanto quanto em outras ligas estrangeiras. Com o real valorizado, se torna um pouco mais fácil competir de igual para igual com os clubes de países desenvolvidos. Vide, por exemplo, os salários de Ronaldinho Gaúcho, 416.000 € mensais, e Deco, 333.000 € (confira aqui a lista dos mais bem pagos do mundo em 2011). Ficará difícil, principalmente, para os clubes sem tradição do Oriente Médio, que contratavam os jogadores brasileiros com o argumento principal do retorno financeiro. Veja abaixo a evolução na receita dos clubes (e baixe o pdf completo com a pesquisa aqui).

Outrossim, a chance de disputar uma vaga na seleção brasileira é um dos grandes trunfos dos clubes brasileiros para convencer os jogadores a voltar. A visibilidade no Oriente Médio, Leste Europeu e Ásia é muito pequeno, principalmente se comparado ao Brasil. Esse foi o principal motivo que fez Thiago Neves voltar ao Brasil esse ano e Fred, dois anos atrás. Ambos foram “premiados” com a última convocação da Seleção, tanto pelo mérito em campo quanto pela decisão de retornar ao seu país. Em recente entrevista ao Arena Sportv, comentando sua convocação, Thiago citou a opção do retorno ao Brasil como um dos principais motivos, enfatizando a falta de visibilidade que ele tinha em seu antigo clube, o Al-Hilal, da Arábia Saudita.

Esse desenvolvimento do futebol brasileiro irá continuar nos próximos anos? Mais um questionamento complicado. No entanto, acredito que a resposta seja afirmativa. Com os investimentos para a Copa do Mundo de 2014, teremos estádios mais modernos, infra-estrutura superior e, espera-se, um aumento de público. Este é, aliás, um dos grandes problemas dos pontos corridos no Brasil. A média de público ainda é baixa, mesmo que esteja em um movimento ascendente nos últimos anos (à exceção de 2010, que não contou com o Maracanã e o Mineirão, já em obras para a Copa). A tendência é que essa média realmente diminua nos anos pré-Copa, já que os estádios atualmente utilizados pelos grandes clubes não são os principais de cada Estado, para no período pós-Copa, recuperar o crescimento.

Aos que ficaram felizes com o prognóstico positivo dado ao longo desse texto, trago agora uma má notícia. Alguns desses craques que citei acima ainda não estarão em campo nas rodadas iniciais do brasileiro (por exemplo, Adriano, Luís Fabiano e Juninho Pernambucano). De qualquer forma, o Campeonato Brasileiro é um espetáculo não somente proporcionado pelos jogadores, mas também, em grande parte, pelos torcedores. Por isso, tenho certeza, uma das únicas aliás, que temos o melhor campeonato do mundo, no que diz respeito à paixão do torcedor e ao show das arquibancadas.

Torcida do Inter no estádio do Beira Rio, em Porto Alegre. Foto: Lucas Uebel/VIPCOMM.

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[1] Conca acabou de ser negociado para o exterior, foi para o Guangzhou Evergrande, da China.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Fausto Amaro

Doutorando em Comunicação da Uerj e bolsista da Capes. Mestre e graduado em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, ambos pela Uerj. Atua no projeto de pesquisa "Meios de Comunicaçao, Idolatria, Identidade e Cultura Popular" sob orientação do Professor Ronaldo Helal. É um dos admistradores do blog "Comunicação, Esporte e Cultura".

Como citar

MONTANHA, Fausto Amaro Ribeiro Picoreli. O melhor Campeonato Brasileiro dos últimos tempos?. Ludopédio, São Paulo, v. 25, n. 3, 2011.
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