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Resumos do GTs IX e X – III Seminário Online do Ludopédio 2024

Equipe Ludopédio 12 de março de 2024

Com objetivo de debater e dar visibilidade a pesquisas realizadas por mulheres sobre futebol(is), será realizado, entre os dias 09 e 16 de março de 2024, o III Seminário Online do Ludopédio – Mulheres e futebol: pesquisar, trabalhar, torcer e jogar. O seminário do Ludopédio reunirá apresentações que contemplam a multiplicidade de temas observada no campo dos estudos sobre futebol nas ciências humanas. As apresentações de pesquisas realizadas por mulheres abordarão diferentes dimensões, fenômenos e práticas relacionadas ao universo futebolístico.

Os resumos dos 12 Grupos de Trabalho serão publicados ao longo de seis textos. Confira a programação completa do evento. 

futebol mulheres


 

Grupo de Trabalho 9 – Futebol de Mulheres III

15/03 – sexta-feira – 19h30-21h30

 

“As Barbies de chuteiras”: o beijo na final da Copa do Mundo Feminina de Futebol 2023
Magali Cristina Rodrigues Lameira

“O ano de 2023 foi testemunha de avanços notáveis em prol das mulheres, com a Copa do Mundo de Futebol Feminino e o sucesso do filme Barbie destacando-se como fenômenos culturais que impulsionaram a visibilidade feminina. No entanto, mesmo com iniciativas positivas, persistem desafios significativos, como o aumento nos casos de feminicídios e a falta de espaço e investimento para as mulheres no cenário esportivo, especialmente no futebol. O ensaio aborda a luta das mulheres no esporte, evidenciando a Copa do Mundo feminina como um triunfo, mas também ressaltando um incidente durante a premiação que expõe a persistência do machismo estrutural. A análise, relacionada ao mito de Sísifo, ilustra como as mulheres enfrentam obstáculos recorrentes em sua busca por visibilidade e igualdade, destacando a necessidade contínua de desafiar normas sociais. A reação da jogadora espanhola ao incidente é contextualizada pela compreensão das mulheres sobre a tragédia que faz parte de seu cotidiano, assim como no mito de Sísifo que tem como resultado em sua tentativa de enfrentar os deuses o castigo de passar o resto da vida fazendo um trabalho fadado à inutilidade e sem perspectiva de esperança. O texto destaca a importância de confrontar e discutir as pequenas violências que perpetuam estruturas desiguais, conectando os conceitos de Bourdieu sobre “”habitus”” e a reflexão de Naomi Wolf sobre a influência da sociedade em comportamentos individuais. Apesar dos desafios persistentes, o ensaio conclui que as mulheres continuam a lutar por igualdade, ocupando espaços e desafiando normas estabelecidas. O episódio na Copa do Mundo feminina serve como um lembrete da necessidade constante de questionar e transformar as estruturas sociais que perpetuam as desigualdades de gênero.


Futebol de mulheres e emoções: um estudo nos clubes Bangu e Fluminense
Maíra Tura Pereira

Existe um universo de possibilidades e muito já se pesquisou sobre o Futebol de mulheres no Brasil, porém meu trabalho está localizado numa lacuna ainda não preenchida pelos estudos da Antropologia do Esporte. Esta pesquisa trata das emoções expressas pelas atletas de alto rendimento do futebol de mulheres dos clubes Bangu e Fluminense. Demonstra como as atletas manejam suas emoções e como se dá essa construção dentro e fora do campo e ainda analisa como a questão do gênero ligada ao esporte aparece neste contexto. O discurso das emoções das atletas sobre diferentes momentos e situações que rodeiam o ambiente esportivo foram essenciais na construção de dados. Como procedimento metodológico foi realizado um trabalho de campo entre 2022 e 2023 nos clubes Bangu e Fluminense, tanto nos treinos quanto em jogos, acrescido da leitura e análise de capítulos de livros e artigos que tratam da questão da emoção, do esporte e do futebol feminino. A hipótese é de que as diversas emoções expressas pelas mulheres atletas são construídas dentro e fora das quatro linhas, não são naturais e estão interligadas às relações de poder assimétricas de gênero. Para a análise das emoções dessas atletas foi utilizado como principal referencial teórico a visão contextualista, proposta por Catherine Lutz e Lila Abu-Lughod.


A obrigatoriedade de ter equipes femininas de futebol e suas consequências 
Marília Guaragni de Almeida

O estudo analisa a obrigatoriedade de times de futebol terem equipes femininas adultas e de base ativas em seus clubes. Tanto no Brasil como em âmbito Continental, desde 2019 todos os clubes que disputam a Série A, a Copa Libertadores da América e a Copa Sul-americana são obrigados a ter equipes femininas. O objetivo é informar as adversidades encontradas pelo futebol feminino em se desenvolver, baseado na desigualdade que foi aplicado. No ano de 2019, quando a obrigatoriedade entrou em vigor, apenas 7 times brasileiros, de 14, que disputavam as competições continentais, possuíam equipes adultas e de base feminina. A norma de obrigatoriedade foi publicada no ano de 2016, proporcionando 3 anos de adaptação. Os clubes que não atendessem as medidas, tem como punição a exclusão das competições organizadas pelas instituições. Abordar como a obrigatoriedade afetou o desenvolvimento do futebol feminino, expõem a existência de trabalhos executados apenas pela força de uma punição. Tem-se a justificativa por conta das ações que a obrigatoriedade ocasionou, fazendo com que se criassem competições femininas de base e um maior cuidado com o produto futebol feminino. A metodologia utilizada é de análise de conteúdo com matérias vinculadas partindo do regulamento, também com a mudança de atitudes dos clubes. Concluiu-se que a obrigatoriedade foi fundamental para o desenvolvimento do futebol para mulheres adulto e de base, pois, o atraso de anos de proibição das práticas do futebol auxilia a emplacar ações de recuperação do descaso sem chance de negação. Em contrapartida, muitos clubes fazem da obrigação apenas mais um item da gestão, não fomentando e nem desenvolvendo, mas o futebol feminino é realidade e os que não o tratarem como tal, acabam perdendo tanto em títulos como em lucro.


O corpo da mulher no esporte: análise histórica e cultural das relações com as práticas esportivas
Maria Angélica Alves Morais, Caroline Keiko Uemura Izac, Karina de Toledo Araújo

A prática esportiva da mulher, ao longo da história, foi objeto de debates e preconceitos, sendo, em alguns momentos, desencorajada por não ser considerada adequada à saúde e ao corpo da mulher. Em contrapartida, o enfrentamento constante de preconceitos e diversas formas de discriminação relacionadas ao corpo feminino persiste como um desafio para as mulheres envolvidas em práticas esportivas. Objetivo: Analisar como o corpo da mulher foi historicamente e culturalmente relacionado as práticas esportivas. Metodologia: Trata-se de uma revisão narrativa, desenvolvida a partir dos conceitos de corpo na perspectiva das relações de gênero nos contextos históricos, culturais e religiosos da sociedade e da trajetória da mulher no enfrentamento do preconceito na busca de espaço para a prática esportiva. A partir disso, foram traçadas reflexões entre preconceitos sociais e culturais historicamente constituídos e desigualdades no acesso e permanência das mulheres em práticas corporais e esportivas. Resultados e discussão: A análise histórica e cultural do corpo da mulher no esporte revela uma trajetória marcada por complexas relações sociais e normas culturais. Historicamente, o corpo feminino foi associado a estereótipos de fragilidade e inferioridade física, moldando percepções sobre as capacidades esportivas das mulheres relacionados a vulnerabilidade do corpo feminino à dominação, contextualizando-o nas relações de poder historicamente estabelecidas. Ademais, o eurocentrismo e etnocentrismo motivaram discriminações de classe, raça e gênero, promovendo um discurso moralista e higienista sobre a mulher, principalmente no esporte. Considerações finais: Atualmente, movimentos sociais, debates sobre igualdade de gênero e a luta por direitos das mulheres têm contribuído para uma reavaliação das relações entre o corpo feminino e práticas esportivas. A análise histórica e cultural dessas relações destaca a necessidade contínua de superar estigmas de gênero e promover um ambiente inclusivo e equitativo no universo esportivo.


Explorando a visibilidade da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de Futebol Feminino: uma abordagem de alfabetização científica
Jaqueline Monique Marinho da Silva, Jasmyn Azevedo dos Santos, Isla Silva dos Santos Pereira, Cássia Letícia Gomes do Nascimento

Pensar as aulas de Educação Física sob um prisma inclusivo, isonômico e multifacetado possibilitaria aos alunos vivências significativas e menos excludentes. Com a reestruturação do Ensino Médio, que visa estimular o protagonismo juvenil e a interdisciplinaridade, coube à Educação Física ressignificar seu trato pedagógico. Isso, somado à ocorrência da Copa do Mundo de Futebol Feminino (CMFF) e aos constantes discursos misóginos expostos pela mídia, pensou-se em desenvolver uma sequência didática pautada na alfabetização científica (AC) com o tema “Seleção Brasileira nas CMFF”. As etapas de pesquisa consistiram em: 1] leitura/interpretação e produção de textos; 2] utilização de ferramentas digitais (softwares/plataformas de pesquisa); 3] coleta e análise de fontes documentais; 4] discussão e apresentação dos resultados. Foram selecionadas três alunas do Ensino Médio para participarem da pesquisa. As etapas 1 e 2 propiciaram a construção de uma revisão de literatura sobre o tema; os resultados permitiram conhecer o objeto de pesquisa e orientar a análise das fontes documentais. Na etapa 3, coletaram-se 177 notícias no acervo online do jornal “O Globo”, um dia antes e um dia após o fim da CMFF de 1991 a 2023. Optou-se por analisar apenas os títulos das notícias, diante das dificuldades apresentadas (pouco/nenhum contato com a pesquisa) e a disponibilidade de tempo. Os resultados foram organizados e categorizados em: ética (34%), espetáculo (33%), performance esportiva (22%) e emoção (11%). Em seguida, realizaram-se rodas de conversa a fim de identificar as percepções obtidas durante todo o processo de pesquisa e para estruturar a apresentação dos resultados à comunidade escolar. É desafiador inserir a AC na escola (ex: desconhecimento, falta de recursos/domínio de ferramentas digitais), mas necessária para ressignificar paradigmas sociais e desenvolver alunos críticos/reflexivos/autônomos. Afinal, a escola é uma porta para que haja menos ignorância em uma sociedade que insiste em oprimir o oprimido.

 


 

Grupo de Trabalho 10 – Mídia III

16/03 – sábado – 10h-12h

 

Time do povo versus time da elite: “disputa de classes” e construção de estereótipos nas narrativas de rivalidades clubísticas do futebol brasileiro
Thalita Neves

Este trabalho será a apresentação dos resultados da minha tese de doutorado, defendida em julho de 2023 e cujo resumo é: Esta tese tem como objeto de estudo a construção de estereótipos de time do povo e time da elite nas narrativas de oito rivalidades clubísticas do futebol brasileiro, contemplando as cinco regiões do país. Pressupõe-se haver por trás dos clássicos estaduais uma pretensa disputa de classes baseada em estereótipos, na qual um dos clubes rivais representa o povo e o outro a elite local. Acredita-se que tais construções, rotineiramente reforçadas pelo jornalismo esportivo e pela cultura torcedora em si, seguem a tônica das “tradições inventadas”, isto é, perpetuam-se como heranças culturais, ainda que não necessariamente correspondam à trajetória contemporânea das agremiações. O objetivo geral da tese é identificar quais aspectos históricos, culturais e sociais embasaram a construção desses estereótipos, propondo reflexões sobre os modos como o jornalismo esportivo retroalimenta essa disputa de classes. Para tanto, o percurso metodológico abrange a revisão bibliográfica do histórico de fundação dos clubes que compõem o corpus, bem como a análise discursiva de depoimentos dos jornalistas Juca Kfouri e Marcelo Barreto – colhidos pela pesquisadora por meio da técnica de entrevista em profundidade.


A mídia esportiva e o patriarcalismo
Alice Couto

Este texto, que faz parte de esforços para de uma monografia para conclusão de pós-graduação, trata do mercado de trabalho para as mulheres jornalistas esportivas. Esta reflexão, feita sob a ótica feminista a partir de teorias das terceira e quarta ondas do femismo, visa analisar as problemáticas acerca dos espaços ocupados pelas mulheres na comunicação esportiva. A mídia esportiva é um importante espaço para observação da luta feminina em busca de visibilidade e espaço, uma vez que, historicamente, a cultura esportiva não é difundida para as mulheres. O ambiente esportivo é, portanto, um grande expoente do patriarcalismo e nele pode-se observar que homens que resistem a qualquer indício de perda desse privilégio. Através de análises de casos somadas à análises teóricas, o texto visa buscar uma percepção mais ampla da situação das mulheres no lugar de comunicadoras esportivas.


Comunicação e torcida do futebol feminino – Um estudo das páginas sobre as mídias torcedoras dos times femininos no Brasil
Emanuela Amaral

Mídia torcedoras são essenciais para a divulgação e visibilização dos clubes de futebol e quando falamos de uma modalidade que ainda não tem a visibilidade merecida , como o futebol feminino, essa importância aumenta de proporção. Além disso, a comunicação dos torcedores recria discursos sobre a partida, em diálogo direto com o clube, imprensa e sociedade. Esses discursos são importantes para compreender a realidade da modalidae. Visto isso, o objetivo do estudo é compreender como são construídas as páginas de redes sociais de torcedores de futebol feminino no Brasil. Para isso, foram utilizados conceitos de Henry Jenkins e Pierre Lévy para análise geral de como se configuram as comunidades de fãs e como estes atuam na produção de sentido. Além disso, foram realizadas entrevistas com administradores e torcedores de alguns dos principais clubes que disputaram a série A1 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino de 2023. Foi possível perceber que essas páginas surgem a partir da necessidade dos torcedores de visibilizar times que nem sempre recebem atenção da mídia tradicional esportiva, e que com isso, acabam sendo um importante instrumento de divulgação de informações sobre a modalidade. Também foi possível observar algumas dificuldades que esses fãs enfrentam e que são reflexos de problemas estruturais da modalidade, como a falta de estrutura e a violência de gênero.


Discursos racistas no futebol: o caso Vinicius Junior
Laura Bierhals Lemke

O presente artigo aborda os casos de racismo ocorridos com o jogador de futebol Vinicius Junior, analisados sob a perspectiva de literaturas que estudam preconceitos raciais. Tem como objetivo analisar o contexto político e social que o atleta está inserido ao trabalhar em um clube europeu, levando em consideração a opinião popular sobre o caso, extraída de notícias sobre os conflitos ocorridos durante partidas do time em 2023; além disso, analisará a intersecção entre o futebol e as questões sociais, direcionando ao caso do atleta. Os resultados e conclusões encontradas discutem a inseparabilidade de questões políticas com o esporte, vendo nas diversas manifestações racistas à Vinicius Junior, sendo diretamente ao atleta ou por comentários online, um reflexo pertinente da sociedade, que é estruturada e trabalha na perpetuação do racismo.


Do rádio ao Youtube: o que a cobertura da Copa do Mundo pela CazéTV diz sobre a Comunicação?
Emile Nicole Botelho Rodrigues dos Santos

O estudo analisa a cobertura da Copa do Mundo FIFA 2022 pela CazéTV, explorando suas implicações nas transformações da Comunicação; especificamente, entendemos o que esta cobertura diz sobre a Comunicação, de modo que seja possível identificar seus principais desdobramentos. Utilizando metodologia qualitativa e estudo de caso, com base em Gil (2008) e Yin (2001), respectivamente, a pesquisa incorpora revisão bibliográfica (Stumpf, 2005) e análise de transmissões no YouTube. Destacam-se elementos de sucesso, como o pioneirismo, a mobilidade do streaming, a linguagem descontraída e o uso de humor. No entanto, são identificadas problemáticas, incluindo a falta de diversidade na equipe, promoção de alimentos ultraprocessados, ausência de sinalização em publicidades e falta de alerta sobre o consumo de álcool.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Equipe Ludopédio

Nosso objetivo é criar uma rede de informações, de pesquisadores e de interessados no tema futebol. A ideia de constituir esse espaço surgiu da necessidade e ausência de um centro para reunir informações, textos e pesquisas sobre futebol!

Como citar

LUDOPéDIO, Equipe. Resumos do GTs IX e X – III Seminário Online do Ludopédio 2024. Ludopédio, São Paulo, v. 177, n. 12, 2024.
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