Existem histórias pouco lembradas no futebol que não têm o direito de serem esquecidas. Essa é uma delas:
Aconteceu não muito tempo atrás, apesar de já parecer fazer uma geração inteira. Era o ano de 2010 e o Santos Futebol Clube não havia ainda aberto a Vila Belmiro para fascista comedor de pasto. O clube também não havia recentemente contratado jogador investigado por estupro. Não, a Vila, palco onde tantos negros brilharam e encantaram por construírem com a bola nos pés um processo civilizacional à brasileira recebia convidadas que tinham tudo a ver com o Santos.
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O time feminino da Palestina escolheu o Santos como primeiro destino de qualquer delegação esportiva do país a cruzar o Atlântico. Eram muçulmanas e cristãs vindas de Ramallah, Belém, Nablus e alguns outros cantos da Palestina.
Ninguém pode duvidar quando dizem que respiram o futebol. Jogam contra tudo: o último treinador do país havia sido detido ao tentar entrar em Gaza para assistir uma partida. Ainda jogam contra a falta de campo, de bola, de remuneração, a ocupação israelense. São verdadeiras craques, e a paixão que compartilham pelo jogo é a prova disso.
“Se elas baterem bola tão bem quanto dançam, vão ganhar todas as partidas” – Palestina em campo, por Maíra Kubik Mano
O último dia no Brasil foi dia de festa, dizem que espanta a miséria. O futebol não é diferente. No país onde o apartheid imposto pelo sionismo israelense é a norma, o futebol é ponto de encontro da Palestina com o Brasil. A bola possibilita a liberdade e a metáfora de um mundo encantado possível, mesmo que por alguns minutos. Não poderia ser outro clube a receber a seleção palestina que não o Santos; o time de branco, de preto e de tudo que suas cores puderem representar.