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Uma história política do futebol brasileiro: a luta contra a solidão do homem negro

Maurício Rodrigues Pinto 1 de dezembro de 2023

O artista rebelde geralmente é um solitário. Ele crê, como Fausto, Zizinho, Almir, Paulo César e Marinho Chagas – os melhores exemplos – que a sua arte pode derrotar a todos; não faz ideia do que passa no resto da sociedade; abre o flanco aos inimigos que, facilmente, açulam contra ele ressentimentos e preconceitos.” (SANTOS, 1981, p. 90)

Todo mundo sabe das pingas que eu tomei. Nada dos meus tombos. (MEDEIROS, 2019, p. 98)

 

Em História política do futebol no Brasil, livro escrito pelo intelectual negro Joel Rufino dos Santos (1981), analisa a carreira de futebolistas negros, como Fausto e Paulo César Lima, que conviveram com perseguições, estigmas, em grande parte motivadas pelo racismo, que tiveram forte impacto nas suas trajetórias profissionais e pessoais. Mais do que isso conviveram com a sensação de isolamento imposto pelas estruturas da bola, de forma que não encontraram o devido reconhecimento e respeito às suas subjetividades e posicionamentos políticos que extrapolavam a esfera futebolística.

Na obra de Joel Rufino, um dos primeiros livros a tratar do caráter político do futebol na sociedade brasileira, a história de Fausto é eleita como aquela que sintetizaria as disputas políticas e culturais que marcam a história do futebol no país, o confronto da “… arte popular em luta contra os sistemas de jogo importados” (SANTOS, 1981, p. 9). A trajetória do jogador, considerado “… o primeiro proletário consciente do nosso futebol” (1981, p. 34) é também exemplar para mostrar os embates de homens negros para alcançarem reconhecimento e espaços de visibilidade em um estado, como o brasileiro, que tem no racismo um de seus principais pilares desde os primórdios da colonização (SANTOS, 2022).

Do esporte “bretão”, pensado e praticado por um seleto grupo de homens brancos ricos brasileiros ou de ascendência europeia, foram várias as disputas, apropriações para que o futebol se tornasse um jogo efetivamente popular e, consequentemente, negro. Paralelamente às ligas amadoras, que apregoavam o exclusivismo branco da prática do esporte, foram sendo constituídos times dirigidos e que acolhiam homens negros e trabalhadores (SILVA, 2022; ROSA, 2019; SILVA, 2016). Alguns dos bons jogadores negros que atuavam nesses times acabaram sendo convocados e/ou se infiltrando também nos times mais tradicionais, tendo acesso às principais ligas amadoras e jogando em alguns dos times que se tornariam os mais populares do país.

Os times brancos e ricos trataram de reagir à proliferação dos pobres. A primeira reação foi a indiferença, os times ricos jogando apenas entre si – o que os outros faziam não era foot-ball, não obedecia às regras. Veio, em seguida, quando os times já eram tantos que fora preciso organizá-los em associações, precursores das ligas atuais, a tentativa de seccionar: os times mais antigos, burguesões, numa associação; os mais novos, proletários, noutra. […]

Com a invasão da plebe, muito admirador do “esporte bretão” deixou de sê-lo. Moças da sociedade já não concorriam aos Fields, muito estudante tinha preferido retornar ao remo, à equitação; os jornais andavam cheio de acusação ao jogo de bola, à sua violência e descortesia. Notava-se, agora, que ele atraía sujeitos sem eira nem beira. Com a fuga da gente fina, os grandes clubes começaram a ter dificuldades em organizar suas equipes. Sem falar que muito inglês, inglês de verdade, retornava à terra sem deixar substituto.

“Vários clubes fecharam seus departamentos de futebol. Não tinha graça inglês apanhar de preto…” (SANTOS, 1981, p. 17-18)

Ainda assim, foram várias as tentativas de se colocar limites aos acessos de homens negros no futebol espetacularizado – assim como de mulheres, que foram formalmente impedidas de jogar bola por meio do decreto nº 3199, de 1941, que proibiu a realização de jogos de futebol feminino no Brasil por quatro décadas. De acordo com Santos (1981), se a profissionalização do esporte, ao longo da década de 1930, representava um marco importante na popularização do jogo de futebol, também impunha novas formas de controle social do negro.

Os primeiros ídolos de massa, neste país, foram sambistas e jogadores de bola; e o primeiro bamba e o primeiro craque foram os negros reluzentes Pixinguinha e Leônidas da Silva. […]. Crescendo rapidamente na década de 1930, o capitalismo brasileiro estabelecera o lugar dos pretos – o palco e o gramado.

Mesmo nesses dois lugares, porém, seus papéis eram rigidamente marcados: sambista não passava a empresário de samba, jogador de futebol não passava nunca a técnico, nem a juiz, nem a goleiro – não tinham, segundo a crença geral, serenidade e confiabilidade para essas funções (SANTOS, 1984, p. 58-59).

Fausto teve passagens vitoriosas e marcantes pelo Vasco da Gama, conquistando pelo time os títulos cariocas de 1929 e 1934, e foi também um dos principais destaques da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1930, onde recebeu o apelido de “Maravilha Negra”. Juntamente com o goleiro Jaguaré, Fausto foi um dos primeiros futebolistas brasileiros a ser contratado pelo Barcelona, da Espanha, após excursão do Vasco pela Europa. Assinar contratos profissionais possibilitou a Fausto ascender socialmente através do futebol, mas também o fez conviver com a fama de boêmio e  mercenário, o que lhe dava muito menor margem de erro em campo e fora dele.

Contratado pelo Flamengo em 1936, entrou em conflito com um técnico húngaro que tentava impor a Fausto um esquema tático que minava o seu talento e estilo de jogo. A recusa de jogar sob as ordens de tal treinador e o conflito aberto com a diretoria do clube, o levaram a uma tentativa frustrada de obter o passe livre e romper o seu vínculo com o rubro-negro. Este fato somado ao agravamento de problemas de saúde que já o acompanhavam há tempos, praticamente decretaram o fim da sua carreira futebolística. Fausto faleceria com apenas 34 anos de idade, vitimado por uma tuberculose.

Para Joel Rufino dos Santos, a fama de rebelde e boêmio imputada a Fausto vinha também acompanhada de uma moralidade racista, que visava o controle das subjetividades negras, no pós-abolição, sobretudo a partir do momento que algumas pessoas negras passaram a experimentar uma ascensão, tendo acesso a bens e alcançando reconhecimento público. Fausto se constituiu em um símbolo de resistência ao rejeitar algumas das imagens de controle do futebolista negro brasileiro:

Fausto sempre jogou futebol com raiva. Ia na bola como um prato de comida. Jogava sério e encarava o futebol como meio de escapar à pobreza, ganhar dinheiro para poder desfrutar a vida em gafieiras e rendez-vous, muita cachaça e violão. Os críticos chamavam-no de tudo – mercenário, acomplexado, exibido – as mesmas acusações que fizeram em outras épocas, a Zizinho, a Jair, a Didi e hoje em dia a Paulo César.

Só não o chamavam de ingênuo. Fausto nunca confiou em cartolas. Nem teve ilusões sobre a discriminação racial, que no seu tempo já era ostensiva. Não alisava o cabelo. Não frequentava a alta sociedade, embora por curto tempo andasse com o bolso recheado e o retrato diariamente nos jornais. Quando tentavam ferí-lo dava o troco na hora, ganhando a fama de rebelde, mas também o respeito dos que jogavam com ele (SANTOS, 1981, p. 33)

Outro jogador brasileiro também marcado pela fama de rebelde e polêmico é Paulo Cezar Lima, ou Paulo Cezar Caju, campeão do mundo com a seleção brasileira em 1970 e um dos principais craques do país ao longo da década de 1970. Além dos dribles, da técnica apurada e do futebol insinuante,  inspirado pela cultura e estética negra estadunidense daquela década, Paulo Cezar se destacava pelo estilo black power que levava para os campos e fora deles, o que motivou comentários, de setores da mídia esportiva, que visavam depreciar, infantilizar o seu comportamento e modo de ser. Por diversas vezes, também fez críticas ao autoritarismo e à militarização que haviam alcançado o futebol brasileiro (FLORENZANO, 1998).

Paulo Cezar Lima
Paulo Cezar Caju e seu black power. Arte: Amorim.

No livro O que é Racismo (1984), Joel Rufino dos Santos comenta sobre a perseguição sofrida pelo jogador, que ousava ao se recusar a se limitar aos lugares destinados a futebolistas negros na sociedade brasileira. Era visto como “metido demais”, por se posicionar sobre temas e questões que não convinham ser debatidas por atletas e ocupar espaços sociais concebidos e destinados à branquitude:

Disputando cargos e funções com homens e mulheres brancos (sic) acabavam punidos como “negros que não se enxergam”, “negros atrevidos que não reconhecem o seu lugar”, etc. […]

As formas de punição social aos negros “que não reconhecem o seu lugar” são pródigas. A mais comum é fecharem-lhe as portas. Os brancos, e até mesmo outros negros, não dão empregos a negros rebeldes, evitando conviver com eles. Há no futebol brasileiro um perfeito exemplo, que de pitoresco passou a trágico: Paulo César Lima, apelidado de “Caju”. Todos reconhecem que é um craque, só que lhe fazendo uma restrição: “É metido demais”, “Quer levar vida social”, “É lhe dar os pés pra ele querer as mãos” etc. Restrição do mais cristalino racismo. (SANTOS, 1984, p. 58-59)

As trajetórias analisadas por Rufino fazem pensar sobre os muitos futebolistas negros, de origem pobre e periférica, que, em alguma medida, abriram mão ou se viram impedidos de manter a carreira no alto rendimento. Seja em nome da não sujeição a rigorosos regimes de disciplinamento impostos a um/a/e atleta – que exigem, muitas vezes, intenso e exaustivo trabalho do corpo, renúncias e longos períodos de isolamento de redes familiares e de afeto –, ou mesmo por conta da revolta e recusa ao silenciamento diante de recorrentes vivências em relação ao racismo e outras violências motivadas por preconceitos estruturais. Exemplos mais recentes como o do ex-goleiro Aranha[1], do ex-juiz Márcio Chagas[2] e do ex-jogador e atual técnico de futebol Roger Machado[3], mostram as maiores dificuldades de permanência no futebol espetacularizado daqueles que se rebelam e se posicionam mais abertamente contra as estruturas colonizadoras da bola.

Não é futebol, é racismo
Movimentos Sociais realizaram um protesto em solidariedade ao atacante Vinicius Junior, do Real Madrid e contra o Racismo, em frente ao Consulado espanhol na Zona Sul de SP nesta noite desta terça-feira (23). Foto: Elineudo Meira/@fotografia.75

Essas reflexões me trazem para pensar a trajetória de Vinícius Jr., futebolista formado nas bases do Flamengo (RJ) e um dos destaques do Real Madrid, um dos maiores clubes da Espanha e de todo planeta. Um homem negro, proveniente do município de São Gonçalo (RJ), que se tornou um profissional da bola rico, muito bem sucedido e uma das figuras públicas mais conhecidas do planeta já aos 23 anos.

Na temporada de 2022-2023, aquela em que teve maior destaque individual no futebol europeu, Vini teve de enfrentar sistemáticos episódios de racismo, sobretudo dentro da Espanha, nas em jogos disputados pelo Real Madrid fora de sua casa. Foi o principal alvo de torcedores adversários, que destilaram seu ódio não apenas na forma de hostilidade, vaias ao principal destaque do time madridista, mas, sobretudo, por meio de atos racistas, sejam ele de maneira mais velada, indireta (como vaias sistemáticas ou as críticas que jornalistas, atletas, técnicos e dirigentes fazem à sua personalidade, jeito de jogar, as danças ao comemorar gols e vitórias considerados polêmicos ou exóticos aos olhos de quem quer colonizar a visão sobre o jogo) ou de formas, muitas vezes, explícita (na forma de xingamentos racistas dirigidos a Vini ou mesmo as falas, ações públicas que incitam ódio e violências físicas contra o jogador e a população negra). Como diz o escritor Michel Yakini-Iman (2023, p. 62), o objetivo por trás desses ataques racistas é o de impedir a expressão da ginga que é “marca do corpo negro”, na tentativa de “impedir o conhecimento cultural do corpo negro no futebol”, como forma de desqualificar esse corpo e toda a sua herança cultural.

Ao invés do silenciamento, Vini Jr. optou por enfrentar e expor o racismo estrutural e institucional, assim como os torcedores racistas espanhóis que expressaram seu ódio, nas arquibancadas e fora dos estádios, contra ele e à herança afro-brasileira que carrega no seu corpo e na forma como joga futebol. Denunciou o racismo sistêmico a que estava sendo submetido e o silenciamento de entidades, como a La Liga e a Real Federação de Futebol da Espanha – que pouco ou nada fizeram para enfrentar e punir os responsáveis pelas reiteradas ofensas racistas sofridas e denunciadas por Vinícius Jr. desde a sua chegada na Espanha e momento em que assumiu maior protagonismo dentro do Real Madrid.

No entanto, mesmo com a enorme repercussão do caso e com os posicionamentos do jogador tendo contado com grande apoio externo, o que se viu por parte de clubes e entidades esportivas espanholas, mídia esportiva e mesmo de parte da sociedade espanhola foram reações de contrariedade e tentativas de desqualificação das ações e posicionamentos do jogador brasileiro. Fica evidente a dificuldade de um país europeu, com forte histórico colonial, de revisitar a sua história e formação e fazer uma real autocrítica sobre a herança colonialista e suas reverberações não apenas na sociedade espanhola, mas nas sociedades latinoamericanas, por exemplo, que foram desarticuladas e tiveram suas histórias profundamente afetadas por colonizações europeias.

Diferente do que Joel Rufino dos Santos diz sobre o desconhecimento do “inimigo” e “do que se passa no restante da sociedade”, Vinicius Jr. demonstra interesse em buscar conhecer bem o adversário que se dispôs a encarar nos campos de futebol e fora dele. Assim como o futebol é um esporte coletivo, onde ninguém joga sozinho, Vini Jr., como um bom craque que é, tem a compreensão de que jogar sozinho contra o racismo inerente às estruturas do futebol espetacularizado é uma contenda perdida, que vai apenas levá-lo ao esgotamento.

Aprendi muito sobre racismo. Cada dia eu sei mais. É um tema muito complexo. No passado, as pessoas sofriam com a escravidão. Estou interessado nisso (aprender mais sobre lutar contra o racismo). Eu realmente espero que esses episódios não aconteçam novamente. Não só comigo, mas com todos os jogadores, todos… E principalmente as crianças.

[…] “Claro, e em uníssono: se eu enfrentar o racismo sozinho, o sistema me esmagará facilmente” (Vini Jr. em entrevista concedida ao L’Equipe, em outubro de 2023[4]).

Vini Jr
Vinicius Junior atuando pelo Real Madrid. Foto: canno73/Depositphoto.

Vini tem lidado com uma pressão que pode ser considerada desproporcional para um atleta. Toda a visibilidade que obteve ao se posicionar como um ativista da causa antirracista, parece não ter garantido ao jogador um justo reconhecimento à excelência que demonstra nos gramados, defendendo a seleção brasileira de futebol masculino e principalmente o Real Madrid[5].

Por conta dos questionamentos sucessivos com os quais têm lidado no futebol espanhol, não deixa de ser preocupante pensar em como fica a saúde mental do atleta diante da persistência dos ataques e da perseguição[6]. Diante de tudo isso, me permito a algumas perguntas-reflexões: Será que setores da opinião pública que hoje o apoiam, manterão o apoio caso o desempenho do jogador oscile, apresente quedas que são comuns dentro da vida esportiva? Será que o clube, que hoje demonstra apoio incondicional a Vinícius, seguirá dando o mesmo suporte caso o jogador venha a se desvalorizar economicamente em função do seu ativismo? E se Vini Jr. eventualmente se sentir frustrado por viver em um país que não revê ou aplica sanções aos episódios de racismo praticados cotidianamente, deixar de sentir prazer em jogar bola diante de torcidas que frequentemente o hostilizam, o ofendem por ser quem é, será ele cobrado a ter uma postura mais profissional? Irão acusá-lo de ser mais um na lista de jovens jogadores brasileiros (negros) que desperdiçaram a chance que tiveram de ser uma das maiores estrelas do futebol mundial?

A torcida é para que Vini Jr. não seja mais um solitário ao se reconhecer como futebolista e ativista, que jogar bola não se constitua um fardo ou um espaço de constante confronto com um adversário que não pode driblar e vencer sozinho. Que a ele não seja colocada a responsabilidade de responder sozinho pelo racismo estrutural e institucional no futebol espetacularizado masculino e que ele e a sua equipe não permitam que a sua imagem venha a ser usada em campanhas oportunistas de entidades que atuam pela lógica dos ganhos financeiros, mas que efetivamente estão pouco comprometidas em desmontar o racismo nas suas próprias estruturas, o que dirá no futebol como um todo.

Que Vini Jr. siga sendo inspiração pelo modo como expõe e bota “fogo” nos racistas, sem precisar abrir mão de ser jogador de futebol e referência de alegria e prazer no jogar bola. Afinal, como a história demonstra, o racismo treme diante de pessoas negras bem sucedidas, alegres e sorridentes dispostas a afrontar e exibir toda a sua ginga, rompendo com o silêncio racista e fazendo a diferença coletivamente. No futebol e fora dele.

 

Referências bibliográficas:

FLORENZANO, José Paulo. Afonsinho & Edmundo: a rebeldia no futebol brasileiro. São Paulo: Musa Editora, 1998.

MEDEIROS, Mário. Figuração. In. MEDEIROS, Mário. Gosto de amora: contos. Rio de Janeiro: Ed. Malê, 2019.

SANTOS, Joel Rufino dos. História política do futebol brasileiro. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

Para Marcos Luca Valentim, Vini Jr. deveria deixar o Real Madrid: “O racismo vence todo dia”. In. G1.com, 22 de maio de 2023. Disponível em:  https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/05/22/para-marcos-luca-valentim-vini-jr-deveria-deixar-o-real-madrid-o-racismo-vence-todo-dia.ghtml.

ROSA, Allan da. Uma missiva a seu Ditinho, craque do São Geraldo. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/As (ABPN), n. ed. especial, p. 149–163, 2018. Disponível em: https://abpnrevista.org.br/site/article/view/534.

SANTOS, Joel Rufino dos. O que é racismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.

SANTOS, Ynaê Lopes dos. Racismo brasileiro: uma história da formação do país. São Paulo: Ed. Todavia, 2022.

SILVA, Diana Mendes Machado da. Futebol de várzea em São Paulo: a Associação Atlética Anhanguera (1928-1940). São Paulo: Ed. Alameda, 2016.

SILVA, Roberta Pereira da. Campo de terra, campo da vida: alternativas de resistência negra e o Negritude Futebol Clube. São Paulo: Ed. Dandara, 2022.

Vinicius Jr. desabafa ao falar da luta contra o racismo: “Se eu for o único, o sistema vai me esmagar”. In. ESPN.com, 13 de out. de 2023. Disponível em: https://www.espn.com.br/futebol/real-madrid/artigo/_/id/12724121/vinicius-jr-desabafa-falar-luta-contra-racismo-se-eu-for-unico-sistema-vai-me-esmagar.

YAKIMI-IMAN, Michel. Ginga, meu caro. In. YAKIMI-IMAN, Michel. Futebol não é coisa de menino. Cabo Frio, RJ: Ed. Campo ou bola, 2023.


[1] Aranha era goleiro titular do Santos quando durante uma partida contra o Grêmio, na cidade de Porto Alegre, válida pela Copa do Brasil de 2014, foi alvo de ofensas racistas por parte de grupos de torcedores gremistas. Próximo ao fim do jogo vencido pelo Santos, em que Aranha havia sido um dos principais destaques, gritos e cantos racistas foram proferidos contra o goleiro, que imediatamente se dirigiu a esse grupo de torcedores, que estavam atrás da meta que defendia, pedindo a interrupção do jogo. O Grêmio chegou a ser punido com a desclassificação do torneio, mas houve várias tentativas de desqualificar a denúncia e o posicionamento contra o racismo feitos por Aranha na ocasião, por parte de clubes e da mídia esportiva. Aquele fato marcaria e mudaria totalmente a carreira do goleiro, que passaria a ser interpelado a responder cada vez mais sobre racismo do que propriamente acerca das suas atuações em campo. Aranha encerrou a carreira de goleiro em 2018.

[2] Enquanto árbitro de futebol filiado a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Márcio Chagas lidou com sucessivos episódios de racismo, o mais grave deles aconteceu na cidade de Bento Gonçalves, em 2014, quando torcedores do Esportivo, clube da cidade, além de o ofenderem com xingamentos racistas, vandalizaram o seu carro, enfiando bananas no escapamento do veículo. Márcio denunciou publicamente a violência que sofreu e o clube em questão, sofrendo retaliações da FGF, que o motivaram a desistir da carreira de juiz. Anos depois, já trabalhando como comentarista de arbitragem, foi demitido da RBS, emissora afiliada da Rede Globo, após denunciar casos de racismo que sofreu enquanto árbitro e comentarista. É ativista da causa antirracista e atualmente é assessor da deputada estadual Laura Sito (PT/RS).

[3] Roger era considerado um dos técnicos mais promissores dos últimos anos do futebol brasileiro, mas passou a ser mais contestado e conviver com maior pressão à medida em que se recusou a assumir certas imagens de controle do boleiro que ascendeu a técnico de futebol. Também ganharam notoriedade os seus questionamentos ao racismo na sociedade brasileira e também no futebol, que faziam dele um dos poucos profissionais negros a assumir um posto de comando e ser técnico de um grande clube brasileiro. Desde o fim de sua última passagem pelo Grêmio, em setembro de 2022, não voltou a trabalhar por outro clube. Após a tumultuada saída de Cuca do Corinthians, Roger foi cotado para assumir a vaga no time paulista, mas seu nome teve forte rejeição de setores da diretoria e da torcida corinthiana.

[4] Extraído da reportagem “Vinicius Jr. desabafa ao falar da luta contra o racismo: ‘Se eu for o único, o sistema vai me esmagar’”, publicada pelo portal ESPN.com, que traz trechos traduzidos da entrevista concedida por Vinícius Jr. ao periódico esportivo francês “L’Équipe”. Disponível em: https://www.espn.com.br/futebol/real-madrid/artigo/_/id/12724121/vinicius-jr-desabafa-falar-luta-contra-racismo-se-eu-for-unico-sistema-vai-me-esmagar.

[5] Convidado pelo presidente da Federação Internacional de Futebol (FIFA), Gianni Infantino, para chefiar um comitê antirracista da entidade, Vini Jr. teve o seu nome ignorado na lista de 12 finalistas que concorriam ao The Best, premiação da Fifa que elege os melhores jogadores de futebol masculino do mundo no ano. Na temporada 2022-2023, Vini fez 23 gols e deu 21 assistências em um total de 51 partidas disputadas.

[6] Essa preocupação foi manifestada pelo jornalista Marco Luca Valentim ao comentar as reiteradas manifestações de ódio e racismo dirigidas a Vinicius Junior no futebol espanhol. Valentim defende que o jogador deveria ouvir quem lhe aconselhasse a sair do Real Madrid (PARA… , 2023).

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Maurício Rodrigues Pinto

Bacharel em História, pela Universidade de São Paulo (USP, com especialização em Sociopsicologia, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e mestre pelo programa interdisciplinar Mudança Social e Participação Política, da USP. Corinthiano, no seu mestrado pesquisou masculinidades e a atuação de movimentos de torcedorxs contrários à homofobia e ao machismo no futebol brasileiro. Integrou o coletivo HLGBT (Histórias de Vida LGBT) e participou do projeto que resultou no livro “Histórias de Todas as Cores: Memórias Ilustradas LGBT”, projeto selecionado pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo (ProaC), no edital de Promoção das Manifestações Culturais com Temática LGBT.

Como citar

PINTO, Maurício Rodrigues. Uma história política do futebol brasileiro: a luta contra a solidão do homem negro. Ludopédio, São Paulo, v. 174, n. 1, 2023.
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