Uma galeria fotoetnográfica dos Gaviões da Fiel (parte 1): os corpos que torcem
Este breve ensaio fotoetnográfico[1] foi feito a quatro mãos (e duas câmeras), por dois antropólogos que possuem um campo de pesquisa em comum: a Torcida organizada e Escola de Samba Gaviões da Fiel. A exposição das fotos e a discussão através delas estará dividida em duas partes, sendo ambas sobre a estética torcedora. A primeira, apresentada agora, tem como foco os corpos como matéria prima do torcer, já a segunda parte apresentará o protagonismo dos materiais utilizados nas práticas torcedoras.
Entendemos que a lógica na qual estão inseridas as torcidas organizadas, como o caso dos Gaviões, é baseada em uma expressividade estética chamada de “marcas distintivas” (Toledo, 1996), ou seja, um conjunto de características visuais em torno de uma identidade coletiva, como cores, símbolos, camisetas, instrumentos. Marcas estas que distinguem os torcedores organizados de seus rivais, mas também dos torcedores comuns de seus próprios times, tanto nos estádios como nas ruas.
Ao pensarmos numa breve discussão imagética dessa visualidade torcedora tomamos como ponto de partida o corpo, que é a principal (e primeira) expressão materializada dessa lógica estética de ver e ser vista das torcidas organizadas. Pois, “por vezes, o próprio corpo de cada torcedor serve de suporte por onde os símbolos das torcidas são veiculados e mostrados”. (Toledo, p. 59, 1996).
Quando começa a corporalidade de um torcedor organizado? Muitos se tornam associados à torcida depois de crescidos, mas muitos também são socializados desde o berço, e carregam no desenvolver de seus corpos as marcas do torcer que levarão por longos anos. Ou como cantam os Gaviões: “(…) É um amor que floresce de criança, e desabrocha nesse canto tão feliz (…)”.[2]
O que é o corpo como matéria-prima do torcedor organizado? Antes mesmo das bandeiras nas arquibancadas, dos sinalizadores brilharem e dos tambores ritmarem, existe o corpo. É ele o responsável pelo primeiro canto, pelo primeiro pulo, pela primeira chama. O corpo é, portanto, a matéria-prima do torcer, tudo começa nele e a partir dele. O torcedor organizado é, antes de tudo, um corpo que torce enquanto é torcido por sua própria paixão.
Obs: A parte 2 da galeria fotoetnográfica será publicada em 28 de agosto.
Notas
[1] Por fotoetnografias nos referimos a fotografias tiradas em contextos de pesquisas etnográficas.
[2] Trecho do enredo do samba “Vejam só a poeira que sobe” que se tornou música de arquibancada.
Referências
TOLEDO, Luiz Henrique. (1996). Torcidas Organizadas de futebol. Campinas: Autores Associados/ANPOCS.
Sobre o LELuS
Aqui é o Laboratório de Estudos das Práticas Lúdicas e de Sociabilidade. Mas pode nos chamar só de LELuS mesmo. Neste espaço, vamos refletir sobre torcidas, corporalidades, danças, performances, esportes. Sobre múltiplas formas de se torSER, porque olhar é também jogar.