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Qual é o tamanho do atual Palmeiras em relação aos “outros” grandes Palmeiras?

Tradicionalmente, ao analisarem eventos acontecidos e buscar suas motivações e possíveis consequências, os historiadores costumam falar da necessidade do chamado “distanciamento histórico” (um espaço temporal entre o fato e a análise) para que tal fato possa ser melhor compreendido. Esse olhar mais distante permitiria entender o tamanho real de alguns eventos fora do calor do momento, e assim compreender quais foram os reais fatores que levaram a tal situação e quais desdobramentos partiram dali.

Podemos dizer que o Palmeiras vive hoje um dos grandes momentos de sua história. Ao conquistar a vaga para a final da Copa Libertadores da América pelo segundo ano consecutivo, um elenco já histórico crava mais uma vez seu nome na galeria dos maiores de todos os tempos do clube. Esse não é um movimento que começou ano passado, mas que se estrutura desde pelo menos 2014, ano do centenário do clube. Estando ainda no “tempo presente”, vamos tentar contextualizar o que trouxe o Palmeiras a esse momento e o quão grande ele é dentro da própria história do clube.

O Palmeiras da primeira metade da década de 2010 era uma grande terra arrasada. Sem dinheiro, endividado, conseguiu a proeza de vencer uma Copa do Brasil e ser rebaixado no Brasileirão na mesma temporada, em 2012. A partir de 2014, ano do centenário do clube, as coisas começaram a mudar. Três fatores podem ser considerados fundamentais para isso: os empréstimos de Paulo Nobre, presidente do clube na época, a reinauguração do Palestra Itália, renomeado de Allianz Parque, e o patrocínio da Crefisa, acertado já no início de 2015 e que veio ser o patrocinador master que o clube não tinha desde 2013.

A junção desses três fatores fez as receitas palmeirenses aumentarem exponencialmente, sendo assim possível fazer grandes contratações e formar uma equipe competitiva no cenário nacional ainda em 2015. As conquistas em campo não demoraram a chegar. Após a derrota nos pênaltis na final do Paulistão para o Santos, a vingança veio contra o mesmo rival na final da Copa do Brasil. Era o início de um projeto extremamente vencedor. De lá pra cá foram seis títulos de grande expressão: um Paulista (2020), duas
Copas do Brasil (2015 e 2020), dois Brasileirões (2016 e 2018) e uma Libertadores (2020).

O desempenho no torneio continental nunca foi tão grandioso quanto agora. Além do título de 2020 e a final de 2021, o Palmeiras disputou todas as competições desde 2016, chegando às quartas-de-final em 2019 e às semifinais em 2018. Nesse caminho, bateu diversos recordes e é, atualmente, o clube brasileiro com mais participações, mais jogos disputados, mais vitórias (gerais, em casa e fora de casa), mais gols marcados (gerais, em casa e fora de casa) e mais finais na história da competição. Se vencer o duelo
contra o Flamengo no dia 27 de novembro, será também o clube com mais títulos.

Palmeiras 2021
Jogadores do Palmeiras comemoram a classificação para a final da Libertadores após empate com o Atlético-MG. Foto: Cesar Greco/Palmeiras.

E qual é o tamanho disso em relação aos “outros” Palmeiras?

Se pegarmos como base da segunda metade do século XX para frente, teremos mais dois grandes Palmeiras em nossa história: as duas “Academias”, entre os anos 1960 e 1970, e a “era Parmalat”, entre 1992 e o início dos anos 2000. Ambos os times tiveram grandes craques e grandes conquistas, de modo que olhar com distanciamento histórico para eles pode ser um exercício interessante.

A Primeira Academia, nos anos 1960, conquistou quatro títulos brasileiros, dois estaduais e um Rio-São Paulo, além de ter chegado duas vezes nas finais da Libertadores, saindo derrotado nas duas. A Segunda Academia, por sua vez, conquistou mais dois títulos nacionais e outros três estaduais. Não foram poucos os grandes jogadores que passaram pelo Parque Antártica no período, sendo alguns dos principais Ademir da Guia, Dudu, Leão, Djalma Santos, Luís Pereira, Julinho Botelho e muitos outros.

A “Era Parmalat”, por sua vez, foi a responsável por engrossar ainda mais a lista de conquistas do Verdão. Entre 1992 e 2000 foram conquistados dois Brasileirões, três Campeonatos Paulistas, uma Copa do Brasil, uma Mercosul uma Taça dos Campeões e uma Libertadores da América, já em 1999 (além de um vice-campeonato do continental em 2000). Passaram pelo clube no período craques como Marcos, Rivaldo, Roberto Carlos, Edmundo, Alex, Cesar Sampaio e Evair.

De lá pra cá o futebol mundial mudou muito. Se antes a América do Sul ainda conseguia polarizar o domínio do futebol com a Europa, mantendo por aqui muitos craques e grandes ídolos, hoje isso é cada vez mais difícil. Assim, não vemos no time de hoje (ou mesmo no futebol brasileiro) os mesmos grandes jogadores que víamos antes. Mas a história não fica menor por conta disso.

Desde 2015 o palmeirense se acostumou a novamente ver seu clube brigar por tudo. Mas como podemos ver, tanto nas épocas das Academias quanto na Era Parmalat, é simplesmente impossível ganhar tudo. Parece, porém, que isso não é algo que passe pela cabeça de boa parte da torcida palmeirense, que a cada derrota comum, ou a cada eliminação em qualquer competição disputada, exige a saída de toda de toda a direção, comissão técnica e 80% dos atletas do elenco.

Com isso eu quero dizer que todos esses agentes do clube são incriticáveis, ou fazem trabalhos perfeitos, ou ainda que o torcedor não deveria ter o direito de cornetar quem quer que fosse? De forma alguma! As críticas podem (e devem!) acontecer. Mas o clima de insatisfação geral dessa parcela da torcida a cada revés faz com os problemas da equipe pareçam muito maiores do que realmente são. É como se o Palmeiras vivesse sempre uma eterna crise, e qualquer coisa a menos que a conquista de todos os títulos
fossem o suficiente para uma revolta geral.

Independente da conquista ou não do título da Libertadores em 27 de novembro, o fato é que o Palmeiras vive uma fase histórica, recheada de títulos e formação de novos ídolos. Aproveitar esse momento talvez seja o maior desafio do torcedor atualmente, com as críticas e com os elogios cabíveis. Mas sem deixar para as lembranças futuras as alegrias que devem ser vividas agora.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gustavo Dal'Bó Pelegrini

Professor de Educação Física e mestrando na área de Educação Física e Sociedade. E um pouco palmeirense. @camisa012

Como citar

PELEGRINI, Gustavo Dal'Bó. Qual é o tamanho do atual Palmeiras em relação aos “outros” grandes Palmeiras?. Ludopédio, São Paulo, v. 148, n. 17, 2021.
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