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Amadores versus profissionais na década de 1930 – parte I

Plínio Labriola Negreiros 19 de agosto de 2022

“Vou para a Itália. Cansei de ser amador no futebol onde essa condição deixou de existir, maculada pelo regime hipócrita da gorjeta que os clubes dão aos seus jogadores, reservando para si o grosso das rendas. Os clubes enriquecem e eu não tenho nada. Vou para o país onde sabem remunerar a capacidade do jogador.” (jogador Amilcar Barbuy)

“Eu considero o jogador que quer se profissionalizar como um gigolô que explora a prostituta. O clube lhe dá todo o material necessário para jogar e se divertir com a pelota e ainda quer dinheiro. Isso eu não permitirei no Flamengo. O profissionalismo avilta o homem.” (Rivadávia Meyer, presidente do Flamengo e da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos)

Com o entrar da década de 1920, na qual o futebol, de forma sempre progressiva, tornou-se cada vez mais uma prática capaz de reunir multidões, a tendência era o semiamadorismo crescer. O que era velado, escondido, passou a ser mais aberto. Oficialmente, um jogador não poderia ser remunerado, porém, até as cifras eram publicadas. Mas essa situação, além de desagradar frontalmente os clubes que continuavam a defender o amadorismo puro, começava a prejudicar também atletas e os outros clubes.

Para os clubes, interessados em manter equipes fortes, competitivas, a fim de atender aos anseios dos sócios e da imensa legião de torcedores que se foi formando — além de interesses pessoais dos próprios dirigentes dos mesmos — não era um bom negócio perder um bom atleta para outro clube, principalmente se fosse um rival. Bastava a uma outra associação esportiva fazer uma proposta salarial melhor, que a transferência dar-se-ia de maneira quase inevitável. Era necessário criar algum mecanismo que pudesse segurar esse jogador. Ao mesmo tempo, essas transferências não aconteciam apenas entre clubes da cidade de São Paulo, mas já se havia um forte intercâmbio entre o interior de São Paulo e o resto do país. Além disso, o intercâmbio também atingiu outros países, como a Argentina e o Uruguai. E, de certa forma, a expressão intercâmbio não dava conta do que estava acontecendo. Na realidade, por causa da oficialização do profissionalismo do futebol nesses países, importantes jogadores brasileiros partiam para o exterior, atraídos por propostas financeiras e condições de trabalho melhores. Desta feita, para os clubes, ainda que não na sua totalidade, a legalização do futebol enquanto uma prática profissional poderia ser mais interessante. Assim, em fins dos anos 1920, avolumou-se o movimento pela profissionalização do futebol.

E desde meados dos anos 1910, não eram mais apenas os estudantes, filhos da elite paulista os que jogavam o futebol oficial. Os clubes menos marcados pelo elitismo e pelo preconceito racial foram buscar nos arrabaldes da cidade, onde o esporte bretão era largamente praticado, bons atletas. Efetivamente, teríamos um futebol mais disputado, consequentemente, apaixonando cada vez mais. Já não importava a classe social. Embora ainda se mantivesse o preconceito em relação aos jogadores negros, na época chamados de “homens de cor” ou coloreds. Assim, tem-se que a imagem do jogador de futebol, e mesmo dos dirigentes, ia-se transformando. As elites paulistas passam a tecer algumas críticas à prática do futebol, que tendeu a crescer com o decorrer da década de 1920. Quando do processo de profissionalização desse esporte no Brasil, dado em 1933, as críticas já beiravam uma ruptura com o mesmo. Fato marcante nesse momento foi a desistência do Club Atlético Paulistano, em 1930, de manter seu time de futebol.

Paulistano
Time do futebol do Paulistano em 1905, quando conquistou o Campeonato Paulista pela primeira vez. Fonte: Wikipédia

O “antigo” jogador de futebol era o estudante de medicina ou direito, que sócio de um clube como o Paulistano, fazia do esporte mais um espaço social do que de atividade física. Não foram poucos os banquetes que se seguiam às partidas mais importantes, notadamente entre times de São Paulo e do Rio de Janeiro, como de equipes do exterior. Assim, o jogador era visto com um bom moço, de uma boa família e muito instruído e educado. Tanto que, as mulheres e as pessoas mais abastadas, eram presenças constantes nos estádios. Porém, se o perfil socioeconômico dos jogadores foi-se transformando, o mesmo ocorreu em relação ao seu prestígio social.

Os cronistas esportivos do jornal O Estado de São Paulo, desde o início dos anos 1930, usavam diariamente as suas colunas com o intuito de tecer uma série de críticas ao novo futebol praticado. A opção encontrada pelo periódico foi a de abrir espaços para os esportes amadores. Mas, em função da grande popularidade do futebol, com críticas ácidas ou amenas, o futebol continuou a ter espaços importantes.

Por outro lado, esse “novo” jogador, em função da sua origem social e de outras circunstâncias, vai passar a fazer do futebol um meio de sobrevivência material. Ele poderia alimentar alguns sonhos, se chegasse a se tornar um bom futebolista. Ao mesmo tempo, interessava aos clubes pagar pelos bons jogadores. Daí, o fortalecimento do falso amadorismo, no qual as maiores vítimas, sem nenhuma dúvida, foram os jogadores. Algumas condições apontam nessa direção.

O clube que possuísse nas suas fileiras algum jogador, legalmente, não tinha nenhuma obrigação financeira com o mesmo, dado o futebol ser uma prática esportiva amadora. Assim, apesar de alguns contratos até registrados em cartório, e mesmo com salários preestabelecidos, a insegurança do atleta era enorme. Enquanto jogasse bem e garantisse vitórias e conquistas para o clube, materialmente estava relativamente protegido. Porém, seu futuro pontuava-se pela falta de maiores garantias trabalhistas, mesmo sendo comum — após uma partida importante — os jogadores receberem prêmios além do prometido (o conhecido bicho), que poderia ser dinheiro ou presentes oferecidos por sócios e/ou torcedores, eufóricos com a vitória do seu clube. Também eram corriqueiros, em função do regime amador, os já citados empregos que os diretores dos clubes conseguiam para seus os jogadores, para aumentar os seus rendimentos, ainda que muitos deles permanecessem nesses empregos com o intuito de manter a imagem de amadores, conforme exigência das entidades esportivas. Foi a forma encontrada para se provar alguma fonte de renda.

De fato, quem ganhava com o futebol, com plateias sempre crescentes, eram os clubes; ou, para ser mais exato, os dirigentes destes clubes. Os atletas recebiam seus salários baixos e prêmios incertos e esporádicos. Mas o grande drama desses atletas encontrava-se em outro ponto: eles só eram valorizados enquanto podiam ser úteis aos seus clubes. E como acabavam por dedicar toda a sua juventude para o futebol, abandonavam os estudos e não criavam qualquer vínculo com outra atividade profissional. Dessa forma, muitos ex-jogadores tinham dificuldades em ganhar dinheiro para sobreviver. E o futebol era capaz de outros males para os trabalhadores da bola. Em função da despreocupação dos clubes, alguns chegando até a nem terem um departamento médico, a saúde dos jogadores corria sérios perigos. O excesso de esforços físicos não recebia o devido acompanhamento. Os próprios jogadores preocupavam-se pouco com essa questão. Contusões graves deixavam alguns deles inutilizados para o futebol e a presença da tuberculose encurtou carreiras futebolística e vidas.

Exemplo de vítima do futebol, num momento que ele já era profissional, foi Fausto dos Santos, apelidado de “A Maravilha Negra.” Nascido em Codó no Maranhão, em 1905, chegou ao Rio de Janeiro em 1926 com a família. Inicialmente, jogava pelo Bangu; posteriormente, em 1928, transferiu-se para o Vasco da Gama. Neste clube torna-se um dos mais importantes jogadores brasileiros da época, um verdadeiro ídolo, presente diariamente nas páginas das seções esportivas dos jornais, em entrevistas e fotos. Foi um dos primeiros brasileiros a saírem do país e jogar profissionalmente na Europa. Passou pela Espanha, pela Suíça e pelo Uruguai. Voltou ao Brasil, jogando no Flamengo. Porém, sempre teve uma saúde fragilizada por problemas respiratórios; terminou acometido pela tuberculose. Apesar de atos de solidariedade dos seus admiradores no Rio de Janeiro, que ajudaram no seu tratamento, morreu em março de 1939, aos 34 anos. A doença fatal era difícil de ser evitada, pois nos clubes, quando havia departamentos médicos, estes eram débeis, e Fausto sabia que se parasse de jogar não ganharia mais dinheiro, apesar do profissionalismo vigente. Além disso, Fausto ficou marcado na história do futebol brasileiro como um dos pioneiros da consciência de que o jogador de futebol era um trabalhador desmerecido e explorado pelos clubes e seus dirigentes. Sempre exigiu que o seu trabalho fosse pago com um mínimo de justiça.

Fausto Domingos
Domingos da Guia e Fausto (à direita) pelo Flamengo, c. 1936/1938. Fonte: Arquivo Nacional/Wikipédia

Fausto foi um daqueles jogadores conhecidos como contestador, ainda que essa denominação seja mais apropriada para o início dos anos 1970. Porém, como tinha consciência de que só seria valorizado enquanto estivesse no auge da sua carreira, soube ter clareza do seu valor enquanto jogador de futebol, brigando muito com dirigentes e técnicos. Sua carreira começou a declinar quando as táticas do futebol passaram por transformações, o que obrigou Fausto a um esforço físico redobrado. Esforço esse que coincidiu, senão provocou, a sua doença fatal, senão quase fatal. Não morreu na miséria como muitos atletas da sua época, mas morreu muito novo, quase não desfrutando do dinheiro que ganhou no futebol. Para Joel Rufino dos Santos, em História Política do Futebol Brasileiro, Fausto foi um grande símbolo de um futebol em transformação, além de apresentar-se como uma vítima do futebol, ainda guardando fortes resquícios de preconceito racial; para Joel Rufino dos Santos, Fausto teve a sua decadência acelerada quando o Flamengo, seu clube no Rio, contratou um técnico húngaro. Este e a “Maravilha Negra” nunca se entenderam; o pior acabou com o jogador maranhense.

Outro exemplo, também trágico, demonstra as condições de vida e trabalho que cercavam os jogadores dentro do amadorismo. Há o caso do jogador Altino Marcondes, mais conhecido como Tatú, que nasceu em 16 de julho de 1898, em Taubaté (SP). Atuava como como atacante. Chegou ao Corinthians em 1920, vindo do Taubaté e ficou até 1926, quando se transferiu para o Vasco. Foi convocado para defender o Brasil na Copa América de 1922. Encerrou a carreira em 1930, na Portuguesa. Acometido pela tuberculose, voltou para Taubaté sem emprego ou renda e faleceu em 25 de maio de 1932.

Ainda sobre esse jogador do Corinthians, fundamental para a conquista do primeiro tricampeonato paulista do clube, entre 1922 e 1924, há um outro relato sobre seus difíceis dias após se constatar a sua enfermidade, citado na obra de Floriano Peixoto Corrêa, Grandezas e Misérias do Nosso Futebol:

“Fez um ano em maio que Tatú, ou Altino Marcondes, morreu, em Taubaté, na mais estrema miséria. De sua mão tremula de moribundo saiu esta carta, o último apelo do craque do futebol bandeirante, ex-campeão sul-americano, dirigida ao seu particular amigo Benjamin Beviláqua. Como se vê, Tatú não apelava mais para aqueles que exploraram a sua capacidade de futebolista de valor, mas dirigia sua súplica de agonizante para um amigo querido, que sempre fora solicito com ele. E a carta é esta:

     “Taubaté, 13 de maio de 1932.

     Caro amigo Benjamin,

     Neste momento que mais parece-me ser os meus últimos dias, sinto-me sem forças, para ir aí, e vendo a necessidade de hora em hora a Morte penetrar em meu lar com mais intensidade, e criando grande dificuldade à minha família (o que mais me tortura) lembrei-me de nossa conversa com respeito à vinda do E. Clube Sírio a esta cidade afim de fazer um festival com o clube desta cidade, em meu benefício.

     Benjamin, agora já não posso levantar e penso mesmo talvez não aproveite a renda do festival que acabo de solicitar a tua intervenção para realizá-lo, mas, eu tenho a minha família, e por certo a ela beneficiará.

     Conto consigo, sempre foste tão bom amigo, e este é para mim o verdadeiro momento que dependo dos amigos de tua espécie.

     Terminando queira aceitar um abraço deste teu amigo

Altino Marcondes.

(Tatú)

Responda-me qualquer coisa a respeito.”

Tatú
Altino Marcondes, mais conhecido como Tatú. Fonte: reprodução

Tatú não foi uma exceção. Muitos outros atletas foram abandonados por seus clubes. A existência de um profissionalismo não-oficial provocava, entre outros fatores, essa situação. Mesmo com a vigência do profissionalismo, antigos jogadores semiamadores eram tolhidos pela tuberculose e mal tinham recursos para o tratamento. Sobre isso, o importante cronista esportivo Thomaz Mazzoni, no artigo Ex-”cracks” doentes, publicado n’A Gazeta em 25/02/1944, escreveu:

“Vários amigos que têm vindo de Campos do Jordão nos trouxeram notícias tristes, que dizem respeito aos futebolistas que lá se encontram em busca de melhoras para a sua saúde abalada (…) Quando se trata de ‘azes’ do passado, já se sabe, dificilmente têm posses, porque no seu tempo não havia profissionalismo e jamais poderiam ganhar, em um ou vários anos, como ‘amadores’, o que um ‘az’ atual ganha, às vezes, em um só mês ou, mesmo, em um só jogo…Quase sempre, quando ouvimos que um campeão do passado está doente é porque também está sem recursos.”

A imprensa esportiva trabalhou muito com esse tema. Para Mazzoni, a culpa deveria recair entre todos os envolvidos com o futebol dentro de um clube, principalmente os jogadores e os dirigentes. Ambos, na maioria dos casos, mesmo sabendo da doença (a tuberculose), não tomavam qualquer providência. Porém, para Mazzoni, conforme escreve no livro Problemas e aspectos do nosso futebol, havia outros responsáveis:

Nos clubes não se pode dizer que existe controle médico. Igualmente, no Rio, existe o Departamento Médico da entidade e aqui funciona o Departamento de Educação Física, que não sabemos o que ambos têm feito para combater o perigo da peste branca no futebol e como é feito o exame, pois, — repetimos — na maioria das vezes o futebolista atacado, consciente ou inconscientemente, continua jogando até quando já é tarde.

Vários jogadores, ainda, eram vitimados por graves contusões, que os deixavam inutilizados para o futebol; eram abandonados à própria sorte. Pode-se citar Hércules, Fúlvio e Bertoldinho. Ou seja, as graves contusões que ocorriam dentro do campo de futebol também serviam para marginalizar ainda mais esses jogadores.

E outras dificuldades apresentavam-se aos jogadores de futebol nas décadas de 1920 e 1930, dentro de uma ordem semiprofissional. Inúmeros jogadores foram acusados de receber subornos para deixarem o time adversário vencer uma partida. Geralmente, independente da veracidade ou não do fato, acabavam em desgraça. Os clubes e seus apaixonados torcedores, na busca enlouquecida por conquistas, não se limitavam a trazer bons jogadores. Assim, a prática do suborno tornou-se um mecanismo presente. Ainda que seja importante ressaltar que esse problema não era necessariamente causado pela existência de um falso amadorismo; essa questão, mesmo hoje, com uma organização do futebol muito mais complexa, continua a existir.

Para os jogadores, então, a profissionalização também se tornava um negócio interessante. Talvez até mais interessante do que para os próprios clubes. Apesar da maioria desses atletas já receber para jogar, havia a citada insegurança. Os acordos não precisavam ser cumpridos, necessariamente, pelos seus clubes, porque não havia, em termos esportivos, qualquer legalidade. Assim, se um atleta, ao se machucar, não pudesse mais praticar o futebol, não caberia mais qualquer responsabilidade por parte do clube. Enfim, para os atletas, que tinham no futebol uma forma de sobrevivência, a instituição do profissionalismo poderia trazer mais garantias, agora com o amparo legal.

Dessa forma, o caminho para a profissionalização parecia estar aberto. O futebol no Brasil crescia em popularidade. A cada grande jogo de futebol, os estádios pareciam menores. É possível observar o rico universo futebolístico que marcava a vida de muitas pessoas, numa cidade que inchava a cada dia. A vida de 20 ou 30 mil pessoas, por algumas horas, estava dentro de um campo de futebol. O aumento da popularidade do futebol pode ser percebido pelos reclamos, principalmente vindos dos cronistas esportivos de São Paulo, de que os estádios da cidade não eram mais capazes de receber todos os que queriam assistir aos jogos. Nessa época, final dos anos 1920, o maior estádio era o Parque Antártica, com capacidade para receber 30 mil pessoas, com improvisações e desconforto. Esses cronistas pediam que a municipalidade providenciasse a construção de um novo estádio, grande o suficiente para abrigar o número bem maior de torcedores. Vale lembrar que esse novo estádio, apesar de muito prometido pelo poder público, só começou a ser construído em 1936, terminado em 1940. Trata-se do estádio municipal do Pacaembu, hoje, para a tristeza de uma legião de torcedores, está destruído.

Pacaembu
Panorama da fachada do Estádio do Pacaembu. Foto: Werner Haberkorn/Wikimedia Commons (Domínio público).

Dessa forma, ao final dos anos 1920, a paixão crescente pelo futebol trazia reflexos na sua organização. A prática do semiprofissionalismo tendia a crescer, pois os torcedores mostravam-se sempre mais exigentes. A vitória tornara-se mais do que importante. Cabia ao clube, pouco importando a maneira, montar a melhor equipe possível. Para isso, era preciso pagar bem esses atletas.

Um breve parêntese: nesse contexto de aumento do gosto pelo futebol vale ressaltar o papel fundamental exercido pelo aparecimento do rádio. Graças a ele, começaram as transmissões esportivas, ampliando o número de pessoas que podiam acompanhar as partidas. Surgem, no mesmo rádio, os primeiros programas esportivos, de comentários e informações, durante todo o decorrer da semana, ou seja, os jogos eram repercutidos intensamente. É também graças ao rádio que surgem dois grandes ídolos populares no país: o músico de canção popular e o jogador de futebol.

Assim, a oficialização do profissionalismo parecia, ao início da década de 1930, uma mera questão de tempo. Os caminhos do esporte mais popular do país, juntamente com alguns eventos daquela época, levaram ao fim da prática oficial do futebol amador no país. Para a maior parte dos que escreveram sobre o futebol, sejam cronistas esportivos ou pesquisadores em geral, a profissionalização de 1933, foi o grande marco do futebol brasileiro. Para Robert Levine, no artigo Esporte e sociedade: o caso do futebol brasileiro, presente na clássica obra organizada pelos historiadores José Carlos Sebe Bom Meihy e José Sebastião Witter, Futebol e Cultura – coletânea de estudos,

“A ameaça mais poderosa para os amadores hesitantes veio no fim dos anos vinte, quando os clubes europeus, agora plenamente profissionais, começaram a buscar talentos nos times latino-americanos, liderados pelos clubes italianos exortados por Mussolini a contribuir para o novo império romano. Desde que os italianos só aceitavam jogadores de origem italiana, a maioria das primeiras defecções foram da Argentina e do Uruguai, onde existia uma fonte maior de tais jogadores. Mas o encanto de contratos prometidos mostrou-se atrativo para os brasileiros também: como resultado, Demóstenes Magalhães, tornou-se (de acordo com o seu novo passaporte italiano) D. Bertini, e Benedito de Oliveira Marques virou Benedicto Zacconi, emprestando sobrenome do seu sogro. Atingidas pelas defecções, as federações de futebol do Uruguai e da Argentina aceitaram o profissionalismo, deixando que os seus clubes pagassem salários aos atletas, e assim acrescentavam mais uma atração para o talento brasileiro.”

Ou seja, o futebol brasileiro, preso a um semiamadorismo, tornou-se suscetível de perder seus grandes jogadores para outros países. De fato, quando a Itália fascista começou a buscar jogadores no Brasil, principalmente em São Paulo, por causa do grande número de descendentes de italianos — que ficaram conhecidos como os oriundi —, muito clubes tradicionais viveram dificuldades sérias. No ano anterior a oficialização do profissionalismo, 1932, o Corinthians Paulista perdeu considerável parcela do seu elenco, parte com destino à Itália, parte seguindo para o futebol carioca. O esfacelamento do time foi inevitável. Em 1933, com o time em remendos, foi derrotado pelo arqui-inimigo Palestra Itália, por 8 a 0. A torcida, enfurecida, destruiu parte da sede do clube, revolta que gerou a destituição da diretoria. Chico Mendes, importante torcedor do Corinthians, em depoimento memorial, lembra dessa partida:

“Sócio do Corinthians desde 1933. Foi quando, infelizmente caiu o Schurig, que foi J. B. Maurício que o substituiu, porque eu já tinha entrado com a proposta e houve uma confusão lá por causa da derrota do Corinthians frente ao Palmeiras, uma derrota de 8, infelizmente…Eu assisti esse jogo no Parque Antártica, e o Corinthians foi desfalcado, nós perdemos, tivemos a infelicidade, aí derrubaram o Schurig, inclusive na cidade houve muitas manifestações, e assumiu J. B. Maurício. A minha carteirinha está assinada por J. B. Maurício (…)”

Assim, por uma questão de sobrevivência dos clubes, como do futebol em si, o caminho da profissionalização deveria ser seguido. Porém, com muitas resistências dos setores amadorísticos, que continuavam fortes. E mesmo internamente, como não havia uma legislação regulamentando a atividade dos jogadores de futebol, muitas vezes também os clubes poderiam sofrer algum dano — ainda que seja necessário ressaltar que os danos mais graves e, muitas vezes, irreversíveis, sempre estiveram do lado dos atletas.

E mesmo com o profissionalismo legalizado, os clubes de São Paulo e Rio de Janeiro continuaram a ter brigas por causa de atletas transferidos. Esses litígios deviam-se ao fato de que não havia apenas uma entidade nacional — como também, em alguns casos, não havia apenas uma regional — organizando o futebol, como os outros esportes. Isto gerava uma confusão, facilitando inúmeros desencontros entre clubes. Em meados dos anos 30, por exemplo, o São Paulo Futebol Clube inicia uma longa discussão legal com o Flamengo carioca por causa do goleiro paranaense King; o Corinthians, na mesma época, trava uma briga jurídica com o Vasco da Gama, por causa da transferência do zagueiro Jaú.

Dessa forma, a opção pelo profissionalismo deve ser compreendida a partir de várias vertentes. Não resta dúvida quanto à importância vital de legalizar uma situação de fato. Tinha-se jogadores desamparados, além de clubes sempre ameaçados por outros. Perder um grande jogador trazia um prejuízo que ia além da questão financeira (ainda que essa fosse preponderante). Perder atletas importantes encaminhava os clubes para a decadência esportiva. E dentro do futebol, marcado e balizado pela paixão do torcedor, as vitórias, os bons resultados, continuavam imprescindíveis.

O futebol dos grandes clubes vivia, no início dos anos 1930, uma crise. Nessa época, por várias razões, o público e as rendas das partidas estavam em declínio. Para os defensores do amadorismo, esse era o melhor sintoma de que os torcedores não aceitavam o profissionalismo. Ou seja, aquela situação de amadorismo marrom desagradava os apreciadores do futebol, fazendo com que deixassem de frequentar os estádios esportivos. Já os profissionalistas analisavam de forma diversa: sem o profissionalismo, os melhores jogadores acabavam saindo dos seus clubes, quando não do país, levando os clubes ao declínio técnico, diminuindo a paixão do torcedor.

O ex-jogador de futebol Floriano Peixoto Corrêa, que atuou nos anos 1920 e 1930, vivenciou esse processo de passagem do futebol amador para o profissional. Para ele, a profissionalização de 1933 representava o início de uma revolução no futebol brasileiro, conforme escreve na sua obra Grandezas e Misérias do Nosso Futebol também em 1933:

“A vontade irresistível da maioria de nossos jogadores de futebol de se fazer remunerar por seus serviços prestados aos respectivos clubes no trabalho árduo da pelota, a dignidade de certos diretores, resolvidos a exterminar com uma situação de velhacaria e de desconfiança, miséria moral e física entre jogadores e as associações; a grande aspiração da imprensa de esportiva do país, independente, de colaborar no advento do regime humano, generoso e honesto do profissionalismo regulamentado; em suma, essa vontade coletiva de todas as forças poderosas do nosso soccer, arrasou, afinal, as barreiras da hipocrisia, da fraude, do suborno e da imoralidade do falso amadorismo, implantando por cima deste, de uma vez e para sempre, o grande marco simbólico da revolução futebolística.”

Após muitas discussões, nas quais estava em jogo muito mais do que a passagem do futebol brasileiro para a ordem profissional — existia a questão de quais grupos, entre São Paulo e Rio de Janeiro, iriam ter a direção do futebol do Brasil em suas mãos —, no início de 1933, um grupo de clubes em São Paulo e no Rio de Janeiro aderiu ao profissionalismo. Neste mesmo ano, ao seu final, Minas Gerais e o Paraná também adotariam o profissionalismo.

Entretanto, a instituição do profissionalismo não modificou substancialmente as condições de vida e de trabalho dos jogadores de futebol. Sobre essa questão, é esclarecedor o que narra, em depoimento memorial, o ex-jogador de futebol Oberdan Cattani, que foi goleiro do Palestra Itália (a partir de janeiro de 1942, Palestra de São Paulo e, no mesmo ano, desde de agosto, Sociedade Esportiva Palmeiras) do início da década de 40 à metade da década seguinte:

“Eu quando vim para o Palestra cheguei ganhando 350 mil-réis. Morava em Santo André com meu mano e pagava uma pensão de 150 mil-réis. Sobrava 200 mil-réis e o bicho era de 50 mil-réis. Se empatava era 25 no 2º (quadro) e no 1º (quadro) era 100 mil-réis e se empatava era 50 mil-réis. Dava para a gente viver, porque o dinheiro tinha valor. Joguei em 40, 41 e 42 só pelo ordenado. Em 41, quando eu passei a ser titular do Palestra Itália, me aumentaram para 600 mil-réis. Aí a turma começou a falar: nós ganhamos 800 e você ganha 600? Me subiram para 800. Fui campeão brasileiro em 41 e 42 e campeão paulista em 42. Quando acabou o meu contrato e eu fui reformá-lo. Pedi 35 contos. Aí meu Deus do céu, quase me mandaram de volta para Sorocaba. Me chamaram de louco. Você está louco? Como louco? Eu tinha uma oferta de 80 contos, um outro time me ofereceu 80 contos. Eu não vou dar o nome do clube porque é chato. Eu falei: tem um clube que me dá 80 contos, então me dá o passe que eu vou embora, brincando com eles porque eu jamais sairia. Para encurtar a conversa: me ofereceram 30. Bom, dá os 30 mesmo…Não é quem nem hoje que existe advogado, procurador, para defender os interesses dos jogadores. E para receber esse dinheiro, dividiram 24 contos em 24 meses. Mas o ordenado era de 800. Quer dizer…eu levei um ano e meio para receber 6 contos. Eu recebia 200 aqui, 300 mais tarde, e deu para viver”.

Oberdan Cattani, jogador titular do seu time por mais de uma década, além de defender as seleções paulista e brasileira, lembra de outras problemas em relação aos aspectos financeiros que marcam a vida de um jogador profissional:

“Deixei de ganhar dinheiro, porque quando teve o sul-americano no Chile eu tinha 500 contos para ir para lá, eu disputei com um dos maiores goleiros sul-americanos da época que foi o Maspi; quando o Palmeiras foi para o México tive uma boa proposta, mas o Presidente do clube disse: o Oberdan é filho da casa e vai morrer lá. E foi o mesmo que achou que eu não tinha mais condições e me deu o passe para ir embora. Então, aquele amor que temos pelo clube desde garoto, às vezes não é bom, isso prejudicou muitos jogadores. Devemos aproveitar, a fase de jogador é pequena. Nós temos um exemplo no Palmeiras, que é o Aquilles. Ele defendeu o clube com amor, com carinho, quebrou a perna três vezes e ninguém olha por ele. O clube deveria dar um ordenado para ele por mês. Não dá. …Então eu falo para o jogador: aproveite, porque a hora que acabar o seu futebol, ninguém vai olhar por você. Ele jogou de 49 até 53. Quebrou três vezes a perna, defendendo as cores do Palmeiras e ninguém olha por ele. Nós companheiros, nós veteranos, de vez em quando, fazemos umas coisinhas por ele porque foi um jogador excelente dentro do clube, bom companheiro, não teve a sorte de jogar futebol, porque ele poderia até estar numa seleção paulista e brasileira.”

Oberdan Cattani
Busto de Oberdan Cattani no complexo esportivo Allianz Parque. Fonte: Wikipédia

Oberdan Cattani mostra como a diretoria de um clube sabia se utilizar de argumentos eficazes para convencer um atleta a continuar atuando pelo clube. No caso especifico dessa narrativa, os negociadores do clube sabiam que ele era torcedor mesmo antes de torna-se um atleta profissional do clube. Além disso, existiam outras práticas do clube para segurar um jogador, fazendo com que este assinasse um contrato pelas bases propostas pela própria instituição. Entre essas práticas, uma era muito comum: durante as negociações, o clube “plantava” na imprensa que tal jogador estava pedindo uma certa quantia, o que era muito mais do que efetivamente o jogador pediu. Dessa forma, o jogador acabava sendo severamente criticado pela mesma imprensa e cobrado pelos torcedores. Como o jogador não tinha o mesmo espaço para se defender, terminava por assinar um contrato segundo as propostas do clube. E isso quando não assinava um contrato em branco, mal sabendo exatamente quanto iria receber.

De certa maneira, essas confusões tinham muita relação com o fato de o futebol ainda viver um momento de transição (amadorismo-profissionalismo), no qual ainda existiam setores da imprensa esportiva e do meio esportivo que resistiam em aceitar o profissionalismo no futebol. Ao mesmo tempo, era difícil para esse mesmo setor da imprensa esportiva entender o caráter de um jogador de futebol profissional, ou seja, ele deveria ser entendido como um esportista, um trabalhador ou um artista. E mesmo para os torcedores e outros personagens ligados ao futebol, não era tarefa tranquila definir o que era um jogador de futebol.

Para cronistas esportivos, como do jornal O Estado de S. Paulo, o profissionalismo no futebol, como em qualquer outro esporte, deveria ser motivo de condenação. Isto porque o tradicional periódico de São Paulo partia do princípio de que o futebol é um esporte, e que os esportes devem ter uma função eminentemente educativa; assim, num futebol profissionalizado, jamais poderia existir qualquer espaço para a ação educativa.

Assim, entendia-se que, com a presença do profissionalismo, os jogadores de futebol passaram a procurar clubes que estivessem dispostos a pagar mais por seus préstimos. Censurava-se os jogadores por não hesitarem em trocar de time, mesmo que anualmente. Da mesma forma, entendia-se que o futebol era um esporte coletivo, que dependia mais da força do conjunto do que da mera soma de jogadores de qualidade; e com os clubes trocando seus jogadores com constância, não cultivavam a essência da força de um esporte coletivo, que era o caso do futebol. Neste contexto, as críticas aos jogadores são grandes. Estes são vistos de várias maneiras, conforme o momento e a situação dada; mas, os jogadores profissionais, não seriam mais considerados esportistas.

Inclusive, outros aspectos sobre os jogadores profissionais eram discutidos. Thomaz Mazzoni, por exemplo, escreveu uma crônica (Automóvel, ruína dos “cracks”… no Rio, A Gazeta, 21/06/1945), analisando o significado de o jogador de futebol ter ou não um automóvel. Segundo esse cronista esportivo, possuir um automóvel no Rio de Janeiro teria um significado muito diferente do que o possuir em São Paulo. Afirma Mazzoni: “No Rio, é maléfico o automóvel e aqui resulta até benefício, porque lá serve para passeios e farras dos ‘cracks’ e entre nós se presta até como meio do ‘crack’ melhor ‘cavar’ a vida fora do futebol.”. Também O Estado de São Paulo (O jogo com os uruguaios e a crise do futebol brasileiro, 21/03/1940) tecia julgamentos ao comportamento dos jogadores: “A maioria dos jogadores que atuaram nos jogos em disputa da taça ‘Roca’ já estaria eliminada de qualquer outro meio onde existisse organização esportiva. Já não é segredo o péssimo comportamento de vários futebolistas. A conduta dos jogadores de futebol não é nada recomendável. É comum ver futebolistas dos mais famosos às voltas com a polícia, por crimes que denotam relaxamento de costumes e falta de civismo”.

Nessa questão, na qual o jogador que fazia a opção pelo profissionalismo, um pequeno debate acabou sendo travado entre o cronista do O Estado de S. Paulo e um leitor que preferiu manter o anonimato. Na avaliação do cronista esportivo essa carta era de um dirigente esportista, vinculado ao profissionalismo, que se utilizava do anonimato com o intuito de transparecer uma opinião isenta. Após “desmascarar” o missivista anônimo, o cronista partiu para desmontar os argumentos do missivista. Em um excerto dessa crônica (Fatores Econômicos, O Estado de S. Paulo, 12/04/1936), lemos:

“Um desses anônimos glosou o artigo que escrevemos sobre o amadorismo e o profissionalismo na Grã-Bretanha. Discordou das nossas conclusões, como estava no seu direito. E foi expondo o que pensava: ‘O amadorismo puro, apregoado por essa folha, não está conforme a época em que vivemos. Em São Paulo e Rio de Janeiro, a mocidade luta com sérias dificuldades para se manter. Já temos o desemprego. Que mal haverá em que um rapaz forte aproveite as suas qualidades atléticas, recebendo uma remuneração? Com esta, assegurará a sua subsistência, podendo ainda, nas horas vagas, dedicar-se a lucubrações mais altas.’ … Somos, isso sim, contra o ‘abuso’ do profissionalismo. Somos, por exemplo – convém repetir – contra a supremacia dos profissionais sobre os amadores…

Fique ciente o nosso amável leitor … nas nações onde a luta pela vida é mais intensa do que em nossa pátria — nações gastas e agitadas por tantos problemas — é onde mais floresce o idealismo esportivo. Citemos somente dois: a França e a Alemanha. Coube aquela fazer ressurgir, em nossos dias, as olimpíadas gregas, em que se exibiam os atletas limpos de alma e corpo; na Alemanha, antes do advento do nazismo, a sua poderosa organização esportiva amadora se compunha de 18 milhões de jovens.”

A argumentação do missivista anônimo, independentemente de suas reais intenções na defesa do profissionalismo, não podia ser desprezada. Efetivamente, o futebol profissional (oficial ou não) acabou se tornando um espaço no qual jovens oriundos das classes populares poderiam sobreviver e, em alguns poucos casos, até construir uma certa independência financeira, sem terem de enfrentar o fatigante trabalho dentro de uma fábrica. Daí o tornar-se atleta profissional detinha uma significação muito mais ampla, que talvez não preocupasse o cronista esportivo de O Estado de S. Paulo e, principalmente, seus leitores.

E foi em função da ideia que se construía acerca dos jogadores que procuravam o futebol enquanto um meio de sobrevivência material, que várias notas são publicadas nesse periódico paulistano, que terminam por reforçar a concepção do atleta profissional como um elemento mercenário, isto quando não era considerado um “traidor da pátria”. Note-se esta pequena entrevista feita com Feitiço (Declarações de Feitiço, O Estado de S. Paulo, 12/04/1936), um importante jogador da época de transição para o futebol profissional:

“— Vou saltar no Rio e embarcarei hoje mesmo para São Paulo, onde permanecerei durante cinco dias em companhia de minha família. Espero estar no Rio dentro de uma semana no máximo.

E conclui:

— Ainda não sei qual será o meu clube no Rio de Janeiro. Jogarei para aquele que me der maior vantagem.”

Feitiço estava atuando no futebol do Uruguai, o qual foi profissionalizado mais cedo, atraindo um grande número de brasileiros. A declaração do atleta brasileiro deve ter sido motivo de inúmeras críticas, quando não de indignação e incredulidade. Feitiço, tendo clareza da sua condição de futebolista profissional, procurava um clube que lhe fizesse a melhor proposta financeira. Mas, apesar da realidade do profissionalismo, ainda exigia-se do jogador “amor à camisa”; do que, de fato, era anacrônico, mas que contribuiu para que muitos jogadores fossem crucificados por seus clubes, torcedores e imprensa esportiva.

Feitiço
Luiz Mattoso (Feitiço), em 1936, com a camisa do Santos FC. Fonte: Wikipédia

Já em um artigo que discutia a ocorrência de um resultado inesperado de uma partida de futebol (A propósito de um resultado, O Estado de S. Paulo, 02/04/1936), encontramos algumas explicações acerca do baixo nivelamento técnico que, aparentemente, marcava o futebol daquela época. Num trecho desse artigo, encontramos a seguinte observação: “um jogador que surja (o que é raríssimo) já fala em contratos, em luvas, em propinas, em transferências.”.

É significativa a observação acerca do suposto mercantilismo que fazia os jovens procurarem o futebol. Mais uma vez, os jornalistas do O Estado de S. Paulo não se apercebiam de uma realidade forte: o futebol há muito tempo deixara de ser um simples esporte; inúmeros jovens dos setores populares o procuravam no intuito de fugir ao trabalho mal remunerado e massacrante das fábricas, na esperança de ganhar dinheiro, além de uma outra questão importante: lutavam para tornarem-se famosos; e, para eles, não havia outra atividade senão o futebol.

Assim, o modo pelo qual os jogadores eram vistos no recente regime profissional demonstra que essa nova ordem não trouxe, como consequência imediata, o fim das longas polêmicas que atravessavam o futebol do Brasil, que já duravam pelo menos uma década. Assim, o embate profissionalismo versus amadorismo continuou, ainda por alguns anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Plinio Labriola Negreiros

Professor de HistóriaEstudo a História do Corinthians Paulista e do Futebol

Como citar

NEGREIROS, Plínio Labriola. Amadores versus profissionais na década de 1930 – parte I. Ludopédio, São Paulo, v. 158, n. 20, 2022.
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